As condições do crédito continuam piorando para os consumidores de acordo com dados do Banco Central (BC). Em fevereiro, os juros cobrados no cartão de crédito atingiram 447,5% ao ano - alta de oito pontos percentuais (p.p.) em relação a janeiro e de 16,1 p.p. neste ano. É a maior taxa desde 2011, quando começou a série do BC. Quem ficou pendurado no cheque especial pagou no mês passado uma taxa de 293,9% ao ano - o mesmo patamar para o período desde 1994. No empréstimo pessoal (sem desconto em folha), os juros atingiram 122,8%, ao ano em fevereiro (aumento de 4,3 p.p.).
De acordo com o relatório do BC, os juros médios cobrados dos consumidores em fevereiro alcançaram 39,9 % ao ano - aumento de 0,7 p.p. na comparação com o mês anterior. Do lado das empresas, os juros caíram levemente em 0,1 p.p. no mês passado, para 22,7% ao ano. O índice de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) ficou estável em 4,5%. Já o ganho dos bancos com os spreads (diferença entre o custo de captação e o valor cobrado dos tomadores na ponta), atingiu 20,8% - alta de 1 p.p.
Os dados mostram ainda que o volume total de crédito em circulação na economia atingiu R$ 3,184 trilhões no mês passado, queda de 05 p.p. na comparação com janeiro. No ano, o recuo é de 1,1 p.p.. Diante do cenário, o BC revisou para baixo as projeções para a expansão dos empréstimos em 2016: a estimativa foi reduzida de 7% para 5% - o equivalente a 54% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2015, a alta foi de 6,6% (54,5% do PIB). Para o BC, os financiamentos concedidos pelos bancos privados cairão de 2% para 1% e o caso das instituições públicas, a previsão para o crescimento do crédito caiu de 9% para 8%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, explicou que os dados do primeiro bimestre do ano reforçam a tendência de desaceleração do crédito para as famílias e empresas - resultado da recessão econômica e da piora nas condições de financiamento, como juros e spreads mais altos. Ele disse ainda que os bancos estão mais rigorosos, as famílias mais cautelosas em assumir dívidas e as empresas, com menor apetite por novos financiamentos. "A gente observa uma seletividade maior por parte dos bancos e por parte das famílias também há uma preocupação com a gestão financeira, uma cautela com a tomada de novos empréstimos, tanto que o crédito evoluiu moderadamente", disse Maciel.
Ele destacou a queda acentuada nos financiamentos de veículos de 1,6% no primeiro bimestre deste ano e de 13,5% em 12 meses. As operações à vista com cartão de crédito também tiveram uma redução de 3,4% em fevereiro. O crédito imobiliário continua crescendo, mas em um ritmo bem menor, de apenas 1,1% em janeiro e fevereiro. Em 2015, a alta foi de 13,5% e em 2010, de 55%. A redução na concessão dos empréstimos da casa própria, segundo Maciel, também está associada ao aumento das taxas de juros nessa modalidade. Na segunda-feira, dia 28, a Caixa Econômica Federal, líder no segmento, elevou os juros dos financiamentos habitacionais.
Financiamento do Bndes para empresas caiu 1% no mês passado
Maior empréstimo foi para prestadora de serviços de Araçatuba
DANILO UCHA/JN/ARQUIVO/JC
O relatório do BC mostrou queda nas concessões às empresas pelo Bndes - o reduz os investimentos da economia - reflexo também da alta na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e queda na atividade. O saldo dos financiamentos da instituição caiu 1% no primeiro bimestre deste ano, somando um total de R$ 626,748 bilhões. Em 12 meses, ainda há uma expansão de 4,6%.
Em fevereiro, houve recuo de 2,7% nas linhas de capital de giro (R$ 13,931 bilhões), queda de 1,0% no financiamento ao investimento (R$ 599,602 bilhões) e uma alta de 1,3% nas modalidades para o setor rural (R$ 13,215 bilhões) por parte do banco de desenvolvimento.
Para pessoas físicas, o crédito do Bndes avançou 1,2% em janeiro, para R$ 47,396 bilhões. A alta em 12 meses está em 6,2%. No caso das concessões do banco, a elevação das taxas de juros e o nível de atividade levaram a um recuo nos dados. Em fevereiro ante janeiro, as concessões caíram 21,7%, chegando a 4,614 bilhões. No bimestre, a queda é de 33,3% e em 12 meses, de 23,8%. "As taxas de juros do Bndes se elevaram consideravelmente desde 2013", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Também houve redução nos empréstimos às empresas, com recursos aplicados livremente pelos bancos: o saldo da linha de desconto de duplicatas caiu 20,5% no primeiro bimestre do ano e de capital de giro, 3%. Apesar da estabilidade no índice geral de inadimplência, os atrasos no financiamento de capital de giro com prazo inferior a 365 anos subiram 1,9 p.p. em 12 meses, o que mostra maior dificuldade de pequenas e médias empresas em honrarem seus compromissos.
Endividamento das famílias com bancos fica em 44,6% em janeiro
O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro passou de 45,2% em novembro para 44,3% em dezembro e para 44,6% em janeiro, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). A instituição começou a fazer o levantamento em janeiro de 2005 e o retrato sobre o nível de dívidas brasileiras passou a ser incorporada na Nota de Crédito pelo BC em agosto de 2015. Os dados de endividamento de dezembro do ano passado e de janeiro deste ano foram divulgados apenas nesta terça-feira, quando foi distribuída a Nota de Crédito de fevereiro.
O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses e incorpora os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (PNAD) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE. Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento apresentou uma baixa em dezembro, ficando em 25,6% da renda anual. Em novembro, estava em 26,3%. Em janeiro, no entanto, apresentou uma leve elevação para 25,8%.
Ainda segundo o BC, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) caiu um pouco de novembro (21,8%) para dezembro (20,9%). Em janeiro, ficou em 21,8%. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda passou de 19,3% em novembro para 18,5% em dezembro e 19,4% em janeiro.