Uma questão que está sendo tratada dentro da Câmara de Comércio Exterior (Camex) impacta diretamente companhias (Lanxess e Synthos) que pretendem desenvolver projetos ligados ao segmento de borracha sintética no polo petroquímico de Triunfo. A expectativa é que, na próxima semana, seja analisada uma ação quanto à possível prática de dumping nesse setor.
A Lanxess, que já possui produção de borracha sintética no Brasil (uma das plantas está no Estado), protocolou no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) pedido de investigação de dumping contra produtores de borracha sintética que exportam para o Brasil. Considera-se dumping a comercialização no mercado nacional de um produto com preço abaixo do verificado no país de origem do artigo, causando danos à indústria local.
Zbigniew Warmuz, diretor da Synthos, quando visitou o Rio Grande do Sul no ano passado, admitiu que o assunto refletia nos planos do grupo polonês. A empresa quer instalar uma fábrica de produção de borracha sintética (polibutadieno), com capacidade para 80 mil a 90 mil toneladas ao ano, no polo petroquímico gaúcho. O investimento previsto para o empreendimento é na ordem de R$ 640 milhões. Contudo, além de ter ainda que fechar um contrato de fornecimento de matéria-prima (butadieno), Warmuz adiantou que, antes da estrutura ficar pronta, a Synthos pretende formar um mercado através da importação de borracha. Depois, essas importações seriam substituídas pela produção local. Mas, a ideia terá dificuldades para ser materializada se forem tomadas medidas antidumping.
Se ações antidumping podem ser ruins para as intenções do grupo polonês, caso não sejam impostas proteções quanto à borracha que vem de fora, a Lanxess pode rever a atualização tecnológica da sua planta em Triunfo. Recentemente, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) concedeu Licença de Instalação, válida até junho de 2017, para a modernização da unidade de produção de borracha da empresa.
A Lanxess desenvolve um estudo de viabilidade para aplicar um design flexível a sua planta de borracha de estireno-butadieno em emulsão (ESBR). A unidade será voltada para a fabricação de borracha de polibutadieno para suprir as indústrias brasileira e latino-americana de pneus de alta performance. Porém, através de nota, a companhia afirma que "cabe ressaltar que devido à recente decisão da Camex em suspender as medidas antidumping contra os produtores europeus de borracha sintética, a Lanxess, como produtora nacional, está analisando o impacto da medida sobre seus projetos estratégicos". O comunicado continua: "a prática de dumping é condenada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e, no caso das importações de borracha ESBR da Europa, o Mdic - detectou margens de dumping de até 36%".
Companhia anunciou mudança tecnológica em 2013, mas investimento ainda não foi concluído
DIRETOR DA MAXIQUIM, OTÁVIO CARVALHO. MATÉRIA SOBRE TECNOLOGIA NO SETOR PETROQUÍMICO.
ANA PAULA APRATO/ARQUIVO/JC
Apesar de não ter sido concretizada ainda, a meta de modernizar o complexo da Lanxess foi revelada pela empresa em março de 2013. Na época, o investimento na troca da tecnologia era estimado em ¤ 80 milhões. Inicialmente, a perspectiva era que as modificações fossem finalizadas em 2014.
No entanto, posteriormente, a previsão da conclusão ficou para 2016. A decisão foi justificada como uma adaptação ao cenário do mercado (a companhia esperava pela imposição de exigências governamentais quanto à qualidade dos pneus brasileiros). Como a Lanxess produzirá material usado na fabricação de pneus de maior valor agregado, a iniciativa beneficiaria a empresa. Entretanto, já na ocasião, a concorrência com os artigos importados era apontada como outro problema a ser enfrentado.
Com exceção da nota enviada pela Lanxess, as empresas não estão comentando o debate em torno do suposto dumping. O procurador da Synthos no Brasil, Maurênio Stortti, afirma que somente os dirigentes do grupo que ficam na Polônia podem fazer qualquer pronunciamento sobre o assunto. Uma fonte que acompanha a questão reitera que a modificação na planta da Lanxess em Triunfo visa produzir um tipo de borracha que tem sido importada pelo Brasil. "Assim, a dúvida da empresa é justamente se o investimento na modernização será viabilizado se comparado com o custo da importação dessa borracha", diz a fonte.
O diretor da consultoria Maxi Quim Otávio Carvalho acrescenta que, normalmente, um empreendedor petroquímico almeja vender a maior parte da sua produção no mercado doméstico. "Com uma medida antidumping retirada, muda-se o panorama e faz todo o sentido rediscutir os números para ver se a atratividade do projeto está mantida", frisa. Carvalho opina que o fornecimento de matéria-prima, no caso o butadieno, é fundamental para atrair investimentos no segmento de borracha. Quanto a esse quesito, o Estado estaria bem servido. "A planta de Triunfo (da Braskem) é uma das poucas oportunidades de oferta de butadieno no mundo", diz Carvalho.
Em 2012, a Braskem inaugurou uma planta de butadieno com capacidade para 103 mil toneladas anuais. O aporte na unidade foi de R$ 300 milhões. A empresa já possuía outra fábrica no polo gaúcho com capacidade para 106 mil toneladas anuais. Grande parte do butadieno da Braskem é exportada, mas o objetivo é que, havendo demanda, a produção comece a ser deslocada para o mercado interno.