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- Publicada em 05 de Fevereiro de 2016 às 17:57

Gastos com logística avançaram 30% no ano passado

 FOTOS DE CAMINHÕES TRANSPORTANDO SOJA.     FOTOS PARA A CAPA DO LOJÍSTICA DE CAMINHÕES TRAFEGANDO NA BR-386.

FOTOS DE CAMINHÕES TRANSPORTANDO SOJA. FOTOS PARA A CAPA DO LOJÍSTICA DE CAMINHÕES TRAFEGANDO NA BR-386.


MARCELO G. RIBEIRO/JC
O cenário de recessão, com baixo investimento e queda no consumo, ajudou a potencializar os gastos do setor produtivo com logística. No ano passado, quase 12% da receita das empresas foi consumida com despesas de transportes e armazenagem, segundo levantamento feito pela Fundação Dom Cabral, com 142 empresas de 22 segmentos industriais. Em 2012, esse percentual estava na casa de 10,54%, e em 2014, em 11,5%.
O cenário de recessão, com baixo investimento e queda no consumo, ajudou a potencializar os gastos do setor produtivo com logística. No ano passado, quase 12% da receita das empresas foi consumida com despesas de transportes e armazenagem, segundo levantamento feito pela Fundação Dom Cabral, com 142 empresas de 22 segmentos industriais. Em 2012, esse percentual estava na casa de 10,54%, e em 2014, em 11,5%.
Na média, os custos do ano passado tiveram um avanço real (descontada a inflação) de 1,8% comparado ao do ano anterior. Em alguns setores, no entanto, o aumento das despesas com logística foi mais perverso e corroeu de forma expressiva o ganho das companhias.
No setor metalmecânico, osgastos cresceram 60% (de 5% para 8,01%); mineração, 58% (de 8,5% para 13,43%); farmacêutico e cosméticos, 56% (de 5% para 7,79%); e papel e celulose, 48% (de 13% para 19,25%).
"Houve uma combinação muito desfavorável para as empresas em 2015: as receitas caíram, e os custos logísticos continuaram a subir", diz o professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende, um dos coordenadores do levantamento. Segundo ele, os gastos com logística subiram mais entre as empresas com faturamento entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. Para esse grupo de companhias, os custos avançaram 30%.
Resende destaca que entre os fatores que mais influenciaram na evolução dos gastos com logística estão o aumento da burocracia, restrição para distribuição nas regiões metropolitanas, custo com mão de obra especializada, aumento dos preços dos combustíveis e falta de infraestrutura de apoio nas estradas, que tem um peso forte nas despesas logísticas.
Entre as empresas pesquisadas pela Fundação Dom Cabral, 80% afirmaram que usavam, predominantemente, o transporte rodoviário para movimentar suas cargas, sejam de produtos acabados ou de matéria-prima.

Mais da metade das estradas apresenta más condições

Com o ajuste fiscal do governo federal, os investimentos em infraestrutura rodoviária despencaram. O orçamento caiu de R$ 22 bilhões para R$ 15 bilhões. E apenas 15% desse montante foi pago, segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Resultado: 57% das estradas pavimentadas continuam em condições ruins e elevando os gastos das empresas.
"A cada ano, nossa infraestrutura fica mais deficitária, e nosso custo logístico piora", diz o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz.
Segundo ele, o Brasil precisaria investir, ao menos, duas vezes mais do que o volume atual só para manter a infraestrutura. "Isso sem contar o que seria necessário para melhorar a qualidade das estradas, portos e ferrovias."
Segundo ele, até 2014, o País gastava US$ 2.224,40 por contêiner exportado, enquanto o custo dos concorrentes foi de US$ 1.058,05 e dos países mais competitivos, como EUA, Cingapura, Japão e Coreia do Sul, de US$ 1.003,37. "A tendência é piorar, pois continuamos sem investir em infraestrutura."
O professor da Dom Cabral concorda. Ele explica que o avanço de 1,8% do custo médio em 2015 só não foi maior, porque alguns setores apresentaram recuo nos gastos. A queda, no entanto, não é uma boa notícia, diz Resende. Ele explica que muitas empresas, ao perceberem redução na receita, cortaram custos e desmobilizaram toda infraestrutura de transporte, fechando armazéns, vendendo frotas de veículos e terceirizando toda a parte de transportes. Com isso, o custo fixo da logística passa a ser uma despesa variável.
Adriano Thiele, diretor executivo de operações da JSL, uma das maiores empresas de logística do País, confirma essa tendência: "Esse movimento tem sido comum nos momentos de dificuldade econômica, em que as empresas precisam aumentar a eficiência". Segundo ele, o grupo, que tem crescido 26% ao ano, vem conquistado novos contratos com empresas que já são clientes. "Sempre começamos com operações pequenas e, aos poucos, vamos assumindo outros serviços. Assim, eu fico com o custo fixo dele."
Para o professor Paulo Resende, num primeiro momento, essa migração pode representar vantagens. Mas, quando a economia reagir, as empresas terão dificuldade para retomar esses ativos, pois perderam capacidade logística. Além disso, com a atividade aquecida, a demanda por serviços de transporte aumenta, e os custos tendem a subir.

Com o frete caro, solução alternativa é rodar menos

A alta dos combustíveis no ano passado exigiu uma ação rápida da empresa norte-americana Amway para não comprometer a competitividade de seus produtos. A empresa é dona de uma fazenda na cidade de Ubajara, no interior do Piauí, que produz acerola. Cerca de 90% da colheita da fruta, transformada em pó, é exportada e usada como matéria-prima para a fabricação de Vitamina C e suplementos alimentares.
A logística tem um peso importante nos custos da companhia, afirma o gerente-geral da Fazenda Nutrilite, João Leone. Ele explica que há duas frentes de logísticas na operação. Uma refere-se às compras da companhia, seja de matéria-prima (acerola de outros produtores) ou de insumos agrícolas. Na outra ponta estão todas as vendas do produto. "Nos dois casos, dependemos muito do transporte rodoviário."
Segundo ele, 100% das exportações saem do Brasil via porto de Pecém, no Ceará. Da fazenda até o navio, o produto percorre cerca de 500 quilômetros de caminhão pelas rodovias da região. "Com o aumento dos combustíveis que no Nordeste custam cerca de 35% mais que em São Paulo e as condições ruins das estradas, o custo logístico da empresa subiu 8,9% no ano passado", diz ele.
Para conter o avanço dos gastos, eles decidiram implementar uma ideia simples, mas que dependia da compreensão dos importadores: a mudança das embalagens. De acordo com o padrão internacional, a exportação dos produtores tinha de ser feita em tambores. Mas, por causa do formato dos tambores, os contêineres não seguiam viagem totalmente cheios. Agora, os produtos começam a ser transportados em caixas. Leone afirma que o objetivo é reduzir em 40% o número de caminhões e em 30% o custo logístico. "Vamos aguardar para ver os resultados."