Bruno Teixeira
Reconhecida como uma das principais vozes da segunda fase da bossa nova, a cantora Wanda Sá celebra seus 50 anos de carreira em show inédito na Capital, hoje, às 20h, no Instituto ling (João Caetano, 440). Os ingressos estão à venda no site
www.institutoling.org.br e na bilheteria do local, no valor de R$ 40,00. No show, Wanda apresenta um misto dos sucessos de sua carreira e do espetáculo que resultou na gravação de seus CD e DVD ao vivo.
A apresentação, realizada em janeiro de 2015, no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, deu início às comemorações das cinco décadas de trajetória artística de Wanda e contou com as participações de alguns de seus grandes parceiros de música, como Carlos Lyra, Marcos Valle, João Donato, além da cantora norte-americana Jane Monheit.
Ela, porém, não dividiu o palco com seu maior companheiro: o músico e produtor Roberto Menescal não pôde comparecer ao show, porém sua presença foi sentida em diversas composições interpretadas pela cantora.
Wanda conheceu Menescal quando tinha 16 anos. Fã de bossa nova, ela acompanhava os shows do músico, que foi um dos criadores do gênero. Aos poucos, aproximou-se do ídolo, que logo se tornou seu professor de violão. Em 1964, Menescal produziu o primeiro álbum de Wanda, Vagamente, e, a partir deste ponto, a relação entre os dois deixou de ser professoral e tornou-se afetiva. "Então nos tornamos grandes amigos, depois parceiros de palco e parceiros de música, pois escrevemos canções um para o outro", revela, e segue: "Ele é a pessoa mais importante da minha vida musical".
Foi por meio de Menescal que Wanda realizou sua primeira visita ao Japão. Na época, de acordo com a cantora, Menescal viajou ao Oriente com o jogador Zico para lançar um selo musical. Ela tocou em uma casa de shows e recebeu novos convites para voltar ao país. Desde então, lançou quatro discos no Japão. "Eles gostam de toda nossa música. Lá, eu ouvi Chico César, participei de festivais com músicos como João Gilberto e Gilberto Gil", conta.
O período nos Estados Unidos também serviu para que Wanda estreitasse relações com outra de suas grandes referências: o maestro Tom Jobim. "Ele estava morando lá, e tivemos um convívio riquíssimo. Foi um privilégio compartilhar da intimidade, da pessoa e do músico que ele foi", relata. E destaca: "Fui a primeira pessoa a gravar as músicas do Tom em inglês. Gravei várias composições dele nos discos que lancei nos Estados Unidos".
No entanto, o presente mais marcante do maestro para Wanda não foi entregue em solo norte-americano. Como já mencionado, na década de 1960, Roberto Menescal produziu Vagamente, primeiro disco da cantora. Entre composições e gravações, Menescal levou a garota, na época com 20 anos de idade, ao apartamento de Jobim. Após conhecer a jovem, o compositor a presenteou com uma de suas músicas inéditas, Inútil paisagem. "Aquilo foi algo de uma confiança estranha que somente uma pessoa muito generosa como ele seria capaz", afirma.
Com a composição em mãos, todos os preparativos para a gravação da música foram tomados. A produção dos arranjos ficou por conta do músico Eumir Deodato e contaria com a participação de uma orquestra. Contudo, no dia da gravação, apenas Wanda, Menescal e o baixista Sérgio Barroso apareceram no estúdio. Dessa forma, Inútil paisagem foi gravada apenas com bases de baixo e guitarra. O resultado agradou e, ao deixarem o local, os artistas descobriram o motivo do imprevisto. "Quando saímos é que vimos o que estava acontecendo com os tanques (do Exército) na rua." A ditadura militar havia sido deflagrada. Frente àquele cenário, o título de sua música fez muito sentido.
Após 50 anos, Wanda se dá o direito de seguir em um ritmo um pouco mais lento, mas sem deixar de celebrar a bossa nova. "Eu estava na hora certa, no lugar certo e tive o privilégio de conhecer pessoas as pessoas certas. O que tenho de mais precioso é isso", afirma, completando: "Se tivesse alcançado um quarto do lugar que estou já ficaria feliz".