Bruno Teixeira
Há uma relação de cumplicidade entre Rodrigo Panassolo e a música. Uma relação que vai além do ofício de cantor, compositor, instrumentista e produtor. Segundo ele, essa conexão começou quando ele tinha apenas seis anos de idade. Após assistir uma apresentação musical, Panassolo disse aos pais que gostaria de aprender a tocar violão. Com o passar dos anos, o instrumento deixou de ser um brinquedo e passou a guiá-lo por novos caminhos. Entre eles, seu primeiro álbum de estúdio, Versos dobrados, lançado no Brasil e no Japão, uma série de vídeos no Youtube, chamados Verdade ou consequência, uma turnê pela Europa e outra pelos Estados Unidos, onde tocou com jazzistas locais.
Agora, a música proporciona outra experiência singular ao artista. Panassolo, que é porto-alegrense, mas radicou-se em São Paulo, volta à Capital para uma apresentação inédita na Quarta cultural, projeto da Fundação Sicredi, onde interpreta canções autorais e clássicos da MPB e do Jazz norte-americano. O evento acontece hoje, às 15h, na Biblioteca Sicredi (Assis Brasil, 3940), com entrada franca.
Acostumado a dividir os palcos com amigos, cantores e instrumentistas, o artista terá como companheiro apenas o violão. “A música para mim sempre teve um significado de troca no palco, tocando com alguém. Agora estou fazendo para quem está ouvindo e quero explorar mais essa troca”, declara. “Aceitei o desafio para mostrar ao público uma coisa mais intimista, como a música que faço em casa quando pego o violão para tocar”.
Foi da cantora Gisele De Santi a provocação para que ele realize uma apresentação nesse formato. Gisele foi sua primeira parceira musical, união que começou há mais de dez anos e há quatro anos resultou no casamento da dupla. O vínculo entre os dois é uma marca frequente em suas obras. Em Arpoar, música do projeto Verdade ou consequência, eles alternam versos de amor, escritos por Gisele, sobre o instrumental composto por Panassolo.
A intensidade da performance reflete bem a proposta do projeto. Verdade ou consequência não se assemelha ao jogo apenas pelo nome. Reunidos em círculo, o vocalista e outros músicos executam as canções como em uma apresentação ao vivo. Os vídeos não têm cortes, portanto só depois que as apresentações começam é que os músicos descobrem o que pode acontecer. “A intenção do Verdade ou consequência foi fazer música de verdade, ao vivo e gravando ao mesmo tempo para ter esse gostinho”, destaca.
O formato agradou tanto o músico, que ele começou a utilizar a formação em círculo em suas apresentações. “Eu sentia falta desse contato visual que foi tão legal nessa gravação, que eu resolvi fazer o show de lançamento lá em São Paulo”, conta ele, que completa: “Fizemos esse show comigo ao fundo do palco, com os músicos formando um semicírculo ao meu redor. Rolou essa interação de se enxergar e uma troca que se converte em música”.
Outro projeto do artista foi o show Chet Baker Sing’s, que celebra o primeiro disco cantado do trompetista norte-americano Chet Baker, morto em 1988. Panassolo e Gisele também percorreram as cidades de Las Vegas, Los Angeles e Nova Iorque, entre os meses de novembro e dezembro de 2014, com a turnê Nossas e bossas. Nesse período, interpretaram canções de Tom Jobim, Chico Buarque de Holanda e Djavan, entre outros. “Os músicos norte-americanos têm um conhecimento impressionante sobre a música brasileira”, afirma. “A experiência de ouvir a nossa música em um lugar fora do Brasil é muito interessante porque vemos que alguns aspectos sobrevivem ao aspecto da linguagem”, destaca.
Em Porto Alegre, o compositor começou sua carreira em 2000, primeiro como baixista e violonista e acompanhando diversos intérpretes e compositores. Em 2007, teve sua primeira canção gravada, Não deixe de sonhar, interpretada pela Chimarruts. Em São Paulo, o músico continuou com suas atividades, mas encontrou um fluxo de intercâmbio cultural, o que enriqueceu suas vivências com a música. “Lá eu faço basicamente as coisas que eu fazia em Porto Alegre, mas tenho contato com muito mais músicos, compositores, produtores e estúdios”.
Embora o cenário musical de São Paulo auxilie na troca de vivências com outros artistas, para o artista, tocar em Porto Alegre tem um significado especial. “Quanto mais tempo ficamos longe, mais valor nós damos", confessa. "Voltar para tocar em Porto Alegre é sempre um prazer”.