O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu à oposição e ao setor privado que apoiem um controverso pacote de medidas do governo para reverter a profunda recessão e o desabastecimento no país. O apelo, feito na noite de terça-feira, foi lançado no mesmo dia em que a Assembleia Nacional unicameral, agora sob domínio de opositores, começou a analisar um decreto de emergência econômica com o qual Maduro pretende atribuir-se poderes especiais para enfrentar a crise.
"Espero que o decreto seja aprovado por unanimidade e que a Assembleia me ajude a navegar por essa tormenta", disse Maduro, durante o evento de inauguração do Conselho Nacional de Economia Produtiva, formado por empresários, políticos, economistas e movimentos sociais. A Assembleia Nacional tem até amanhã para aprovar ou vetar o decreto.
O texto, que também precisa do aval da Corte Suprema (alinhada com o chavismo), pretende instaurar um regime especial de poderes para o presidente por 60 dias. As prerrogativas solicitadas incluem o controle de orçamentos sem supervisão da Assembleia, a possibilidade de intervir em empresas e bens privados e restrições na retirada de dinheiro. Maduro também pediu ajuda aos empresários, a quem disse estar "estendendo a mão para o diálogo."
"Nada une mais o ser humano que o trabalho conjunto", afirmou o presidente. Ele disse que os esforços entre o setor público e o privado estarão concentrados no Conselho Nacional de Economia Produtiva. Embora dominado por aliados do chavismo, o órgão também é integrado por políticos opositores, como o governador do estado de Lara, Henri Falcón, e por grandes empresários.
Maduro afirmou que o objetivo das mudanças propostas é "substituir o modelo rentista pelo modelo produtivo". Ele se referia à histórica dependência do petróleo por parte da Venezuela. Atualmente, de cada US$ 100,00 arrecadados pelo país, US$ 96,00 vêm da exportação petroleira. Em 1999, primeiro dos 17 anos de governo chavista, eram US$ 80,00.
As finanças públicas venezuelanas já combalidas por altos gastos, ineficiência crônica e corrupção entraram em situação crítica com a queda de quase 70% no preço do barril de petróleo desde junho de 2014. Além do desabastecimento, causado em grande parte pelos ataques do governo contra o setor produtivo, os venezuelanos sofrem com queda de 4,5% do PIB e inflação de 109% na taxa oficial.