A Organização Mundial de Saúde (OMS) nos ensina que muitos de nossos jovens, de todos os estratos sociais, morrem por violência álcool-relacionada. Feriadões despertam desejos coloridos, mas seu balanço é um tanto mórbido. O álcool é grande parceiro da foice inexorável. Há poucos dias, Porto Alegre inaugurou a matança das festas deste final de ano. Um jovem estudante de medicina alcoolizado morreu afogado na piscina de uma festa.
Neste Natal e Ano-Novo teremos feriadões, ganharemos presentes, mas teremos perdas, quase todas evitáveis. Nossos jovens, mais uma vez já estão na fila do abate. Ingênuos, muitos não sabem o que lhes espera. Investidos de todos os melhores esforços familiares e sociais, eles porão tudo a perder, imersos, como o acadêmico de medicina, na ignorância funcional endêmica que lhes permite repetir o gesto insano de embriagar-se até engajarem-se no próprio infortúnio. Todos sabemos onde isto começa. Nasce e se nutre nos hábitos e negligências de papai e mamãe. Sim, é uma questão familiar, de educação que se dilui em crenças frágeis de tudo poder. A plenitude inclui a ponderação e a moderação. Alegria desmedida é sim possível, mas sem o álcool que nos traz o corte do infortúnio final. Pior, na esteira da embriaguez, correm céleres às demais drogas e ao sexo desprotegido. A mesma OMS nos informa que cresce o número de infelizes jovens infectados pelo vírus HIV. Ou a coisa se dá em casa, ou simplesmente não se dá. O poder civilizatório da família é ainda negligenciado. Mais ainda, dados do governo federal mostram que a metade dos brasileiros não bebem. Sem beber, pagam a conta e carregam o peso do esquife que leva os jovens ao enterro ou crematório. Cabe a todos nós a insurgência.
Apoiemos a extinção do estímulo covarde das peças publicitárias que impunemente induzem nossos jovens ao delírio de relacionar cervejas a prazer, glamour e felicidade.
Presidente da Associação de Psiquiatria do RS