Em análise da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2014 divulgada nesta quarta-feira (30), o Ipea afirma que a evolução dos dados sociais surpreendeu positivamente no ano passado, quando a economia ficou praticamente estagnada, mas que números como os do mercado de trabalho já antecipavam o "cenário crítico" de 2015. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no ano passado houve uma redução da pobreza extrema no país em todas as medições feitas, processo que foi acompanhado pela redução da desigualdade.
A parcela da população com renda mensal per capita de até R$ 77,00, limite adotado no programa Brasil Sem Miséria do governo para medir a extrema pobreza, ficou em 2,48%, ante 3,53% ano ano anterior e 3,21% em 2012. O índice de Gini, que mede a desigualdade, caiu de 0,525 para 0,515 no mesmo período (quanto menor o número, menor a desigualdade).
Em 2014, o Ipea gerou polêmica ao represar a divulgação da avaliação dos dados do ano anterior que mostraram uma interrupção do processo de redução da miséria no país. Segundo o órgão, a queda foi "estatisticamente insignificante".
"A Pnad 2013 levantou muitas dúvidas e nós precisávamos esperar um segundo ano para ver o que estava acontecendo na sociedade brasileira", afirmou André Calixtre, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea. Segundo ele, os dados levantados pelo IBGE no ano passado mostram que a rede de proteção social montada nos últimos anos deu resiliência à sociedade para enfrentar um cenário conjuntural adverso.
"A força dessa musculatura ainda está para ser avaliada, evidentemente não é uma força ilimitada", acrescentou, ressaltando que a evolução dos indicadores em 2015 só ficará mais clara no ano que vem.
Para o Ipea, os dados do emprego são um dos que mais suscitam preocupação. Os dados da Pnad mostraram um aumento do desemprego (de 6,5% para 6,9%) e da informalidade (de 39,66% para 39,93%) no mercado de trabalho no ano passado. O crescimento do rendimento médio ficou abaixo de 1% (já descontada a inflação) pela primeira vez desde pelo menos 2005, início da série avaliada.
"Isso mostra sinais de estresse no mercado de trabalho anteriores à crise que se iniciaria ao final de 2014 e por todo o ano corrente", afirmou o Ipea no relatório. A Pnad também apontou que, ano passado, houve um aumento no número absoluto de crianças entre 5 e 14 anos trabalhando -de 839,6 mil em 2013 para 897 mil- após uma década de redução.
Para o Ipea, é preciso ainda aguardar para ver se o aumento foi uma flutuação pontual. O instituto também ponderou que, no campo, o aumento foi acompanhado por uma redução das jornadas do trabalho infantil (de 15,5 horas para 14,4 horas).