Sinatra por Bibi Ferreira

"Em espetáculos como esse, o essencial é o repertório", sentencia Bibi Ferreira, que carrega uma trajetória de mais de sete décadas nos palcos - seja dirigindo, atuando ou cantando - aos 93 anos de idade. Depois dos ícones Edith Piaf, Carlos Gardel e Amália Rodrigues, Bibi presta homenagem a Frank Sinatra, em um espetáculo com as grandes músicas do cantor norte-americano. As apresentações acontecem no sábado, às 21h, e no domingo, às 20h, no Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80).

E se o repertório é importante, a diva conta, na entrevista, que todas as canções de Sinatra que ela queria entraram para o setlist. Até mesmo uma que ele - e ela - não gostam: a clássica Strangers in the night. "Descobri, durante a pesquisa para o show, que Sinatra realmente não gostava desta canção. E eu também não. Então ela aparece, mas em formato instrumental", relata Bibi. Há relatos, em livros, de que Sinatra simplesmente considerava a música pobre e realmente a odiava - embora a plateia sempre pedisse por Strangers in the night em suas apresentações.

A ideia do show surgiu de uma brincadeira nos bastidores, em torno de um certo temor que o cantor tinha, que Bibi chama de "efeito Sinatra": o medo de abrir a boca para cantar e a voz não sair. Elemento essencial para qualquer artista, a voz merece alguns cuidados. "Não tenho uma preparação específica para o espetáculo, mas tenho um cuidado de toda uma vida. De respeito ao que é gelado, de evitar excessos, de trabalhar com a técnica", explica Bibi.

Estão no repertório 23 músicas, todas conhecidas. Algumas são cantadas em medley, como Nature boy, Autumn Leaves, Cheek to cheek, All of me e Somenone to light up my life. Inédita pela ousadia, Bibi é a primeira mulher a fazer um espetáculo só com músicas interpretadas por Sinatra.

Aliás, o norte-americano tinha especial admiração pela bossa nova e gravou vários sucessos do maestro Tom Jobim. No show, acompanhada por um quinteto de músicos, Bibi passeia também pelas canções de Jobim que Sinatra interpretou com grande carinho, como Dindi, Meditation, Quiet night of quiet stars e Water to drink.

Artista multifacetada, com atuações em teatro, música, cinema e televisão, Bibi ainda se aventurou pela direção durante muitos anos. "Hoje, já não tenho tanto encanto por dirigir. E acho que faltam bons autores. Temos autores, claro, mas faltam bons textos. E a música me encanta muito", avisa.

E a televisão? Bibi passou por ela, sim, mas parou há um bom tempo. "Embora receba convites sempre, nunca me atraiu a dramaturgia. Fazia programas de entretenimento, entrevistas, convidados, tudo ao vivo. Parei de fazer televisão quando inventaram o vídeo-tape. Gostava do ao vivo. Do tudo ou nada. Essa coisa de corta aqui, corta ali, tira a minha espontaneidade", completa ela.

Esse "tudo ou nada" estará bem perto dos gaúchos neste fim de semana, quando Bibi encarnar Frank Sinatra nas duas sessões do Teatro do Bourbon Country.