Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Entrevista Especial

- Publicada em 15 de Novembro de 2015 às 22:19

José Fortunati vai concorrer ao Senado em 2018

"Não quero generalizar, mas o nosso Congresso Nacional se amesquinhou"

"Não quero generalizar, mas o nosso Congresso Nacional se amesquinhou"


JONATHAN HECKLER/JC
Em meio a diversas incógnitas sobre o futuro do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (licenciado do PDT) - se continuará no partido ao qual se filiou em 2002 e o que fará depois de concluído seu mandato -, o chefe do Executivo da Capital anunciou que já tem ao menos uma definição. "Sou candidato ao Senado Federal", revelou. A escolha vem do desejo de contribuir em âmbito nacional para a qualificação da política, que, segundo Fortunati, está contaminda por "interesses mesquinhos". "Considero uma excrescência a obrigatoriedade da emenda impositiva. E o Congresso tem se importado muito mais em discutir esses temas", ponderou.
Em meio a diversas incógnitas sobre o futuro do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (licenciado do PDT) - se continuará no partido ao qual se filiou em 2002 e o que fará depois de concluído seu mandato -, o chefe do Executivo da Capital anunciou que já tem ao menos uma definição. "Sou candidato ao Senado Federal", revelou. A escolha vem do desejo de contribuir em âmbito nacional para a qualificação da política, que, segundo Fortunati, está contaminda por "interesses mesquinhos". "Considero uma excrescência a obrigatoriedade da emenda impositiva. E o Congresso tem se importado muito mais em discutir esses temas", ponderou.
Outros desfechos, porém, permanecem em aberto para o prefeito. Um deles é se permanece no PDT ou troca de partido. "Eu não tenho pressa em mudar essa situação", adianta. No entanto, Fortunati afirma que o licenciamento promoveu a melhoria de sua relação com a Câmara de Porto Alegre como um todo, dando mais coesão à base. A outra é o que fará no período entre sua saída da prefeitura e as eleições de 2018. "A única coisa neste momento é minha gestão até 31 de dezembro de 2016." Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Fortunati também fez um balanço de seu governo em Porto Alegre e falou sobre polêmicas como a vinda do serviço Uber e a relação com o Estado na questão da segurança pública.
Jornal do Comércio - O senhor se despede do Paço Municipal no final de 2016. Tem planos para a eleição de 2018? É mais provável uma candidatura ao Senado ou ao governo do Estado?
José Fortunati - Eu já tenho uma definição. Eu sou candidato ao Senado Federal. Em primeiro lugar, acho que, ao longo da minha vida pública, eu consegui realmente granjear uma grande experiência em todas as esferas e me sinto preparado para os grandes debates. Acho que falta ao País um debate mais profundo, que perpasse cargos, emendas, proveito próprio e interesses mesquinhos que conturbam o grande debate político. Percebo, com tristeza, que gradativamente o Congresso foi se apequenando. Foi perguntado a Ulysses Guimarães PMDB) "qual foi a sua pior legislatura?", e ele respondeu: "a próxima". Ele disse que, infelizmente, a cada legislatura, há um apequenamento no Parlamento.
JC - Que perfil o senhor vê nas duas casas?
Fortunati - Não quero generalizar, mas o nosso Congresso se amesquinhou. Os grandes temas estão em segundo plano, tanto na Câmara quanto no Senado. Existem excelentes deputados e senadores, mas a pauta que move é mais secundária. Por exemplo, considero uma excrescência a obrigatoriedade da emenda impositiva. E o Congresso tem se importado muito mais em discutir esses temas. Posso ser um a mais, pela minha experiência, a ir ao Senado e contribuir para resgatar os grandes temas.
JC - O que fará na "entressafra" entre os dois períodos de eleição?
Fortunati - Não sei. Não pensei nisso, honestamente. A única coisa neste momento é minha gestão até 31 de dezembro de 2016. Nesse dia, quero sair da prefeitura de cabeça erguida, tendo a clara noção de que fiz o possível para fazer um bom mandato em nome da cidade. Sei das dificuldades, da crise econômica, mas tenho uma missão, que me foi dada democraticamente pela população: eu tenho de tentar fazer a melhor gestão possível. Não estou preocupado com o que farei depois.
JC - Até quando o senhor permanece licenciado do PDT? Estipulou alguma data para tomar a decisão?
Fortunati - Não estipulei, porque minha grande preocupação é estar focado na gestão da cidade. Eu me licenciei, porque a bancada do PDT na Câmara de Vereadores não estava apoiando as ações de governo, e isso vinha contaminando a base como um todo. Então me licenciei. E, a partir dali, exatamente com esta reflexão, nós temos conseguido uma relação extremamente positiva com a maioria da Câmara. Então, não tenho pressa em mudar esta situação. Certamente, em 2016, eu vou ter que fazer uma opção, pois não vou ficar de fora do processo eleitoral. Não posso ser candidato, mas tenho compromisso com um projeto que se iniciou em 2005 e que naturalmente eu vou fazer o possível, de forma democrática, para que tenha sequência em 2017. Vou participar do processo, ajudando na escolha do candidato, na composição da chapa, da coligação, farei esse debate. Mas, por enquanto, eu não estou no processo eleitoral.
JC - O senhor recebeu propostas de partidos?
Fortunati - Eu fui convidado. Acho que a vantagem que criei ao longo dos meus 40 anos de vida pública é que, de um lado, sempre tive posições muito claras: eu nunca escondo, dou a cara para bater, enfrento os temas mais adversos. Mas, de outro lado, eu transito entre todos os partidos. Quando eu volto ao Congresso Nacional, onde fui deputado por dois mandatos, eu sou recebido pelos antigos deputados de braços abertos. Então tenho uma relação fraterna com deputados do PT, do P-Sol, do PCdoB, do DEM, do PSDB. Naturalmente, a partir do momento em que eu me licenciei do PDT, os partidos se sentiram um pouco liberados para fazerem convites.
JC - Foi sondado por quem?
Fortunati - Não vou falar por uma questão ética, pois, como não dei prosseguimento a nenhuma negociação, surgiram boatos, pessoas defendendo a tese de que eu iria para o partido X ou Y...
JC - Como a Rede Sustentabilidade, por exemplo?
Fortunati - Como a Rede, que foi um dos mais comentados, mas em momento algum eu sentei com a Rede. Eu recebi o convite, assim como de outros partidos de um amplo espectro político, mas não dei prosseguimento a nenhuma destas conversações. Eu continuo filiado ao PDT, licenciado. Se estou ainda vinculado a um partido, não tenho o direito de começar a tratar de uma outra filiação, só farei isso se eu decidir sair do PDT, mas isso não está no meu horizonte.
JC - A relação com o partido melhorou após o licenciamento?
Fortunati - Melhorou com a Câmara de Vereadores. Eu chamei todos os partidos a partir do meu licenciamento e disse: "nós somos governo ou somos oposição". Não existe isso de "voto de acordo com a minha consciência". A consciência é vir aqui e discutir com o prefeito. Agora, ir para a tribuna só porque meia dúzia está lá clamando por uma tese sem discutir com o governo, aí é ser de oposição. Tem todo o direito quem quer... eu já fui deputado federal de oposição e tinha uma relação perfeitamente construtiva com o ex-governador Pedro Simon (PMDB) e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Eu era líder da bancada do PT, inclusive. São coisas distintas. O que eu deixei muito claro é que, se o partido é de situação, ele tem direito de vir aqui e exigir explicações, ser convencido ou me convencer que a proposta está equivocada, num debate aberto e franco. O que não dá é estar na situação e, sem qualquer argumento, votar contra os projetos do governo. Fiz isso com todos e conseguimos dar coesão à base do governo. Com o partido, eu sempre tive e continuo tendo uma boa relação. Tenho 14 anos de PDT. Aonde vou, o partido me recebe com muito carinho, e as pessoas pedem que eu não saia.
JC - Qual sua avaliação da gestão municipal nestes últimos três anos?
Fortunati - Estou indo para o meu sétimo ano de mandato. São dois mandatos praticamente completos, no qual acabamos enfrentando duas grandes crises. Em 2013, quando o País entrou em ebulição, com manifestações populares, o surgimento dos black blocs, um certo colapso nas relações entre os movimentos com os entes públicos; e o momento que vivemos hoje, com três crises que sedimentam uma a outra: ética e moral, que incendeia a crise política e impede que esta se resolva, e isso faz com que a crise econômica se agudize. A crise política faz com que os agentes tenham dificuldade para buscar soluções. Quem paga a conta neste momento, além do cidadão e da empresa, é o agente público municipal, pois é no município que as coisas acontecem. Cada vez mais, os municípios atendem à saúde pública, à educação e à questão social, que caem no colo do gestor público. Por outro lado, apesar do aumento das responsabilidades e demandas da população, o recurso dos municípios é cada vez menor. A repartição federativa é muito complicada. Apesar disso, do ponto de vista da gestão, estamos tomando todas as providências para que Porto Alegre possa ter uma estabilidade financeira adequada, e que a gente possa concluir os principais projetos, obras e ações que a gente tem colocado em execução, como obras viárias, mais escolas, principalmente de educação infantil, a informatização da área da saúde. Temos algumas demandas importantes que não desejo que a crise impeça de acontecer.
JC - A empresa Uber já anunciou que se instalará em Porto Alegre nos próximos meses. Embora a EPTC pré-classifique o serviço de clandestino, a população tem diversas reclamações ao serviço de táxi da Capital, pelo despreparo de taxistas e até pelo envolvimento em crimes. Como abordar essa questão?
Fortunati - E qual é a garantia que um veículo, só porque está no serviço Uber, não terá isso?
JC - Existe um desejo da população em ter um serviço melhor e mais seguro.
Fortunati - Está bem, existe um desejo. Mas, em primeiro lugar, o prefeito de Porto Alegre não recebeu nenhum perdido formal por parte da Uber para sentar e conversar sobre um novo serviço em Porto Alegre. A Uber está mostrando que é autoritária, porque quer se instalar na cidade desconhecendo a organização que a cidade tem. A cidade tem uma lei, que neste momento impede que o serviço que a Uber oferece possa ser prestado. Se eu quero abrir uma carrocinha de cachorro quente ou uma emissora de rádio em Porto Alegre, eu tenho que cumprir regras. Então, a Uber também tem e, se tentar se impor, nós vamos usar a legislação, sim. O problema é que o serviço Uber se considera acima da lei, tem dado mostras disso. Se eu for para a população e perguntar "você quer continuar pagando tributos", 100% da população vai dizer que não. Se perguntar quem é a favor da pena de morte, 90% vai dizer que sim. A questão não se decide simplesmente porque a população não está tão de acordo ou tão satisfeita com determinado serviço, e aí você vende a ilusão de que o novo serviço vai resolver. Se existe um problema dos táxis, nós implantamos o GPS, estamos colocando botão de pânico; no transporte coletivo, depois de anos, fizemos a licitação dos ônibus; as lotações são referência para o País; estamos adotando o transporte hidroviário, e só não avançou mais por causa da Marinha. Estamos avançando em bicicletas, ou seja, estamos abertos em fortalecer o sistema público de transporte. O serviço Uber, se quiser se instalar em Porto Alegre, vai ter de participar desta reflexão.
JC - Como recebeu a negativa do governo do Estado em pedir auxílio ao governo federal na questão da crise da segurança pública. O município pode participar dessa solução de alguma forma?
Fortunati - O município tem procurado participar. Nós estamos com 1.050 câmeras de vigilância controladas pelo Centro Integrado de Comando (Ceic), que hoje é um modelo para o País. Nós conseguimos que nossa guarda municipal pudesse usar armas, está capacitada e treinada para isso, o que é um avanço. Estamos apostando muito em iluminação pública de forma gradativa e iniciamos processo de revisão da iluminação nos bairros centrais da cidade. A cidade colabora, mas, indiscutivelmente, falamos do policiamento ostensivo, que é a presença do brigadiano. A Guarda Municipal cuida do patrimônio público, mas a cidade como um todo tem de contar com o serviço de inteligência que cabe à Secretaria de Segurança Pública. A Brigada Militar e a Polícia Civil são muito preparadas, mas é um efetivo muito menor do que o necessário. Em Porto Alegre, faltam mais de 2 mil policiais militares. A Força Nacional não substitui, mas auxilia as forças estaduais. Não me compete questionar as razões (de o governo do Estado não pedir ajuda). Eu respeito, mas gostaria de ter a Força Nacional.
EXCLUSIVO NO SITE:
"80% das grandes obras estarão concluídas no final da nossa gestão 

Perfil

Nascido em Flores da Cunha em 24 de outubro de 1955, José Alberto Reus Fortunati formou-se em Matemática, Administração de Empresas e Direito pela Ufrgs. Atuou no movimento estudantil e foi dirigente do Sindicato dos Bancários. Pelo PT, foi deputado estadual constituinte em 1987 e deputado federal em 1990. Em 1997, assumiu o cargo de vice-prefeito na chapa liderada por Raul Pont. Até então, a legenda vinha indicando os vices como os próximos candidatos a prefeito, mas, em 2000, a sequência foi quebrada, pois Fortunati se filiou ao PDT em 2002. Em 2008, foi vice de José Fogaça (PMDB), que concorria à reeleição. Em 30 de março de 2010, assumiu como prefeito de Porto Alegre, a partir da renúncia do peemedebista, que disputaria o Palácio Piratini. Concorrendo à prefeitura de Porto Alegre em 2012, foi reeleito com 65,22% dos votos válidos, vencendo as eleições no primeiro turno. Em março de 2015, Fortunati se licenciou do PDT, após desentendimentos com a bancada da sigla na Câmara de Porto Alegre.