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Mercado de Capitais

- Publicada em 25 de Novembro de 2015 às 19:08

Prisão de André Esteves preocupa o mercado financeiro e setor produtivo

Maior instituição de investimentos independente da América Latina possui R$ 214,8 bilhões em ativos

Maior instituição de investimentos independente da América Latina possui R$ 214,8 bilhões em ativos


ANA PAULA APRATO/ARQUIVO/JC
A prisão do banqueiro André Esteves, diretor executivo e maior acionista do BTG Pactual, no âmbito da Operação Lava Jato, fez o mercado financeiro e pesos-pesados do setor produtivo nacionais terem um dia de forte apreensão. Esteves comanda não apenas a oitava maior instituição financeira do Brasil e o maior banco de investimentos independente da América Latina, com o total de R$ 214,8 bilhões em ativos administrados. O BTG e André Esteves, em particular, estão hoje no epicentro de dois dos maiores projetos empresariais em andamento no Brasil: a Sete Brasil e a fusão da Oi com a TIM. E embrenhados em uma dezena de negócios em setores que vão da energia ao farmacêutico.
A prisão do banqueiro André Esteves, diretor executivo e maior acionista do BTG Pactual, no âmbito da Operação Lava Jato, fez o mercado financeiro e pesos-pesados do setor produtivo nacionais terem um dia de forte apreensão. Esteves comanda não apenas a oitava maior instituição financeira do Brasil e o maior banco de investimentos independente da América Latina, com o total de R$ 214,8 bilhões em ativos administrados. O BTG e André Esteves, em particular, estão hoje no epicentro de dois dos maiores projetos empresariais em andamento no Brasil: a Sete Brasil e a fusão da Oi com a TIM. E embrenhados em uma dezena de negócios em setores que vão da energia ao farmacêutico.
"Sem o BTG, essa operação de fusão não existe. Agora, como você explica para o mercado internacional que o banco que você contratou para fazer uma fusão está com o presidente preso? Está todo mundo preocupado e fazendo ligações para tentar acalmar os investidores. Sem essa operação, a situação da Oi só tende a piorar no médio e longo prazos", disse uma fonte que acompanha de perto a negociação, lembrando que a fusão pode movimentar mais de R$ 40 bilhões.
A própria Petrobras que molda a Lava Jato é uma importante parceira do BTG Pactual. Ambos são sócios da Sete Brasil, um dos principais negócios do setor nacional de petróleo e gás, avaliado em US$ 13 bilhões. A Sete foi criada para alugar sondas de exploração à petrolífera e tem entre seus acionistas os maiores fundos de pensão de estatais, o FI-FGTS, Santander e Bradesco.
No entanto, com a redução da produção e dos investimentos da Petrobras, o contrato original, que previa a entrega de 28 sondas, foi revisto para 18. E, mesmo assim, até hoje não foi assinado, por exigências adicionais da diretoria da estatal. Cabe ao BTG a negociação com a Petrobras em nome da Sete e seus acionistas.
Também é o banco de Esteves o acionista responsável por renegociar as dívidas da Sete Brasil, que somam US$ 3,6 bilhões com as instituições credoras, entre elas Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander. O BTG também tem sido o líder das missões rotineiras da Sete à Ásia para negociar com investidores locais um aporte de US$ 570 milhões.
A relação do BTG com a Petrobras não para por aí. O banco é sócio das operações da estatal na África, com metade das ações da joint venture PO&G, que explora campos de petróleo no continente. O negócio, concretizado em 2013, foi alvo de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU), pois a fatia de 50% valeria na época entre US$ 3 bilhões e US$ 3,5 bilhões, o ativo era considerado bom e havia interessados. Mas a venda da participação foi feita por US$ 1,5 bilhão para o BTG. A Petrobras nega irregularidades.
Segundo fontes, o banco seria um dos contratados pela Petrobras para vender parte dos seus ativos, uma operação de guerra com a qual a estatal, passando por dificuldades de caixa e endividamento total de
R$ 506,6 bilhões, pretende levantar US$ 15,1 bilhões entre este ano e o fim de 2016.
O setor de óleo e gás está tão em alerta quanto o de telecomunicações. O BTG tem papel central nas últimas movimentações envolvendo a Oi. Há dois anos, o banco aportou R$ 2 bilhões na operadora, tornando-se um acionista de peso na tele. Na ocasião, o BTG estava liderando a união da Oi com a Portugal Telecom (PT). Como o negócio fracassou, a Oi decidiu contratar o BTG como "comissário mercantil" para viabilizar um processo de consolidação no setor de telecomunicações. Ou seja, o BTG tem plenos poderes para negociar em nome da operadora.
Primeiro, o banco tentou fatiar a TIM entre a América Móvil (Claro) e a Telefónica (Vivo), mas esbarrou em interesses dos espanhóis. Depois, conversou com um fundo de investimento liderado por russos e conseguiu US$ 4 bilhões para unir a Oi com a TIM. Esta articulação está em andamento.
Os tentáculos do BTG Pactual se estendem por outros setores. O banco de Esteves é conhecido, entre seus muitos apelidos, como "piratas do mercado", pois, quando entram em um negócio, é com apetite e para ficar com o lucro. Além de atuar em todos os segmentos do setor financeiro, também tem presença no varejo, áreas hospitalar, infraestrutura, negócios imobiliários e academias de ginástica. São sócios, por exemplo, da Brasil Pharma (que tem, entre outras, as redes Farmais e Drogaria Rosário), da Rede D'Or (hospitais), da Estapar (estacionamentos), da Estre Ambiental, da DVBR (rede de postos de combustíveis que conseguiu usar a bandeira da BR Distribuidora) e Equatorial (energia).

Banco poderá sofrer a perda de investidores estrangeiros que seguem regras de compliance

Pela manhã desta quarta-feira, segundo uma fonte do BTG, o clima era de temor dentro do banco. Sem seu principal executivo e absolutamente surpreendidos, eles classificavam a situação de tensa e preocupavam-se especialmente com a perda de investidores, especialmente estrangeiros, que seguem regras de compliance (conformidade com um conjunto de regras e práticas anticorrupção, por exemplo).
O banco recebeu muitas ligações pela manhã dos investidores e, segundo relatos de duas fontes, houve tentativas de saques de recursos, mas sem risco à instituição.
A avaliação dos investidores era de que, mais do que problemas para honrar compromissos, a equipe do BTG deveria estar sem rumo com a prisão do seu diretor executivo. O BTG, porém, informou que está atendendo todos os clientes e que "o banco continua funcionando normalmente".
O BTG e André Esteves podem correr riscos ainda no exterior, onde a legislação anticorrupção é mais rigorosa, por exemplo nos Estados Unidos. O banco tem 35 escritórios em 20 países. Está em grandes centros financeiros, como Nova Iorque e Londres, e também em aéreas como Quênia e Ucrânia. Em setembro deste ano, concluiu a compra da gestora suíça de recursos BSI, consolidando o esforço de ampliar e diversificar receitas no exterior. O grupo pagou 1,25 bilhão de francos suíços (US$ 1,29 bilhão) para selar a compra anunciada em julho de 2014. Antes controlado pelo italiano Assicurazioni Generali, o BSI vai dobrar a receita de serviços do BTG Pactual para
US$ 2 bilhões, segundo o banco brasileiro, que assim se tornou um grupo com
US$ 186,5 bilhões em ativos sob gestão.
O BSI será integrado à plataforma de gestão de fortunas e private banking do BTG Pactual, mas a marca suíça será mantida. Com a compra, o total de empregados do BTG Pactual passa de 3.500 para 5.400.
No ano passado, o banco de Esteves comprou 2% do italiano Banca Monte dei Paschi di Siena, por meio do BTG Pactual Europa. Em 2012, lançou um fundo de investimentos para a África no valor de US$ 1 bilhão. Os países onde o BTG tem representações são: Brasil, Chile, Colômbia, México, Argentina, Peru, Costa Rica, Itália, China, Cingapura, África do Sul, Suíça, Ucrânia, Inglaterra, EUA, Quênia, Rússia, Índia, Luxemburgo e Ilhas Cayman.