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Energia

- Publicada em 23 de Novembro de 2015 às 14:58

Fontes renováveis alcançam geração recorde no Brasil

 INAUGURAÇÃO DO PARQUE EÓLICO DE XANGRI-LÁ. NA FOTO: TARSO GENRO

INAUGURAÇÃO DO PARQUE EÓLICO DE XANGRI-LÁ. NA FOTO: TARSO GENRO


FREDY VIEIRA/JC
No início deste mês, a geração de energia eólica (a partir dos ventos) alcançou inéditos 10% de toda a eletricidade gerada no País, chegando a responder, inclusive, por cerca de 45% da carga na região Nordeste, onde ultrapassou as hidrelétricas. Já a solar começa a dar seus primeiros passos, após dois leilões bem-sucedidos neste ano. Em tempos de reservatórios vazios e questionamentos ambientais envolvendo a construção de novas usinas, as duas fontes renováveis projetam R$ 36 bilhões em investimentos até 2019.
No início deste mês, a geração de energia eólica (a partir dos ventos) alcançou inéditos 10% de toda a eletricidade gerada no País, chegando a responder, inclusive, por cerca de 45% da carga na região Nordeste, onde ultrapassou as hidrelétricas. Já a solar começa a dar seus primeiros passos, após dois leilões bem-sucedidos neste ano. Em tempos de reservatórios vazios e questionamentos ambientais envolvendo a construção de novas usinas, as duas fontes renováveis projetam R$ 36 bilhões em investimentos até 2019.
Apesar do recorde a ser comemorado, os leilões de novos projetos eólicos e solares vêm se deparando com um avanço do preço do megawatt-hora (MWh) médio neste ano em relação a 2014 em função dos reflexos doperíodo de turbulência econômica e valorização do dólar. Em alguns casos, a alta chega a 38%, aumento que o consumidor vai sentir no bolso quando esses projetos começarem a gerar energia.
Com base nos leilões de energia organizados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a tarifa média das eólicas, por exemplo, atingiu há duas semanas
R$ 203,46 por MWh, aumento de 38% ante o certame de novembro de 2014 (R$ 147,49 por MWh). No caso da solar, o valor subiu 38,4%, de R$ 215,12 por MWh, no ano passado, para R$ 297,75 por MWh neste ano. "Há um aumento claro da percepção de risco no Brasil. Os custos de financiamento estão mais altos. Há ainda a variação do preço do dólar. Mas, apesar desse avanço nos custos, as fontes renováveis vão continuar crescendo com força", diz Thais Prandini, diretora executiva da Thymos.
Élbia Silva Gannoum, presidente executiva da Abeeólica, associação que reúne as empresas do setor, diz que, mesmo com as incertezas atuais da economia, o segmento parece uma "ilha de prosperidade". A estimativa é chegar a 2019 com potencial para gerar 20% de toda a energia do sistema elétrico do Brasil, com um total de 18.600 megawatts (GW) e R$ 24 bilhões de investimentos até 2019.
"O crescimento seria maior se houvesse mais linhas de transmissão no País, já que hoje só vão a leilão usinas eólicas que contam com as linhas prontas. A medida visa a evitar problemas como os que tínhamos antes, ao ter um parque eólico pronto sem poder jogar essa energia no sistema. Se não fosse a eólica, o Nordeste teria tido racionamento. Lá, geramos mais energia que as hidrelétricas", argumenta Elbia.
E o sol também promete brilhar forte. Rodrigo Sauaia, diretor executivo da Absolar, destaca que, apesar de o dólar alto ter influenciado o custo da geração da energia solar para o consumidor, o setor vive um divisor de águas em 2015. Os dois leilões realizados neste ano vão adicionar 3.300 MW ao sistema já em 2018, gerando um investimento de cerca de R$ 12 bilhões. "Estamos dando a largada para a criação de um mercado solar. A crise econômica influencia um pouco. Mas o dólar alto é o principal fator, já que os equipamentos são importados. Agora, o trabalho é desenvolver uma cadeia de fornecedores para o Brasil, assim como já ocorre com a eólica", explica Sauaia.
Michael Taylor, analista sênior da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês), diz que o Brasil se beneficia, por desenvolver as fontes eólica e solar após o mercado mundial estar mais maduro, o que garante custos menores. Além disso, há um atrativo a mais no Brasil. Segundo Taylor, o fator de aproveitamento solar no Brasil, ou seja, quanto do que é captado vira energia, varia entre 23% e 26%; e o da eólica oscila ente 32% e 55%, acima, afirma ele, do resto do mundo.
"As energias eólica e solar vêm crescendo muito, porque estão ficando mais competitivas, e as economias estão buscando uma matriz mais limpa. Em 2015, no mundo, a solar vai adicionar 55.000 MW em nova capacidade, pouco menor que os 58.000 MW da eólica", destaca Taylor. Segundo ele, além de países como China e Índia, emergentes como o Brasil vêm se destacando no setor. Em 2014, o Brasil instalou um recorde de 2.483 MW em eólica. "O futuro é promissor. Mas o desafio está relacionado ao ambiente político, que precisa de um modelo para permitir que a indústria invista e que sejam reduzidos os riscos, garantindo que as taxas baixas de financiamento estejam disponíveis", acredita Taylor.

País pode ser exemplo, diz especialista

O Brasil tem feito o dever de casa no campo da produção de energias renováveis e pode atuar como garoto-propaganda nesse área, inclusive na Conferência Mundial do Clima que acontecerá em Paris, no início de dezembro. A avaliação foi feita pela presidente do Conselho Mundial de Energia Renovável, Angelina Galiteva. Conhecida por ter ajudado a fazer uma revolução verde no estado americano da Califórnia, ela teve uma série de encontros em Brasília, neste mês, com representantes do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Ipea, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). "O Brasil deve sentir orgulho", afirma.
Segundo a especialista, 84% da matriz energética brasileira são de fontes renováveis, com ênfase para as hidrelétricas. Ela acrescentou que o leilões de energia eólica são mais um exemplo de que as fontes serão ainda mais diversificadas.

Projeto de lei deve ajudar a impulsionar o segmento

O Projeto de Lei nº 1.917/15, que tramita na Câmara dos Deputados, pode ajudar a impulsionar o segmento de energia renovável. Segundo Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), o texto, se aprovado, vai permitir que os consumidores, ao instalarem painéis solares em suas casas, possam vender a energia excedente aos vizinhos, por exemplo. Hoje, só é possível ter painéis com base no consumo mensal. O que é gerado pelos painéis é descontado do volume consumido, e o excedente é doado à concessionária.
"Estamos caminhando para um cenário de o consumidor interagindo mais com a rede. Ele tem de ter liberdade para comprar sua energia, assim como já ocorre na Europa e em várias cidades dos EUA", afirma. Na Câmara, o projeto já foi aprovado na Comissão de Defesa dos Consumidores. Agora, será analisado nas comissões de Minas e Energia e Constituição e Justiça. "Se aprovado, vai direto para o Senado", explica Medeiros, lembrando que o projeto vai permitir ao consumidor comprar energia também de qualquer concessionária no País.