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Responsabilidade Social

- Publicada em 18 de Novembro de 2015 às 16:41

Negritude e resistência

Simone destaca a importância de levar informações às comunidades e estabelecer políticas públicas específicas

Simone destaca a importância de levar informações às comunidades e estabelecer políticas públicas específicas


FREDY VIEIRA/JC
Foi de encontros de mulheres da Vila Maria da Conceição e da Vila Cruzeiro do Sul que nasceu a Associação Cultural de Mulheres Negras (Acmun), em 1994. Coordenado inicialmente por agentes pastorais, o grupo se expandiu e hoje atua com projetos comunitários destinados a outras mulheres negras de Porto Alegre e da Região Metropolitana. "Nosso foco principal é o de fortalecimento das informações acerca das políticas públicas, principalmente na área da saúde, além da valorização e do combate à discriminação de gênero e raça", define Simone Vieira da Cruz, psicóloga e coordenadora executiva do coletivo.
Foi de encontros de mulheres da Vila Maria da Conceição e da Vila Cruzeiro do Sul que nasceu a Associação Cultural de Mulheres Negras (Acmun), em 1994. Coordenado inicialmente por agentes pastorais, o grupo se expandiu e hoje atua com projetos comunitários destinados a outras mulheres negras de Porto Alegre e da Região Metropolitana. "Nosso foco principal é o de fortalecimento das informações acerca das políticas públicas, principalmente na área da saúde, além da valorização e do combate à discriminação de gênero e raça", define Simone Vieira da Cruz, psicóloga e coordenadora executiva do coletivo.
Os projetos são desenvolvidos em parceria com as secretarias municipal (SMS) e estadual de Saúde, com o Ministério da Saúde e outras entidades governamentais. Além de levar informação para a periferia, o grupo busca a capacitação e o empoderamento das mulheres, para que elas também se tornem lideranças comunitárias. AAcmun tem quatro projetos em andamento. Um deles é o Conhecer, desenvolvido nas unidades de saúde da zona Norte da Capital, onde a população recebe orientações sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, HIV/AIDS e hepatites virais.
O coletivo tenta ainda sensibilizar os profissionais de saúde, a fim de que eles também compreendam as especificidades e as desigualdades que acometem a população negra e possam prestar um atendimento mais justo e humanitário. Nesse sentido, por meio do programa "Saúde da população negra em foco", a Acmun aposta em estratégias de orientação e de coleta de dados sobre a Política de Saúde Integral da População Negra, formulada em 2009 pelo Ministério da Saúde em parceria com os movimentos sociais. A medida projeta ações de cuidado, atenção, gestão participativa e de formação de trabalhadores de saúde visando à promoção de equidade em saúde da população negra.
De acordo com Simone, a SMS tem uma área técnica específica para implementar a política no município, mas poucas pessoas sabem de sua existência. "A nossa estratégia é de elaborar enquetes junto à população para descobrir se ela tem conhecimento dessa política e de levar a informação, nos casos em que as pessoas ainda não sabem", conta.
A intersecção com a religião também é uma das linhas de trabalho da Acmun. O projeto Ìgba Ìlera, por exemplo, busca afirmar a ideia de que o terreiro pode ser um espaço sagrado e também acolhedor e promotor de saúde. O programa capacita lideranças religiosas de matriz africana e frequentadoras, enquanto multiplicadoras de ações que visem à prevenção de DSTs e HIV/AIDS já que, segundo Simone, os casos de infecção entre as mulheres negras não tem diminuído. Ìgba Ìlera é um termo yorubá que significa "tempo de saúde, alcançando o equilíbrio integral".

Mobilização para a primeira Marcha das Mulheres Negras segue após o evento

O mês em que é comemorado o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) foi marcado por atividades em todo o País com o intuito de reafirmar a resistência da população negra, que ainda sofre com o racismo, o extermínio e a criminalização. As negras, que representam um total de 49 milhões no Brasil, são as principais vítimas dessa realidade. Visando ao fortalecimento e à visibilidade de suas causas, realizaram, em Brasília a primeira Marcha das Mulheres Negras, no dia 18 de novembro.
A iniciativa buscou articular pessoas e entidades de todo o País, que marcharam "contra o racismo, a violência e pelo bem viver". De acordo com Simone Vieira da Cruz, coordenadora executiva da Associação Cultural de Mulheres Negras de Porto Alegre (Acmun), o evento foi idealizado em um encontro promovido em Salvador, em 2011. "De 2012 pra cá, nós viemos trabalhando para a realização da marcha, que tem como propósito dar visibilidade para as demandas da mulheres negras em nível nacional, mas, principalmente, busca denunciar o racismo", explica. A Acmun integrou a rede que coordenou a realização da marcha.
Mais do que mobilizar, o evento fortaleceu o encontro de mulheres e o desenvolvimento de comitês regionais e estaduais, que trabalharam juntos para realizar a marcha. Na fase de articulação, foram promovidas oficinas de direitos humanos, econômicos, sociais e ambientais, bem como encontros ligados a diversas formas de expressão da cultura negra e da negritude feminina. "Conseguimos que todos estados formassem comitês para mobilizar as mulheres a irem até Brasília", comemora Simone. Em Porto Alegre, foi criado o Fórum de Mulheres Negras, que promoveu, no dia 14 de novembro, a Marcha Regional das Mulheres Negras, em Esteio. "A ideia de criar um fórum e não um comitê é de fazer com que o grupo siga trabalhando depois da realização do encontro em Brasília. O mais importante é que essas mulheres sigam juntas", acredita.