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Cinema

- Publicada em 06 de Outubro de 2015 às 21:30

O sobrevivente

São muitos os desafios, desde 1968, quando Stanley Kubrick realizou 2001: uma odisseia no espaço, a serem enfrentados por qualquer cineasta que se atreva a fazer indagações sobre mistérios indecifráveis e acompanhar desafios extremos, através do gênero da ficção-científica. Em anos recentes, só o mexicano Alfonso Cuarón, em Gravidade, chegou a uma distância razoável daquela obra-prima, um modelo e uma tentação para muitos realizadores, mas certamente inalcançável para a maioria. Esperava-se mais de Perdido em Marte, com o qual o veterano, 78 anos, Ridley Scott dá continuidade a uma filmografia irregular, mas marcada por alguns títulos significativos. Scott é daqueles realizadores que não estão dispostos a encerrar a carreira, o que é bom para o cinema, pois ele é um dos que dominam todos os recursos e sabe mesclar propostas sérias com apelos a um público amplo. Ele é daqueles que provaram que é possível manter a dignidade e, ao mesmo tempo, atingir aquele nível no qual um filme também se transforma em espetáculo fascinante para grandes plateias. Em toda sua obra a ação ora transcorre no futuro, ora no passado. E desde seu segundo longa-metragem, o poderoso Alien, o oitavo passageiro, o gênero ao qual também pertence seu novo filme várias vezes atraiu o realizador.
São muitos os desafios, desde 1968, quando Stanley Kubrick realizou 2001: uma odisseia no espaço, a serem enfrentados por qualquer cineasta que se atreva a fazer indagações sobre mistérios indecifráveis e acompanhar desafios extremos, através do gênero da ficção-científica. Em anos recentes, só o mexicano Alfonso Cuarón, em Gravidade, chegou a uma distância razoável daquela obra-prima, um modelo e uma tentação para muitos realizadores, mas certamente inalcançável para a maioria. Esperava-se mais de Perdido em Marte, com o qual o veterano, 78 anos, Ridley Scott dá continuidade a uma filmografia irregular, mas marcada por alguns títulos significativos. Scott é daqueles realizadores que não estão dispostos a encerrar a carreira, o que é bom para o cinema, pois ele é um dos que dominam todos os recursos e sabe mesclar propostas sérias com apelos a um público amplo. Ele é daqueles que provaram que é possível manter a dignidade e, ao mesmo tempo, atingir aquele nível no qual um filme também se transforma em espetáculo fascinante para grandes plateias. Em toda sua obra a ação ora transcorre no futuro, ora no passado. E desde seu segundo longa-metragem, o poderoso Alien, o oitavo passageiro, o gênero ao qual também pertence seu novo filme várias vezes atraiu o realizador.
Em seu romance Hereges, agora sendo lançado no Brasil, Leonardo Padura encerra a primeira parte do tríptico que forma o livro citando de forma explícita uma das mais notáveis cenas de Blade Runner, aquela na qual o robô, em seus últimos momentos, fala sobre a inutilidade de todas as maravilhas que viu. O filme citado foi realizado por Scott em 1982 e permanece como o título maior na filmografia do cineasta, tendo sido baseado em livro de Philip K. Dick. Padura, em seu livro, fala sobre a importância da liberdade. A luta por ela é uma forma de sobrevivência. De certa forma, este é o tema principal da obra de Scott, presente não apenas naquele filme, por vários motivos antológicos. Os obstáculos colocados diante do realizador em Perdido em Marte são ultrapassados de forma brilhante do ponto de vista da técnica. Poucos dominam a narrativa cinematográfica como o diretor. A tempestade que faz com que a missão seja interrompida e o protagonista dado como morto pela tripulação é encenada com imagens impressionantes, e o cenário vazio no qual sobrevive o astronauta é uma ilustração vigorosa da solidão. As primeiras cenas do filme formam uma promessa não cumprida no restante do relato.
As piadas, a quase totalidade sem graça alguma, são uma forma pela qual o realizador e seu roteirista, Drew Goddard, certamente procuraram amenizar o desfile de informações e dados com os quais a maioria dos espectadores não está familiarizada. O humor é um grande aliado do ser humano, de modo que é até compreensível que no seu diário de sobrevivente o protagonista dele faça uso. Este não é o problema maior. Graves são as concessões a uma comicidade grosseira, principalmente quando entra em cena um daqueles gênios frequentes em filmes menores do gênero, capazes de tudo, inclusive de utilizar como modelo de uma explanação o chefe da Nasa. Essa cena e outras são indignas de um cineasta como Scott. Mas ainda não é tudo, pois surgem depois as clássicas imagens da apoteose final, colocadas na narrativa de forma canhestra, como se o filme fosse uma daquelas produções classe B dos anos 1950. O passado cinematográfico do realizador impõe que ele seja tratado com respeito. Não estamos diante de um realizador qualquer, mas é evidente que o cineasta desta vez não conseguiu se afastar de facilidades e de concessões. De qualquer maneira, é interessante verificar que, a partir de determinado momento, a tecnologia chinesa aparece como a salvadora. Este, sem dúvida, é um sinal dos tempos. Outro é esta comicidade vulgar que, por vezes, toma conta das imagens e das situações. Perdido em Marte termina sendo mais uma variante, desta vez sem brilho, do tema da superação, que o cinema norte-americano, mais comprometido com a bilheteria, tanto aprecia.
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