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Infraestrutura

- Publicada em 09 de Outubro de 2015 às 15:44

Crise econômica provoca onda de desinvestimento

Funcionários da Petrobras promovem protestos contra a paralisação de obras como o Comperj

Funcionários da Petrobras promovem protestos contra a paralisação de obras como o Comperj


VANDERLEI ALMEIDA/AFP/JC
Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado - focando segmentos mais estratégicos e lucrativos -, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão de ativos. Levantamento em diferentes setores aponta que as companhias estão tentando se desfazer de ao menos R$ 149,6 bilhões. A cifra equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia no ano passado. É comparável ainda ao orçamento de seis usinas Belo Monte. Ou ainda: o montante é pouco superior ao impacto causado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, na economia brasileira em 2015, segundo cálculos da GO Associados (R$ 140 bilhões).
Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado - focando segmentos mais estratégicos e lucrativos -, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão de ativos. Levantamento em diferentes setores aponta que as companhias estão tentando se desfazer de ao menos R$ 149,6 bilhões. A cifra equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia no ano passado. É comparável ainda ao orçamento de seis usinas Belo Monte. Ou ainda: o montante é pouco superior ao impacto causado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, na economia brasileira em 2015, segundo cálculos da GO Associados (R$ 140 bilhões).
Na lista de empresas estão Petrobras, Vale, Eletrobras e Infraero. As construtoras, afetadas pela Operação Lava Jato, também entraram em temporada de liquidação, com a venda de participações em concessões. Analistas destacam que, apesar da instabilidade econômica, a forte alta do dólar - muito próximo dos R$ 4,00 - contribui para atrair investidores estrangeiros.
"O Brasil está barato. Houve desvalorização de 60% a 70% no valor dos ativos nos últimos 12 meses por causa da alta do dólar. E a liquidez internacional é gigantesca", diz Fabio Silveira, diretor de pesquisa da GO Associados. Ele avalia que a crise econômica pode durar até três anos e que a turbulência política, apesar de criar instabilidade institucional, é menor que os problemas políticos e sociais de outros emergentes, como os países do Leste europeu e do Oriente Médio.
Mas há desafios. Especialistas citam o caso da Petrobras. Em meio ao maior escândalo de sua história, a estatal foi obrigada a cortar investimentos e vender ativos para reduzir o endividamento, que chegou a R$ 500 bilhões no fim de setembro, agravado pela alta do dólar e pela queda do preço do petróleo. Sua meta é se desfazer de US$ 15,1 bilhões (R$ 59,6 bilhões) até o fim do ano que vem.
Com o fim do superciclo das commodities, principalmente devido à desaceleração da China, a Vale apertou o passo de seu programa de venda de ativos. Para este ano, a expectativa da mineradora é levantar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões (até R$ 27,6 bilhões) com desinvestimentos e parcerias. No rol dos ativos na prateleira estão participações no corredor logístico de Nacala e uma mina de carvão, ambos em Moçambique.
A reorganização da Vale foi iniciada em 2011, quando passou a focar "ativos de classe mundial, com baixo custo, vida longa e potencial de expansão". O objetivo é fazer caixa para projetos essenciais, como o S11D (expansão do Complexo de Carajás, no Pará), o maior da história da companhia, orçado em US$ 16 bilhões. A CSN é outra que está à caça de compradores. São dois os ativos oficialmente à venda: o terminal de contêineres de Sepetiba (Rio de Janeiro), avaliado em cerca de R$ 1 bilhão, e a fatia da empresa na Usiminas.
Mas não está descartada a venda de ações da siderúrgica na MRS. Em recente relatório, a agência de classificação de risco Fitch avaliou que a empresa precisa vender R$ 4 bilhões nos próximos dois anos para reduzir a dívida líquida da companhia, que, no fim do segundo trimestre, estava em R$ 20,7 bilhões. A CSN não comenta.
A empresa estava correndo contra o tempo para negociar com potenciais compradores, mas conseguiu fôlego no mês passado, ao alongar cerca de R$ 5 bilhões de sua dívida de curto prazo. Marco Aurélio Barbosa, estrategista da CM Capital Markets, que acompanha 180 companhias de capital aberto no País, lembra que a venda de ativos é saída extrema para evitar a quebra. "Antes, ela pode reduzir investimentos, enxugar custos, demitindo pessoas ou revendo contratos, por exemplo. Mas, quando há um descasamento enorme entre a geração de caixa e os custos para se manter, a saída é vender. O problema é que o comprador acaba oferecendo valor muito depreciado e, com a economia em retração, isso se potencializa."
No setor aéreo, o governo planeja vender os 49% de participação da Infraero nos aeroportos já concedidos à iniciativa privada - Brasília, São Paulo (Guarulhos e Viracopos), Rio de Janeiro (Galeão) e Belo Horizonte (Cofins). Segundo estimativas da equipe econômica, a meta é faturar ao menos R$ 10 bilhões. Na nova rodada de concessão, prevista para 2016, os aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre deverão ser integralmente entregues ao setor privado.
Entre as empreiteiras, a Lava Jato colocou sob os holofotes pesos-pesados como OAS, Odebrecht, Galvão Engenharia e UTC. Endividadas, com contratos cancelados e sem crédito, ao menos cinco dessas empresas, com dívidas que somam R$ 15 bilhões, já pediram recuperação judicial.

Consolidação do setor apressa o ajuste das companhias de telecomunicações

Valim teria sido contratado para preparar a venda da Nextel brasileira

Valim teria sido contratado para preparar a venda da Nextel brasileira


JONATHAN HECKLER/JC
Com queda na receita e redução no número de assinantes móveis, o setor de telecomunicações enfrenta um desafio que vai além do corte de custos com a venda de ativos, como torres, imóveis e subsidiárias no exterior. De acordo com analistas e fontes, o segmento vai passar por um novo momento de consolidação para buscar maiores margens de lucro e fazer frente à concorrência. Empresas como Nextel, TIM Brasil e até Sky já estão entre os possíveis ativos que podem mudar de mãos, ressaltam os executivos que acompanham esses processos.
Segundo uma fonte, a Nextel, da americana NII Holdings, já está sendo preparada para uma possível venda. Seu valor de mercado é de cerca de R$ 2,5 bilhões. Após se desfazer de operações em toda a América Latina, a companhia contratou Francisco Valim, ex-presidente da Oi, para preparar a operação. Valim comandou operações de venda quando presidia a Net e a Serasa.
"A Nextel tem quatro milhões de clientes e é um ativo interessante, o que vai gerar disputa", disse o analista Hermano Pinto. "No caso da Sky, é preciso saber qual será a estratégia da sua controladora, AT&T. A sensação é que eles estão esperando ver os resultados no México, onde tem operadora local e a própria Nextel."
Quem também está na lista é a TIM Brasil, que está vendendo suas torres no País, gerando, ao todo, cerca de R$ 3 bilhões. Enquanto isso, na Europa, a Telecom Italia, dona da TIM, conta com um novo acionista, a Vivendi, que quer focar sua operação nos mercados maduros.
"A Vivendi quer aumentar sua atuação na Europa. Por isso, já há uma sinalização nesse sentido no comando da companhia, o que pode abrir espaço para as empresas brasileiras, como a Oi, que vendeu a Portugal Telecom, está com dinheiro em caixa e está de olho na TIM", destacou uma das fontes.
A Oi, que já vem vendendo torres e imóveis, pretende gerar mais R$ 4 bilhões, diz outra fonte, com a venda de suas operações na África para equilibrar seu balanço financeiro, entre outros ativos. A empresa disse que quer vender ativos não essenciais para melhorar sua eficiência. Procuradas, TIM e Nextel afirmaram que não comentam rumores de mercado.

Eletrobras vai concentrar-se onde presença é estratégica

Transmissão e grandes hidrelétricas serão as prioridades da empresa

Transmissão e grandes hidrelétricas serão as prioridades da empresa


FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR/JC
No centro das turbulências que atravessam o setor elétrico, e com negócios sob investigação na Operação Lava Jato, a Eletrobras vai encolher e concentrar suas atividades em setores em que o governo considera a presença estatal estratégica: as grandes hidrelétricas e linhas de transmissão. Há duas semanas, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recebeu da consultoria Roland Berger levantamento dos ativos que poderiam ser colocados à venda. Participações da Eletrobras e suas subsidiárias estão na lista.
"Estamos trabalhando em um projeto de reestruturação e em uma nova estratégia da holding, bem como a de cada uma das coligadas e das distribuidoras. Temos 154 Sociedades de Propósito Específico embaixo da Eletrobras. A nossa meta é fazer um grande enxugamento nisso, mas temos de avaliar cada uma delas. Isso está sendo feito", disse o ministro.
Além dessas participações, a Eletrobras planeja se desfazer das distribuidoras de energia nos estados, ou pelo menos de parte desses ativos. A primeira a ser vendida é a Celg, de Goiás, onde a estatal tem 51% de participação. A companhia tem valor de mercado estimado em
R$ 8 bilhões. Outras seis distribuidoras poderão ser vendidas, ou pelo menos parte dos ativos: Cepisa, do Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, de Rondônia; Eletroacre, do Acre; e Bovesa, de Roraima. Também estão na lista a CEA, do Amapá; e a Cerr, de Roraima, onde a Eletrobras tem apenas participação.
"O Brasil está à venda. O grande problema dessas distribuidoras é a má gestão da Eletrobras, que sofre com indicações políticas. Mas são empresas interessantes com um grande mercado e que vão dar retorno a seus investidores. A Equatorial, por exemplo, comprou a distribuidora do Maranhão e a do Pará, e as empresas já são lucrativas. O mesmo vai ocorrer com a Energisa, que comprou o Grupo Rede, que estava sob intervenção, e agora já se fala até em dividendos", diz Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da UFRJ.
Na semana passada, o ministro Eduardo Braga recebeu o presidente do conselho da Eletrobras e atual diretor de Infraestrutura do Bndes, Wagner Bittencourt, para tratar da venda da Celg e debater o relatório da Roland Berger. Segundo Braga, o governo espera procedimentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para vender a distribuidora goiana.
Mais do que arrecadar recursos para a União, a venda de ativos do setor elétrico visa a reduzir o endividamento da Eletrobras e fortalecê-la financeiramente nas áreas em que o governo considera fundamental a presença forte da estatal. Segundo especialistas, as distribuidoras vão atrair interesse dos investidores estrangeiros, sobretudo dos chineses. "Os grandes concorrentes serão os chineses, até por causa do dólar", lembra Castro, explicando que os grupos nacionais estão sem caixa para investir nesses projetos.

Cenário obrigará governo a fazer corte drástico nas estatais em 2016

Diante da piora no cenário econômico, com disparada do dólar, alta dos juros e maior custo de captação, o governo decidiu reduzir em R$ 11 bilhões a previsão de investimentos das estatais neste ano, e 90% desse valor é do grupo Petrobras. O governo vai enviar ao Congresso um projeto de lei que altera o orçamento dessas empresas, que hoje é de R$ 106,1 bilhões. Com o corte, o montante ficará em R$ 95 bilhões, patamar abaixo do de 2012, em valores nominais.
Sem perspectiva para a melhora no horizonte, o governo cogita novo corte no orçamento das estatais de 2016, estimado em R$ 96,9 bilhões. A proposta no Congresso embute um corte de R$ 9,3 bilhões, em relação ao orçamento de 2015. Só as empresas do grupo Petrobras cortaram R$ 7 bilhões; o grupo Eletrobras, R$ 500 milhões; e os bancos públicos,
R$ 100 milhões. Empresas como Infraero, Correios e Embrapa reduziram R$ 1,7 bilhão os investimentos previstos.
O recuo nos investimentos das estatais começou em 2014, após a conclusão das obras da Copa, e se intensificou neste ano com a crise econômica. Entre janeiro e agosto, as empresas executaram só 46,8% do orçamento de R$ 106,1 bilhões, conforme portaria do Ministério do Planejamento publicada no Diário Oficial. No mesmo período de 2014, a execução havia chegado a 61,62%.
"Tal processo continua e tende a ser relevante em 2015 e 2016, reforçando o caixa das empresas em resposta ao aumento do custo de captação, mantendo o foco nos projetos mais estratégicos e, ao mesmo tempo, resultando em menor necessidade de recursos para o orçamento de investimento", diz o Ministério do Planejamento.
Segundo o ministério, o investimento executado pelas estatais subiu de R$ 21,7 bilhões em 2003 para R$ 83,9 bilhões em 2010. Em 2011, foram investidos R$ 82,4 bilhões, e em 2013, R$ 113,5 bilhões, o pico da série. "Em 2013, estávamos com o pé no acelerador. Hoje, estamos com o pé no freio", disse Murilo Barella, do Ministério do Planejamento.