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- Publicada em 28 de Setembro de 2015 às 15:46

Excluídos do mercado de trabalho

Falta de acessibilidade e preconceito são os principais entraves de quem busca uma oportunidade

Falta de acessibilidade e preconceito são os principais entraves de quem busca uma oportunidade


STOCKVAULT/DIVULGAÇÃO/JC
Há 20 anos, uma bala perdida mudou a história de vida de Jandirlei Cândido. Com uma lesão na coluna, ele não tem o movimento das pernas e depende de cadeira de rodas. O preconceito com o equipamento acaba virando uma barreira na hora de conseguir emprego fixo, mesmo com um currículo que acumula todo tipo de experiência. Com 38 anos e um curso de Administração incompleto, a principal reclamação é Cândido é a falta de empregos em locais com acessibilidade.
Há 20 anos, uma bala perdida mudou a história de vida de Jandirlei Cândido. Com uma lesão na coluna, ele não tem o movimento das pernas e depende de cadeira de rodas. O preconceito com o equipamento acaba virando uma barreira na hora de conseguir emprego fixo, mesmo com um currículo que acumula todo tipo de experiência. Com 38 anos e um curso de Administração incompleto, a principal reclamação é Cândido é a falta de empregos em locais com acessibilidade.
Há alguns anos, ele não pôde prosseguir em um processo seletivo para uma indústria farmacêutica, porque a empresa não contava com instalações adequadas e, portanto, era proibida por lei de contratar um usuário de cadeira de rodas. "Acabo perdendo vagas por ser cadeirante. Vejo que o mesmo acontece com quem tem uma muleta ou perna mecânica", conta.
A advogada Estela Roisemen passou por uma experiência horrível em uma das inúmeras entrevistas que fez em busca de um emprego de carteira assinada. O recrutador havia se interessado por seu currículo, mas mudou de ideia ao constatar sua deficiência. "Se eu soubesse que você era assim, nem tinha chamado", foi a resposta que ela ouviu. Vítima de paralisia cerebral, ela tem o movimento dos braços limitados e se locomove com auxílio de cadeira de rodas. "Dentro da minha área jurídica está horrível. O ideal seria ter um emprego fixo para me sustentar. O Brasil precisa mudar", avalia.
Conseguir um emprego com carteira assinada ainda é um sonho distante para a maioria das pessoas com deficiência no País. Apesar de mecanismos como a Lei de Cotas, de 1991, que obriga empresas a destinar de 2% a 5% de suas vagas a esses profissionais, só 0,77% dos empregos formais do País são ocupados por pessoas com deficiência, segundo dados da Relação Anual de Informações (Rais) do ano passado.
Para quem procura vagas e quem contrata, é consenso que a falta de acessibilidade e o preconceito são entraves. Segundo pesquisa inédita feita pela Catho e pelo Instituto iSocial com profissionais de Recursos Humanos, 86% deles consideram a Lei de Cotas a principal razão para contratar pessoas com deficiência. Só 9% apontaram o perfil de candidato como motivo. "As empresas se movem muito em função da fiscalização. Muitas vezes, fazem um esforço durante o período de fiscalização. Apresentam um resultado e depois, ao longo do ano, vão mandando embora", diz Jaques Harber, sócio-diretor do iSocial, entidade que faz a intermediação entre os profissionais e o mercado.
A pesquisa mostrou ainda que 60% dos recrutadores acreditam que há preconceito no ambiente de trabalho. Gilberto Kemer, que é presidente da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul e tem perda total da visão, observa que muitas empresas usam como desculpa para a baixa contratação a pouca qualificação para o mercado de trabalho, argumento que ele refuta. Murilo Cavellucci, diretor de Gente e Gestão da Catho, concorda com a constatação. "A questão aqui é fundamentalmente cultural. Há restrições, mas, do ponto de vista de qualificação, está comprovado que não existe diferença entre as pessoas com deficiência e outros profissionais", diz.
De acordo com a legislação, empresas com até 200 empregados devem preencher 2% das vagas com pessoas com deficiência. Em firmas de 201 a 500 funcionários, a cota sobe para 3%. Para aquelas que empregam entre 501 e mil pessoas, a parcela é de 4% e, nas companhias com mais de mil funcionários, de 5%. Demissões de deficientes devem ser compensadas por admissões de substitutos.

Cadeirantes e pessoas com deficiência visual sofrem mais discriminação

Com a Lei de Cotas, a obrigatoriedade de contratação de pessoas com deficiência provoca situações distintas, dependendo do grau de limitação do candidato. De acordo com quem atua na inserção de deficientes no mercado, aqueles com deficiências severas - como cegos e cadeirantes - encontram dificuldade para conseguir emprego.
Já outros, com limitações mais leves - surdez de apenas um dos ouvidos, por exemplo -, são disputados pelo mercado. "Nesses cadastros, os cadeirantes são minoria", relata Jorge de Souza, presidente da Associação dos Amigos Deficientes Físicos (Aadef), entidade que mantém um banco de vagas voltadas para o grupo.
Situação semelhante ocorre no Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD). A entidade mantém um banco de dados com cerca de 60 mil currículos. No ano passado, conseguiu recolocar 400 funcionários com deficiência, e só dois eram cadeirantes. "Costumo brincar que vou colocar uma balança aqui, porque a empresa sempre quer uma deficiência leve. Pedem isso expressamente", conta Teresa Costa D'Amaral, superintendente do IBDD.
Enquanto isso, a fiscalização continua aquém do necessário. O Ministério do Trabalho conta com só 240 auditores fiscais para acompanhar a contratação de deficientes em todo o País. Nos últimos anos, o número de empresas autuadas aumentou, mas, para a auditora Fernanda Pessoa, responsável pela inserção de deficientes, ainda é preciso mais atenção, sobretudo às demissões após a fiscalização. "Tem crescido bastante, mas poderia ser maior. A sensação que tenho é que a fiscalização fica enxugando gelo", afirma Fernanda, que implantou um sistema eletrônico para detectar mais facilmente as demissões de deficientes.