O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor Müller, defendeu participação mais concreta e efetiva da classe empresarial na definição de políticas para mudar a situação atual do País. Palestrante da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul realizada ontem, o dirigente sindical garantiu que esta influência é necessária para evitar que outros setores façam mudanças que tragam ainda mais prejuízos. "A omissão neste momento pode trazer consequências que não desejamos", reforçou. Um bom início para mudar o quadro atual, segundo ele, pode ser as eleições municipais de outubro.
Müller enfatizou que a comunidade empresarial, por meio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entregou documento ao presidente interino Michel Temer e a todos os deputados federais, apresentando 36 propostas para consolidação no período 2016-2018. As principais demandas da Fiergs se concentram na redução da carga tributária, da máquina estatal, da burocracia, do déficit público e das taxas de juros. O presidente também citou a modernização da lei trabalhista e do sistema previdenciário, e o apoio às parcerias público-privadas e ao comércio internacional. "Estamos cansados de discursos, queremos ajudar, mas não queremos que nos atrapalhem", assinalou. Acrescentou que é importante o novo governo adotar medidas de menor impacto, mas constantes, para que o mercado e o consumidores iniciem a retomada da confiança.
O presidente da Fiergs também defendeu a reforma política. Segundo ele, já há mais de 30 partidos constituídos e outros 20 pedidos de registro. Argumentou que não existem tantas ideologias para diferenciar estas agremiações. "Temos, no máximo, de cinco a seis teses políticas diferentes", definiu. Embora reconhecendo a proposta como utópica, Müller destacou que o ideal seria a convocação de uma constituinte para reformar a Constituição de 1988. Mas ponderou que as decisões deveriam ser tomadas por notáveis e não por políticos. Também considerou que o sistema parlamentarista seria melhor alternativa.
O dirigente empresarial afirmou que a crise atual não tem precedentes no País, pois combina problemas políticos, econômicos e éticos. De acordo com Müller, as anteriores ou eram políticas ou econômicas, que facilitavam as soluções.
O presidente da Fiergs ainda lembrou que, em menos de duas semanas, o novo governo já precisou trocar ministros em função de acusações de recebimento de propinas. "É preciso uma limpeza geral em Brasília, independentemente de partido, para combater a corrupção. Existem algumas honrosas exceções no Congresso Nacional, mas são minoria. Atualmente, o Congresso é um balcão de negócios", criticou Müller.
Atividade industrial gaúcha segue em queda em abril, mostra levantamento
O mês de abril registou nova queda na atividade industrial gaúcha em relação a março, e as expectativas para os próximos seis meses se deterioram entre os empresários ouvidos na Sondagem Industrial, divulgada ontem pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). O índice de produção ficou em 40,8 pontos (caindo 10 pontos na comparação com o mês anterior) e o de emprego, em 43,3 pontos (era 46,2). O ciclo de fechamento de postos de trabalho completou dois anos. "A crise no setor continua intensa, e as perspectivas não são as melhores no curto prazo", afirma o presidente da Fiergs, Heitor José Müller.
À exceção do ajuste dos estoques, cujo excesso vinha sendo um dos obstáculos ao desempenho da indústria gaúcha desde o início de 2013, não há indicador mostrando melhora. Em abril, o estoque em relação ao planejado ficou em 49,9 pontos, sobre a linha divisória dos 50 pontos, o que significa ajustado ao nível previsto pela primeira vez em 39 meses. "A redução da demanda doméstica, associada a uma deterioração do mercado de trabalho e à falta de confiança de empresários, é determinante para a persistência desse cenário de grandes dificuldades", enfatiza.
O reduzido nível de atividade no mês é reforçado pela baixa utilização da capacidade instalada (UCI): 64%, um ponto percentual abaixo de março e 7,8 pontos percentuais da média histórica de abril. Já o índice de UCI em relação à usual comprovou a maior ociosidade do setor ao cair de 35,9 para 33 pontos.
Com resultados tão insatisfatórios, os empresários gaúchos seguem receosos. A Sondagem mostrou piora nas expectativas para os próximos seis meses. Todos os indicadores recuaram em maio em relação a abril. A projeção aponta para quedas adicionais na demanda (47,1 pontos) e no emprego (42,7 pontos). Com isso, a intenção de investir da indústria gaúcha atingiu novamente o piso da série histórica, aos 33,6 pontos em maio, 2,9 abaixo de abril.
Da mesma forma, as perspectivas ficaram mais negativas para as compras de matérias-primas (44,8 pontos). Até para as exportações ocorreu uma forte reavaliação entre os entrevistados. O indicador recuou de 57,6 para 50,6 pontos em maio (estabilidade), após quatro meses de projeções bem mais positivas.