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Trabalho

- Publicada em 05 de Fevereiro de 2014 às 00:00

Calor reduz produtividade e eleva riscos de acidentes


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Ontem, ao meio-dia, enquanto as pessoas passavam apressadas nas ruas para evitar o sol forte, com sensação térmica acima dos 40°C, Lucas Santos, 18 anos, pintava a fachada de um estabelecimento comercial na Travessa da Paz, próximo ao Parque Farroupilha. A condição, impensada para muita gente, é ideal para ele. Santos conta que o calor é um aliado, já que ajuda a tinta a secar mais rápido, mas não nega o óbvio: “é bem quente”, comenta. “Eu fico mais cansado do que o normal nesta época”.
Ontem, ao meio-dia, enquanto as pessoas passavam apressadas nas ruas para evitar o sol forte, com sensação térmica acima dos 40°C, Lucas Santos, 18 anos, pintava a fachada de um estabelecimento comercial na Travessa da Paz, próximo ao Parque Farroupilha. A condição, impensada para muita gente, é ideal para ele. Santos conta que o calor é um aliado, já que ajuda a tinta a secar mais rápido, mas não nega o óbvio: “é bem quente”, comenta. “Eu fico mais cansado do que o normal nesta época”.
O médico Cláudio Schmitt, integrante do Comitê de Medicina do Trabalho da Unimed Porto Alegre, corrobora com a queixa do pintor: trabalhar com um calor desses é muito mais desgastante. Schmitt explica que o efeito natural da alta temperatura é a desidratação, que leva à menor capacidade de raciocínio e ao aumento da fadiga. “Quem é obrigado a pensar tem dificuldade para raciocinar, e o risco de acidente do trabalho também aumenta pela perda de concentração”.
De acordo com pesquisa publicada na revista especializada Nature Climate Change, o aumento do calor, somado à elevação da umidade do ar (que torna mais difícil amenizar a temperatura corporal), já responde por uma queda de 10% da produtividade nos meses mais quentes do ano em todo mundo. A previsão é de que esse percentual suba para 20% até 2050 e chegue a 60% em 2200, caso as tendências atuais sejam mantidas.
Mesmo para quem adora o verão, trabalhar ao sol não é fácil. É o caso do agente de trânsito, Cristiano Machado. “Eu prefiro o calor ao frio, mas, mesmo assim, sinto um desgaste maior nessa época, reduz um pouco o ânimo”, conta. Machado faz os deslocamentos com bicicleta, condição que assegura o uso de bermudas. Os agentes que usam viaturas não têm essa possibilidade.
Com as quedas constantes de energia, o agente é responsável pela orientação de motoristas e pedestres quando os semáforos deixam de funcionar. Ontem, por volta das 15h, enquanto a sensação térmica era de 42°C, o agente controlava o trânsito no cruzamento das avenidas João Pessoa e Venâncio Aires. Para amenizar os efeitos do calor, Machado aumenta a ingestão de água e recorre ao filtro solar. “O jeito é beber muita água e ficar na sombra quando possível”, destaca.
As melhores formas de contornar o clima nada propício para o trabalho são aumentar a ingestão de água mineral, usar protetor solar e boné, evitar exposição ao sol entre às 11h e às 15h, quando possível, e climatizar o ambiente para dissipar o calor. “Ventilação nem sempre é suficiente, mas pode refrescar um pouco. A melhor solução é a mais cara: o ar condicionado central. O valor é alto, mas o investimento é recuperado depois de um tempo”, assegura Schmitt. Investir na saúde do funcionário, nesse caso, é fomentar, também, a produtividade.

Medidas para driblar as altas temperaturas ingressam nas pautas do setor sindical

Trabalhar sob um sol de 40°C, independentemente  do tipo de trabalho, não é fácil, mas fica ainda mais difícil quando, além da exposição à alta temperatura, carrega-se um peso de 8kg a 10kg. Essa é a condição de trabalho dos carteiros, que iniciaram greve neste mês para pleitear melhorias no plano de saúde e aproveitaram para reivindicar, também, a possibilidade de entregas matutinas das correspondências. As queixas contra o calor não são de hoje, e o Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Rio Grande do Sul (Sintect-RS) já cogitou, anteriormente, fazer o pedido. “Mas agora o clima está pegando mais. Está horrível”, detalha o carteiro e secretário de divulgação do Sintect-RS, Nilson Baldez da Silva. Com os trabalhos de entrega concentrados no período da manhã, os carteiros poderiam executar funções internas no período da tarde, evitando exposição ao sol forte – possibilidade que, segundo Silva, é estudada por estados como Goiás e Ceará. Até agora, no entanto, as negociações não evoluíram, ressalta o sindicalista. “Todo nosso diálogo ocorre na esfera judicial, no Tribunal Superior do Trabalho (TST)”.
O diretor de Saúde do Trabalhador da regional da Central Única dos Trabalhadores (CUT/RS), Mário José Dias dos Reis, lembra que as reivindicações de melhorias de condições do ambiente de trabalho no verão não são recentes. “Esse movimento com relação a esse período já tem algum tempo, mas sempre há resistência por parte das empresas. É uma reivindicação que não está conseguindo muito êxito”. Apesar da queixa não ser atual, neste ano as reclamações são maiores, sustenta Reis.  “Estamos com um verão atípico e com temperaturas muito altas, levando várias categorias a questionar a adaptação dos espaços do trabalhador”.
A orientação para implantação de sistemas que amenizem o estresse térmico é repassada às empresas há mais tempo, acrescenta Reis, mas o custo é sempre um entrave.
O discurso dos dirigentes sindicais reforça a questão de custo e benefício dos investimentos em climatização dos ambientes ou em práticas que possam minimizar o calor. Uma das ações é justamente oferecer pausas de descanso ao longo da jornada, sugere Reis, onde seja concedido dez minutos de descanso para cada 50 minutos trabalhados. “É até uma forma de recuperar o ânimo. Além disso, há categorias, que trabalham na rua, que gostariam de exercer as tarefas num período mais ameno, mas parece que não está havendo consenso.”
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