A nova unidade da Neugebauer ficará em Arroio do Meio, no Vale do Taquari, onde o grupo Vonpar, dono da fábrica de chocolates mais antiga do Brasil, já tem a planta da Wallerius, do segmento de doces, como pirulitos e balas, arrematada no final de 2009. A nova localização, conforme antecipado pela página 3 do Jornal do Comércio na semana passada, facilitará a integração dos negócios, que desde 2010 ganharam o braço de alimentos, reunindo as novas operações, que conta ainda com a MuMu, outra marca comprada pela Vonpar.
O negociador pela companhia junto ao governo estadual, Sérgio Maia, sócio da Trust&Co, projeta que em poucas semanas serão acertados os últimos detalhes do acordo de incentivos fiscais para o empreendimento, orçado em R$ 120 milhões. A origem gaúcha deve compensar eventual desvantagem frente a outros estados que cortejavam a unidade, como Goiás, Bahia e Minas Gerais.
“Tivemos reuniões todos os dias na semana passada. Só faltam detalhes. Está tudo encaminhado para o empreendimento ficar no Rio Grande do Sul”, garantiu Maia, cuja empresa é especializada na assessoria e atração de investimentos. “Estamos equalizando as condições fiscais com a área de Desenvolvimento e da Fazenda do governo”, acrescenta o representante.
Ele confirmou que Arroio do Meio será a sede da nova planta. Com isso, a cidade de Guaíba, que chegou a ser apontada como o destino da operação em pedido de incentivos aprovado pelo Conselho do Fundopem, em 2010, sai de cena.
Negociadores do governo estadual informaram que o acerto afastando o risco de perder o empreendimento ocorreu na tarde de quinta-feira. Oficialmente, as secretarias estaduais da Fazenda e a de Desenvolvimento e Promoção do Investimento não comentam como será o acordo. “A empresa que deve falar”, disse uma fonte governista. Agora a fase é de ajuste de contratos, com enquadramento dentro das regras de incentivos. O plano de negócios do empreendimento enfrenta como maior desafio amenizar os custos de logística, que seriam menores em estados mais próximos do Sudeste, que lidera o consumo nacional. O Sul de Minas montou em cinco anos um polo de chocolates, atraindo multinacionais.
Além do Fundopem, que adia por até dez anos o recolhimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) gerado pela nova planta, a unidade terá isenção fiscal prevista no programa Integrar. O mecanismo estipula níveis de abatimento conforme o grau de desenvolvimento do município. Quanto mais pobre, maior o desconto. Pela tabela do programa, que está em reformulação no atual governo, Arroio do Meio consegue abater 31% de parte do ICMS devido, enquanto Guaíba se enquadra em 30%. “A intenção é permanecer no Estado mesmo que os benefícios fiscais não sejam no mesmo nível de outras regiões”, adiantou o sócio da Truts&Co.
Um membro da família Vontobel projetou, em maio, que o tempo estava se esgotando diante da necessidade de disparar a implantação da unidade. O limite para bater o martelo seria julho. Equipamentos importados da Europa já chegaram para estruturar as novas linhas. A atual planta, que fica em Porto Alegre, opera no limite da capacidade e não consegue dar conta de um mercado consumidor que cresce 20%. A meta é ter a nova produção em até um ano e meio. Na disputa pela fábrica, a secretária de Desenvolvimento Econômico mineira, Dorothea Werneck, chegou a pegar um avião em um sábado para encontrar um dos conselheiros da Vonpar. “Eles são muito agressivos, mas preferimos ficar aqui”, respondeu o interlocutor.
Prefeito de futura sede diz que empreendimento é espetacular
O grupo Vonpar obteve a licença prévia para se instalar na área industrial guaibense emitida em abril passado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Mas a requisição da licença de instalação, que dá o sinal verde para montar a planta, não foi solicitada até hoje. O que reforça o novo destino da indústria. Na sexta-feira passada, a assessoria de Imprensa da Vonpar confirmou que a intenção é investir no Rio Grande do Sul e que Guaíba ainda estaria nos planos.
O prefeito da cidade do Vale do Taquari, Sidnei Eckert (PMDB), foi pego de surpresa quando o presidente do Conselho de Administração do grupo, Ricardo Vontobel, anunciou que sua cidade seria a sede em evento público há 20 dias. “Ele pediu para aguardar, pois dependia das conversações com o Estado. Não adianta eu ficar correndo atrás. Vou incomodar o homem. Mas a previsão era de solução em junho”, reagiu o prefeito, que aponta a farta área de terra onde fica a Wallerius como item decisivo para a escolha.
Eckert recordou que o terreno foi repassado para a nova planta da fábrica de balas e que era uma área inicialmente destinada a equipamentos de lazer. O administrador ouviu ainda dos empresários que a instalação em Guaíba havia se complicado. Em 2010, um impasse para o licenciamento do antigo terreno da Ford (que desistiu de construir uma planta automotiva em 1999 no Estado) como distrito industrial gerou impaciência e incerteza sobre o prazo de liberação.
“Eles já vieram avaliar a infraestrutura. Na Região Metropolitana é rotina anunciarem investimento de R$ 120 milhões, aqui este valor é espetacular”, comemorou o gestor público, que já prepara mais vantagens fiscais, como abatimento da parte de ICMS gerado pela planta e que é repassado ao município pelo governo estadual. Eckert desfila como trunfo a formação de um polo de alimentação no município, com unidades de ração animal da Brasil Foods, de proteína para alimentos da Brimil e nova fábrica da Cosuel, dona da marca Dália, avaliada em R$ 43 milhões, para produzir leite em pó. A Girando Sol, de produtos de limpeza, também monta nova unidade, com aporte de R$ 45 milhões. “A indústria responde por 50% do nosso Produto Interno Bruto”, dimensionou o prefeito.
Até agora, Paulo Scalco, secretário de Governo da prefeitura de Guaíba, não recebeu nenhum comunicado oficial sobre a mudança de sede da Neugebauer. Segundo ele, a perda da empresa para Arroio do Meio poderá ser compensada com os investimentos já confirmados de companhias como a Terex e a Vipal.