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Coluna

- Publicada em 01 de Novembro de 2012 às 00:00

Reencontro com Zanotta e Guevara


Jornal do Comércio
Júlio Zanotta é um nome de referência na cultura porto-alegrense, na dramaturgia e na direção cênica, na literatura e, sobretudo, na militância em nome da cultura. Zanotta está na gênese do grupo Ói Nóis Aqui Traveis. Foi presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, depois sumiu e no ano passado retornou. Teve um primeiro texto estreado, em torno de Shakespeare, e agora nos apresenta este O apocalipse segundo Santo Ernesto de La Higuera, que recebe edição da Palmarinca, de Porto Alegre, e teve uma leitura dramatizada do texto, no Teatro de Câmara, em iniciativa da Coordenadoria de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura. Apesar da chuvarada daquela noite, o teatro esteve lotado, e o entusiasmo do público respondeu justificadamente à iniciativa, que chegou a colocar 50 intérpretes em cena, entre atores e bailarinos, alguns formando um coral e outros trabalhando na personalização de alguns dos principais ícones do século XX.
Júlio Zanotta é um nome de referência na cultura porto-alegrense, na dramaturgia e na direção cênica, na literatura e, sobretudo, na militância em nome da cultura. Zanotta está na gênese do grupo Ói Nóis Aqui Traveis. Foi presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, depois sumiu e no ano passado retornou. Teve um primeiro texto estreado, em torno de Shakespeare, e agora nos apresenta este O apocalipse segundo Santo Ernesto de La Higuera, que recebe edição da Palmarinca, de Porto Alegre, e teve uma leitura dramatizada do texto, no Teatro de Câmara, em iniciativa da Coordenadoria de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura. Apesar da chuvarada daquela noite, o teatro esteve lotado, e o entusiasmo do público respondeu justificadamente à iniciativa, que chegou a colocar 50 intérpretes em cena, entre atores e bailarinos, alguns formando um coral e outros trabalhando na personalização de alguns dos principais ícones do século XX.
Aliás, esta é a primeira característica do texto de Zanotta: a partir da morte de Ernesto Che Guevara na Bolívia, o dramaturgo desenvolve um tema tão improvável quanto, por isso mesmo, provocador: Deus resolve chamar Guevara e lhe entrega o livro com os sete selos do Apocalipse. Guevara dependura o livro no bico de um condor e, a partir daí, a peça - num formato de um ritual gregoriano - faz a apresentação e a interpretação daquilo que seriam os anúncios do final do mundo. De um lado, alguns anjos: Luz Del Fuego, Carlos Gardel, Pancho Villa, Marilyn Monroe, Frida Kahlo, Salvador Allende e Glauber Rocha. Do outro, os demônios: Stalin, Mussolini, Pinochet, Idi Amin, Pol Pot, Sadam Hussein e Bin Laden. Mas o rei de todos é Adolf Hitler, que comanda, através dos coronéis bolivianos que prendem Guevara nas montanhas, o seu assassinato. Zanotta aproveita para refletir sobre a violência institucionalizada pela política no século XX e recria o assassinato de Che.
A leitura dramatizada durou quase duas horas. O texto, se encenado, provavelmente passa de duas horas. O texto dramático, enquanto encenação virtual, segundo as rubricas do autor, que foram lidas pelo próprio escritor, deve ser lido enquanto uma bela possibilidade que a dramaturgia contemporânea nos possibilita, mesclando dança, música, texto, recital etc. num espetáculo pleno e completo, de ritmo lento, porque é concebido como uma espécie de ritual de passagem, vivido por Che, de sua condição de guerrilheiro na terra à nova situação de santidade, em algum lugar do espaço. 
Com a coreografia de Carlota de Albuquerque, o grupo Terpsi fez bela presença e se constituiu numa das principais atrações do espetáculo. Na verdade, assistimos a um momento inédito e ímpar em nossa cena: diretores e atores das mais diferentes linhas de criação e gerações dispuseram-se a participar desta iniciativa. Isso, por si só, já seria algo fantástico. Mas houve mais: o cachê pago pela SMC foi dirigido à Casa do Artista Riograndense, que abriga nossos velhos artistas, já que todos abriram mão do valor em prol da instituição. Assim, para além da atração do espetáculo, tivemos uma benemérita ação social, que emociona e alegra. Que bom que ainda encontramos tempo e espaço para ações como estas.
Espero que o texto de Zanotta não morra nesta única performance. Sei que o custo de um espetáculo semelhante deve ser elevado, ainda que não tanto, se considerarmos que o uso de imagens fotográficas e cinematográficas mencionadas encontra-se disponível na rede internacional de computadores. De qualquer modo, não será no palco do Teatro de Câmara, mas sim no Theatro São Pedro, por exemplo, que teria sentido e grandeza uma encenação como esta. Eu gostaria de ver este espetáculo, para voltar a me emocionar como me emocionei - nos emocionamos todos - naquela noite da leitura dramatizada. De qualquer modo, Zanotta mostrou que está em forma e, mais que isso, que mantém, de um lado, suas qualidades de escritor e, de outro, suas características de ironia e de olhar crítico, que tanto nos faz falta.
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