Disputa de suplentes gera divisão no PT

Embate entre os parlamentares Marcelo Sgarbossa e Adeli Sell por mandato na Câmara pode ser levado à Justiça

Por Nikelly de Souza

vereador diz que pretende recorrer ao PT nacional
Um impasse divide uma das cadeiras da Câmara de Porto Alegre pertencente ao PT, disputada por dois suplentes: Marcelo Sgarbossa - atualmente filiado ao PV e que obteve 3.770 votos na eleição de 2020 - e Adeli Sell, que recebeu 2.344 votos.
Com a eleição para a Assembleia dos ex-vereadores petistas Laura Sito e Leonel Radde, ficaram vagas duas cadeiras do partido na Câmara. A segunda das vagas ficou com Engenheiro Comassetto. Porém, a disputa para a primeira vaga aberta teve início após Sgarbossa, que está à frente de Sell na lista de suplentes, se desfiliar do PT para ingressar no PV em fevereiro do ano passado e agora tentar retornar novamente ao PT para assumir a cadeira. A movimentação, então, gerou contestações por parte de Sell.
De acordo com a lista de suplentes do PT na Câmara, Reginete Bispo aparece em primeiro lugar como suplente, mas, eleita deputada federal, assumirá uma cadeira em Brasília. Posteriormente, Sgarbossa está ocupando o segundo lugar e Comassetto - já estabelecido no cargo - em terceiro. Em quarto lugar na disputa está o nome de Adeli Sell.
Sgarbossa afirma ter feito a troca da sigla por um acordo realizado internamente entre os partidos. A condição selada era de que o PV ingressaria na Federação Brasil da Esperança em troca da filiação de Sgarbossa. O suplente disse que o partido tinha interesse em sua atuação política porque o considerava um quadro importante, especialmente por sua relação com pautas ambientais, uma das principais bandeiras do PV. "Durante o processo de pedido de apoio para a Federação, o meu nome foi colocado na mesa". "A minha saída não foi uma infidelidade, foi uma missão que eu recebi do PT para eleger Edegar Pretto com o ingresso do PV na federação", argumentou.
Em um vídeo enviado pelo ex-vereador à reportagem, datado do anúncio da Federação PT-PCdoB-PV em 2022, o presidente do PV, Márcio Souza, disse que Sgarbossa e o petista Carlos Pestana haviam trabalhado para "dar um passo à frente na construção da Federação, e o Sgarbossa, numa posição pessoal desprendida, se colocou à disposição do PV", disse Souza, falando posteriormente na constituição de "um acordo político importante". Porém, a manifestação de Souza não fala sobre a existência de um acordo específico que tivesse cedido Sgarbossa às fileiras do PV. 
Já Adeli Sell definiu como "oportunista" a tentativa do retorno de Sgarbossa ao PT para assumir o mandato. Em entrevista, o suplente defendeu que grande parte dos votos recebidos por Sgarbossa nas eleições de 2020 vieram de militantes do PT e que, portanto, a cadeira deveria ser exercida por algum filiado do partido. Sell, que seria o próximo na lista de suplência, atrás de Sgarbossa, disse que irá recorrer à Justiça, caso necessário. "Quando ele soube que ficaram vagas essas duas cadeiras do PT e que ele poderia assumir, ele quis voltar ao partido. Isso é um oportunismo", acusou.
O advogado especialista em direito eleitoral Antônio Augusto Mayer dos Santos entende que, com a saída do PT, houve uma ruptura institucional grave protagonizada por Sgarbossa e por essas razões a tendência é a de que ele tenha escassas condições judiciais para permanecer com a cadeira na Câmara. "O debate judicial se inicia pela ordem da suplência, mas nesse caso houve uma ruptura com o vínculo partidário". Perguntado sobre as possibilidades de permanência de Sgarbossa como titular do mandato, Mayer salientou que não é possível ter uma resposta precisa. "Agora cabe à justiça eleitoral decidir", concluiu.
Já Lucas Lazari, que também advoga na área, crê que Sgarbossa terá uma propensão a permanecer no cargo caso consiga comprovar que sua saída do PT não foi um ato de infidelidade partidária. Conforme afirmou Lazari, se o partido aceitar a filiação de Sgarbossa, a tendência é de que o resultado de uma possível judicialização seja favorável ao suplente, porque o entendimento seria de que o próprio partido não considerou o ato como infiel.
Conforme a presidente do PT municipal, Maria Celeste de Souza, a executiva do partido irá se reunir ainda nesta semana para decidir se irá acatar a filiação de Sgarbossa. "Nós queremos garantir os ritos legais a partir do que diz o estatuto do PT, garantindo todos os direitos aos suplentes". Questionada sobre como estão se dando os apoios internos, Celeste afirmou que embora tenha havido uma manifestação de suplentes em apoio a Adeli, ainda não há um consenso entre os filiados. "Tem militantes que estão apoiando o Adeli e outros, Sgarbossa", afirmou a presidente, indicando que há uma divisão interna no PT.
Por ora, nesta quarta-feira (1), quem assume é Sgarbossa, independente a qual partido estiver vinculado. A partir disso, o PT tem 30 dias para recorrer à cadeira judicialmente. Após transcorrido esse prazo, Adeli também tem o direito de reivindicar ao mandato pelo período de 30 dias. Caso haja uma judicialização do processo, enquanto não houver uma sentença final, Sgarbossa permanece como titular do mandato.
 

Cláudia Araújo e Nelcir Tessaro também viveram conflito por vaga de vereador

O caso de disputa de cadeiras envolvendo Marcelo Sgarbossa e Adeli Sell, ambos do PT, não é incomum na Casa. Outro conflito foi protagonizado por Cláudia Araújo (PSD) e Nelcir Tessaro (União Brasil) já ocorreu anteriormente na Câmara em julho de 2019. Tessaro já havia assumido o mandato quando foi cassado por infidelidade partidária.
Após concorrer à vereança em 2016 pelo Partido Social Democrático (PSD), ficando como segundo suplente, Tessaro decidiu desfiliar-se do partido para ingressar DEM (que se tornou União Brasil em fusão com o PSL).
Posteriormente, com a cadeira do PSD vaga, Tessaro assumiu o mandato filiado ao DEM, mas o próprio PSD ingressou com uma ação reivindicando a cadeira para o partido e venceu a disputa judicial. Desta forma, Cláudia Araújo seria a próxima na lista da suplência e foi responsável por assumir o mandato, exercido até os dias de hoje.