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'PDT sai machucado, mas vivo da eleição', avalia Pompeo de Mattos
Partido desempenhou mal nas majoritárias, mas perdeu poucas cadeiras nos legislativos
"Para aqueles que anunciavam nossa morte, nós proclamamos a nossa ressurreição", declarou Pompeo de Mattos, deputado federal mais votado do PDT gaúcho, com 100 mil votos. A afirmação, apesar de entusiasmada, vem juntamente a uma reflexão sobre erros cometidos pelo partido durante as eleições gerais de 2022 e lamentações pelas circunstâncias sob as quais o pleito ocorreu.
Apesar de ter perdido apenas duas cadeiras na Câmara dos Deputados e ter mantido seus assentos na Assembleia Legislativa mesmo em uma eleição tão polarizada, a corrida eleitoral protagonizada por Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trouxe resultados historicamente ruins para o PDT.
O candidato pedetista à presidência da República, Ciro Gomes, recebeu apenas 3% dos votos válidos, enquanto Vieira da Cunha fez a menor votação da história do PDT em uma disputa para o governo do Rio Grande do Sul, conquistando apenas 1,6% dos votos dos gaúchos.
Ainda assim, Pompeo vê o PDT resistindo à eleição mais polarizada da história da Nova República. "Sai machucado e ferido, mas sai vivo", nas palavras do deputado. Para ele, o momento é de fazer leituras, digerir o resultado das urnas e preparar o partido para o próximo pleito. Se depender dele, Ciro será novamente candidato e o PDT lançará de novo um nome ao Palácio Piratini. O deputado acredita que a campanha de Lula pelo voto útil foi um erro, prejudicando o próprio petista.
Enxerga que Ciro foi vítima das circunstâncias da eleição e da mesma forma foi Vieira, cujo percentual de votos não faria jus à sua atuação na campanha. Vieira não era a ficha 1 do PDT ao Piratini. Romildo Bolzan Júnior era. O presidente do Grêmio, que apenas neste ano afirmou não ser candidato, foi criticado por Pompeo. "Falamos por quatro anos de uma candidatura e em cima da hora essa candidatura não aconteceu", protestou Pompeo, que pensa que o movimento deixou o PDT de mãos atadas.
Jornal do Comércio - Como avalia o desempenho do PDT no primeiro turno das eleições deste ano?
Pompeo de Mattos - Esta foi uma eleição polarizada. Não foi uma eleição de propostas, foi uma eleição de pessoas. Uma eleição muito 'fulanizada'. Isso, para nós, criou uma dificuldade muito grande. Eu vou remontar a eleição de 1982, foi a primeira eleição que eu disputei. A eleição era com voto vinculado. As pessoas votavam em um único partido. Você só podia votar, no caso, no PDS, que era o sucesso da Arena, ou no MDB, ou no PDT, ou no PT. Só tinha quatro partidos na época. Se misturasse os votos, anulava a cédula. E era voto para vereador, prefeito, deputado estadual, federal, governador, senador… eram seis ou sete votos. Era o chamado voto vinculado. A lei mandava votar desse jeito. Ou tu escolhia um só (partido) ou anulava o teu voto. Nessa eleição de agora, a lei não manda fazer isso, mas as circunstâncias são as mesmas, O que aconteceu? O eleitor pegava a cédula do (candidato para a reeleição à presidência da República Jair) Bolsonaro (PL) e se guiava pelo Bolsonaro. Votava no deputado do Bolsonaro, senador do Bolsonaro e governador do Bolsonaro. Ou pegava a cédula do (candidato à presidência Luis Inácio) Lula (da Silva, PT) que o eleitor vota, a grande maioria vota com cédula (colinha). Para nós do PDT fazer voto a gente tinha que se meter na cédula do Lula ou se meter na cédula do Bolsonaro. O voto foi quase vinculado, e se vinculava ao Bolsonaro ou ao Lula. Para sobreviver fora do Lula ou Bolsonaro era muito difícil. Então o PDT sai arranhado da eleição, sai machucado, mas sai vivo. O PDT tinha quatro deputados na Assembleia Legislativa e ainda tem chance de eleger cinco. Fizemos voto para cinco, mas os votos do Paulo Azeredo não contou. Nós fizemos quatro inteiros e 67 mil votos sobrando para estadual.
JC - Essa situação está sendo analisada pela Justiça?
Pompeo - O processo está na Justiça. Se contar os votos do Paulo, o PDT pode ter mais um deputado. Então saímos vivos. Para federal, nós tínhamos três, mas um saiu, que é o Marlon Santos, que quase não se elegeu também. Se elegeu ali no último minuto. Então o PDT saiu vivo. Machucado, ferido, mas vivo. Para aqueles que anunciavam nossa morte, nós proclamamos a nossa ressurreição. Estamos muito vivos. O Bolsonaro, pela direita ele capitalizou, e o Lula, pela esquerda também. E quem não estava com Lula sofreu e quem não estava com o Bolsonaro sofreu também. Nós sofremos, mas resistimos e sobrevivemos. E no cenário nacional também, a mesma coisa: em que pese as adversidades e as dificuldades, estamos vivos também. Nós tínhamos 19 e elegemos 17. E na verdade porque também teve dois que não concorreram, acho que o Paulo Ramos (PDT-RJ) também não concorreu.
JC - É uma queda menor que outros partidos, como o próprio PSDB.
Pompeo - O PSDB se afundou. O PSB, que o PT engoliu. O PSB virou um partido nanico porque o Lula engoliu eles.
JC - O Ciro Gomes teve a sua pior votação enquanto candidato à presidência presidente das vezes que concorreu, com apenas 3% dos votos válidos. Isso também foi fruto da polarização?
Pompeo - Não somente por isso: inclusive por essa atitude que o Lula tomou do voto útil. O Lula, na ânsia de puxar voto para ele, criou o voto útil. Mas o voto útil, se é útil para um, é útil para outro quando está polarizado. Foi um equívoco que o Lula cometeu, porque esses votos chamaram o Bolsonaro. Se o voto é útil, é útil para quem está na frente. O Lula desmontou a candidatura do Ciro com o voto útil e o voto útil foi para o Lula e foi para o Bolsonaro também.
JC - Qual o futuro político do Ciro Gomes? Vai continuar no PDT? Pensa em uma nova campanha daqui a quatro anos?
Pompeo - Eu não sou o mais avalizado para falar do futuro dele, mas no que depender de mim ,ele é o nosso candidato em 2026. Ele não teve votos não por falta de projetos, por falta de propostas, por falta de postura. Os votos não vieram por conta das circunstâncias. Quando a eleição é de fulano, ela fica 'fulanizada'. A eleição foi de pessoas, não de projetos É uma coisa ruim para o país. Como o Ciro não era só uma pessoa, mas sim um projeto, ele ficou sozinho, isolado, e aí os votos dele foram irrigados para o Lula e para o próprio Bolsonaro.
JC - Caso o Ciro não seja mais candidato, o plano nacional de desenvolvimento acaba com ele ou continua através de outros candidatos?
Pompeo - O plano nacional de desenvolvimento, claro, tem a cara do Ciro, e não vejo porque o Ciro não continuar. Está aí o Lula com quase 80 anos candidato, por que o Ciro com 60 e poucos não pode ser? As pessoas são as mesmas, o que muda? As circunstâncias. O Ciro é a mesma pessoa. Mudou as circunstâncias da eleição. A circunstância levou lá para o outro lado, isso que atrapalhou.
JC - Ao longo do ano, a candidatura do Ciro parecia não ser uma unanimidade no PDT. A disputa presidencial deixou o partido dividido?
Pompeo - Não tem como dizer que não era unanimidade. Ela era a unidade do PDT. A unanimidade é quase burra. Era a unidade. Mas na hora que a candidatura criou dificuldade, cada um procurou se salvar. Isso é da natureza, da sobrevivência humana. Quando o pessoal viu que a dificuldade apertou o cerco, as pessoas procuraram se salvar. Isso é da natureza do processo. Agora, isso não diminui o Ciro e nem desmerece quem eventualmente possa ter desembarcado da campanha, porque era uma missão de sobrevivência.
JC - No Rio Grande do Sul, o candidato pedetista ao governo do Estado, Vieira da Cunha, também fez uma votação baixa, de apenas 1,6% dos votos. O que motivou esse desempenho?
Pompeo - Na verdade, o candidato do PDT não era o Vieira. Nós preparamos uma candidatura quatro anos. Falamos por quatro anos de uma candidatura e em cima da hora essa candidatura não aconteceu. Isso nos atrapalhou bastante. E aí o Vieira entrou de última hora. Ele estava fora da cena política. É admirável a coragem e a disposição do Vieira. É admirável, mas não deu. Fez uma campanha que nos orgulhou muito. Os votos não representam a campanha do Vieira.
JC - Como foi trabalhar com o nome do Vieira com tão pouco tempo após o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, anunciar ainda neste ano que não seria o candidato do PDT?
Pompeo - Isso criou dificuldade, dificultou bastante, mas era o que nós tínhamos. Seguimos do jeito que dava. Não tinha outra maneira. Seguimos a caminhada.
JC - O PDT estadual carece renovar seus quadros?
Pompeo - Eu acredito que o PDT tem que fazer uma leitura do processo. Nós agimos certo. A nossa leitura estava certa. O problema é que o Romildo saiu. O rumo estava certo. Agora, o que nós não podemos é ter um candidato que dependa de Grêmio, de Inter, dependa de circunstâncias externas. Aí não tem jeito. A política não pode depender do bispo, do jogador de futebol… aí nós nos matamos, se depender disso. O que não pode é um partido político ficar dependendo de um clube de futebol. Ficou provado que isso não dá certo. Já não tinha dado certo em outros lugares. Em em Minas Gerais já tinha dado problema. Nós fomos vítimas dessas circunstâncias.
JC - Como avalia os nomes mais jovens do partido?
Pompeo - São nomes que tem que ser lapidados, valorizados e respeitados? Mas são nomes dos quais a gente não pode abrir mão. A gente tem que saber valorizar, acolher, renovar por dentro. São raízes do partido, tem que valorizar, mas para uma candidatura majoritária tem que ser alguém mais cascudo. Mas essa candidatura majoritária precisa ser fortalecida por essa base, por uma base dos novos quadros e novos valores que o partido tem.
JC - Apesar do mal desempenho nas majoritárias em em meio à polarização, o partido manteve as quatro cadeiras na Assembleia. Como foi esse processo?
Pompeo - O PDT sai vivo da eleição. Não sai do tamanho que nós gostaríamos, mas não sai derrotado. Sai muito vivo, muito aceso. O que nós temos é que fazer a leitura para não repetirmos os mesmos erros. O partido não pode ser puxadinho de time de futebol, aí não dá.
JC - O senhor mesmo aumentou sua votação em 20 mil votos. Ao que o senhor atribui esse crescimento?
Pompeo - Trabalho. Muito trabalho e coerência. O que mostra que tem como fazer. Se deu certo para mim, por que não pode dar certo para os outros? É trabalho, trabalho e trabalho. E é o que nós vamos fazer. Agora o PDT tem que preparar um nome, uma candidatura ao governo do Estado. O PDT tem tamanho para isso. Mas tem que ser um candidatos governador que assuma, não pode ser uma coisa de faz de conta. Os projetos que eu criei na Câmara me ajudaram muito nessa eleição. O projeto que cria o 14º salário a aposentados do INSS, por exemplo, ou o que cria o 13º salário para beneficiários do BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o que tira a obrigatoriedade de prova de vida anual para o aposentado do INSS. Essas são questões que nos ajudaram muito durante essa campanha, e são resultado da nossa atuação na Câmara.
JC - O PDT está apoiando o Lula no segundo turno, mas tem todos os quadros do partido são adeptos do ex-presidente. Como fica PDT gaúcho nessa questão?
Pompeo - É uma questão nacional que a direção estadual e nós todos estamos observando, alguns com mais entusiasmo, outros com nariz torcido, mas é o caminho do PDT.
JC - Qual é o futuro do PDT para as próximas eleições gerais?
Pompeo - É consolidar um projeto. Vamos lutar por um projeto para o Rio Grande e um projeto para o Brasil, mas levando sempre em conta que um projeto tem que ter nome, tem que ter um homem, uma mulher, ter um líder. Eleição no Brasil é muito de pessoas. É de projeto, mas é de pessoas. Apenas ter um projeto não basta, tem que ter um nome que sintetize o projeto.
PERFIL
Darci Pompeo de Mattos é natural de Santo Augusto e tem 64 anos, nascido no dia 12 de julho de 1958. É um advogado, bancário e político brasileiro filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). Sempre pelo mesmo partido, exerceu mandato de prefeito em Santo Augusto, foi eleito Deputado Estadual por três vezes e atualmente exerce seu quinto mandato de deputado federal pelo Rio Grande do Sul, tendo sido reeleito para o sexto mandato nas eleições de 2022 com mais de 100 mil votos. É criador de projetos de lei como o que cria o 14º salário a aposentados do INSS, o que institui o 13º salário para beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o que retira a obrigatoriedade de prova de vida para o aposentado do INSS. Já foi presidente do PDT gaúcho e atualmente é vice-presidente nacional do partido.