Deputados aprovam aposentadoria especial

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Abaixo de vaias e xingamentos vindos das galerias do plenário, os deputados estaduais aprovaram, ontem, o Projeto de Lei Complementar (PLC 249/2014), da Mesa Diretora, que cria o Plano de Seguridade Social dos Parlamentares. A matéria, que prevê um regime de previdência especial para os deputados gaúchos, foi repudiada por sindicalistas presentes, que pressionavam pela reprovação da matéria. Os gritos de “vergonha, vergonha, vergonha” não impediram 29 deputados de votarem a favor da matéria, mas silenciaram a defesa do tema, já que nenhum parlamentar defendeu a proposta na tribuna. Dos 14 votos contrários, 12 foram de integrantes do PT, um do PDT e outro do PSDB. Outros seis deputados presentes não registraram sua votação.
O PLC 249 estabelece que ao invés do teto da aposentadoria geral do INSS, de R$ 4,3 mil, os deputados receberão o salário integral ao se aposentarem, o que corresponde hoje a pouco mais R$ 20 mil. Para ter direito ao benefício integral, o parlamentar deverá ter 35 anos de mandato e 60 anos de idade. Mas, após o cumprimento de dois mandatos, já poderá pedir a aposentadoria proporcional – em valor próximo ao recebido atualmente no teto do INSS. Em caso de morte, dependentes também podem solicitar o benefício.
A votação rápida da matéria – menos de 15 minutos – fez jus à tramitação na Assembleia Legislativa: a proposta foi apresentada pela Mesa Diretora há uma semana e não passou por nenhuma comissão parlamentar antes de chegar ao plenário. O deputado Raul Pont (PT) foi o porta-voz da posição contrária à matéria. O petista elencou inúmeros problemas no projeto: a inobservância da Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe a criação de proventos nos últimos meses de governo, a ausência de cálculo atuarial e de projeção de despesas para o Estado e, especialmente, a criação de privilégios.
“A Assembleia está legislando e criando a si própria um privilégio. Ao invés de contribuir para a melhoria da previdência para todos, está criando um privilégio para si. Ao votar sim, vota-se para colocar novamente a marca nesta Casa de que se vota em benefício próprio, fazendo um desserviço ao processo democrático”, afirmou. Pont também avalia que a criação deste regime especial criará um efeito cascata: câmaras de vereadores poderão criar legislações semelhantes. “Vai abrir um precedente. Se os deputados podem, por que o vereador não pode? Toda a desigualdade que se cria, toda a política de privilégios, ela cria um mau exemplo e é o que estamos vendo que vai acontecer. Várias câmaras estão abrindo discussão para fazer projetos semelhantes”, disse.
Entre os defensores da matéria, a posição é de que o plano fortalecerá o Parlamento e de que há uma necessidade de benefício adequado à importância da função exercida. Os deputados também defendem que não legislaram em causa própria, já que, para ingressar no novo regime, é preciso depositar a diferença da contribuição – hoje de 8% sobre R$ 4,3 mil para 13,25% sobre o salário de R$ 20 mil. “Não é um bom negócio computar o tempo anterior, é muito pesado pagar este valor à vista. Pode-se prever que há mais sobra de dinheiro no início e depois terá um equilíbrio”, afirmou Paulo Odone (PPS). O presidente da Assembleia, Gilmar Sossella (PDT), afirmou que a matéria é discutida há anos e é de extrema importância para o Legislativo. “O projeto vem de muito tempo, há um sentimento da Casa há muito e ele é reproduzido tal e qual é no Congresso Nacional. É bom deixar claro a todos que ao contrário do que foi divulgado, este é um plano de seguridade e só terá validade se o deputado estiver no mandato, com 35 anos de mandato e 60 de idade”, disse. A matéria segue para a sanção ou veto do governador Tarso Genro (PT).

Orçamento estadual será de R$ 57,4 bilhões em 2015

Os deputados estaduais aprovaram, por unanimidade, o orçamento estadual para o exercício financeiro de 2015. O texto estima receitas e despesas na ordem de R$ 57,4 bilhões.  Além da matéria, foram aprovadas 33 emendas propostas pela Comissão de Finanças, Planejamento, Fiscalização e Controle – após o relator Marlon Santos (PDT) analisar e agrupar 827 propostas que haviam sido apresentadas por parlamentares e entidades. Na discussão da matéria, o tom foi de debate entre deputados da base do atual governador, Tarso Genro (PT), e do futuro gestor do Estado, José Ivo Sartori (PMDB).
O texto aprovado pelos parlamentares prevê investimentos de R$ 2,5 bilhões. Os gastos com despesa de pessoal e encargos sociais serão de R$ 23,5 bilhões. A saúde receberá R$ 340 milhões, e a educação, outros R$ 900 milhões. Dentre as emendas, os destaques são para a inclusão de previsão de recursos para acessos asfálticos em diversas localidades e aumento das verbas destinadas à Defensoria Pública.
Apesar de aprovar a peça, deputados da oposição afirmaram que o governo Tarso Genro (PT) encerra seu mandato com um legado de déficit orçamentário, que resultará em muitas dificuldades para o próximo comandante. “O governo tinha ‘gorduras’ financeiras para queimar, porque encontrou um Estado sem déficit, mas o nosso próximo governador não terá estas possibilidades”, reclamou Frederico Antunes (PP). Já parlamentares do PT contrapuseram as críticas, afirmando que o Estado estava precário quando foi assumido pela atual gestão. “Não venham com esse discurso de que não há recursos, porque o governador aumentou o salário de todas as categorias nos últimos anos”, defendeu Nelsinho Metalúrgico.
Além do orçamento e da matéria que cria um regime de previdência especial para os deputados estaduais, outros 12 projetos de lei foram aprovados. Entre eles, a previsão de reserva de vagas para negros e indígenas na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), de autoria do deputado Raul Carrion (PCdoB).

CCJ define audiência pública sobre o mínimo regional

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa aprovou a proposta de realização de audiência pública para debater o projeto de lei que reajusta o mínimo regional em 16%, apresentada pelo deputado Frederico Antunes (PP). A atividade acontecerá na próxima terça-feira, às 9h30min. Representantes do Executivo estadual, de entidades empresariais e sindicais serão convidados para participar da discussão.