PMDB deve ter nome à presidência em 2018, defende Eliseu Padilha

Por

O deputado federal Eliseu Padilha (PMDB) avalia que, se o partido conseguir se unificar em torno da reforma política, terá capacidade de coesão para lançar uma candidatura própria para as eleições presidenciais de 2018. O parlamentar acredita que a sua legenda é a única capaz de liderar a reforma no Congresso Nacional. É a esses debates que o peemedebista gaúcho – que não se candidatou a nenhum cargo eletivo nestas eleições – pretende se dedicar a partir de 31 de janeiro de 2015, quando encerra seu mandato na Câmara dos Deputados.
Padilha defendeu a aliança entre PMDB e PT nas últimas eleições presidenciais – em consonância com o diretório nacional do seu partido, mas divergindo do diretório do Rio Grande do Sul, que reluta em apoiar a chapa liderada pelos petistas, desde o começo da parceria. Entretanto, neste ano, enquanto fazia campanha para a presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice Michel Temer (PMDB), declarou em um ato político com prefeitos gaúchos que era a última vez que fazia campanha para uma chapa que não era liderada pelo PMDB.
O peemedebista crê que a unidade dentro do partido – o que viabilizaria a candidatura ao Palácio do Planalto – é possível. Para isso, é necessário mudar a tradição do partido, em que “os caciques locais do PMDB, nos estados, sobrepõe os seus interesses aos do PMDB nacional”. Contudo, afirma que o PMDB gaúcho não tem um cacique, o que facilitaria a adesão dos peemedebistas gaúchos a um projeto nacional do partido. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, aborda com bastante ênfase a coesão nacional do partido. Também analisa qual deve ser a relação entre o governo federal e a gestão do governador eleito José Ivo Sartori (PMDB).
Jornal do Comércio – Passadas as eleições de 2014, como ficou a relação entre o PMDB nacional e o estadual, visto que apoiaram candidatos diferentes à presidência da República?
Eliseu Padilha – O PMDB do Rio Grande do Sul adotou nestas eleições uma posição equivocada, mas que foi adotada pelo PMDB de muitos outros estados. Também aconteceu isso na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul. Temos visto que, às vezes, os interesses dos coronéis, dos caciques locais se sobrepõem ao projeto nacional. Não foi o que ocorreu no Rio Grande do Sul, porque, aqui, não foi a decisão de uma pessoa que levou à divergência em relação à diretriz nacional. Foi uma decisão coletiva, porque, no PMDB do Rio Grande do Sul, não existe um cacique local. De qualquer forma, fiz campanha para o nosso candidato escolhido na convenção majoritária. E, dos nossos oito deputados estaduais, seis estiveram vinculados à nossa tese de guardar coerência com a eleição nacional. A maioria absoluta dos nossos prefeitos, algo em torno de 90% deles, trabalharam junto com a tese do PMDB nacional. Entretanto, acho que a divergência foi compreensível pela tradição do nosso partido, mas isso tem que ser mudado, senão nunca teremos um projeto nacional de poder. Se cada estado tiver o seu interesse em razão do cacique ou do coronel regional, nunca vamos ter um projeto nacional. E, consequentemente, o maior partido do Brasil – maior número de vereadores, prefeitos, deputados estaduais, senadores, governadores, bancada de deputados federais, quase empatando com a maior (do PT) – vai ficar gravitando em torno de uma legenda menor. Mas isso passou, está vencido. Agora, devemos olhar adiante e trabalhar para mostrar que podemos construir uma proposta nacional que unifique o partido.
JC – Durante a campanha à reeleição da presidente Dilma e do vice Temer, o senhor mencionou, em algumas convenções, que era o último ano que apoiaria uma chapa que não fosse liderada por um peemedebista. O PMDB pretende ter candidatura ao Palácio do Planalto em 2018?
Padilha - É um tema que o partido está discutindo. Eu defendo essa tese há muito tempo. Mas, se o PMDB quiser ter uma candidatura própria em 2018, terá o óbice de negociar politicamente com o PT e com a presidente da República. Essa decisão implicará em uma relação muito transparente com a presidenta, com o governo e com o PT. Essa premissa não pode entrar em choque com a nossa relação que está consagrada com uma eleição em que foram eleitos o vice-presidente Michel Temer e a presidente Dilma. Não podemos descumprir, abandonar, deixar sem a sustentação política o nosso vice-presidente da República. O certo é que o partido tem que buscar o exercício do poder, pois partido que não busca a conquista, não é partido político, é qualquer outra coisa. Às vezes, não é aconselhável que quem pode ser presidente se contente em ser vice.
JC – A negociação com a presidente e o PT seria em que sentido?
Padilha – Na questão da candidatura própria, temos três hipóteses. A primeira é que a tese da candidatura própria não se concretize. Nesse caso, permanecemos no governo, podemos continuar com o discurso. A segunda hipótese é a decisão que o PMDB vai ter candidatura própria em 2018. Bom, então, teremos que deixar claro com o PT e com a presidência da República quando o partido vai entregar os cargos que tem. Afinal, não concebo disputar uma eleição contra o governo do qual construímos e participamos. É antiético. E o terceiro cenário é mantermos a aliança com o PT para 2018, mas fazendo um acordo, um ajuste: quem iria para a cabeça de chapa seria o partido que tivesse o nome com maior viabilidade eleitoral; por consequência, o outro indicaria o vice. 
JC – No caso da candidatura própria em 2018, como superar a falta de coesão nacional, que parece ser um dos principais empecilhos à chapa peemedebista ao Palácio do Planalto?
Padilha – Já estamos dando o primeiro passo para uma proposta nacional que unifique o partido, que é a construção de uma reforma política para o Brasil. Se o PMDB não tiver condições de conduzir esse processo, nenhum partido vai conduzir. O PMDB é o maior partido disparado e – deixando a modéstia de lado – é o mais experiente, mais antigo, vem lá da época da ditadura, tanto que os partidos como PT e PSDB saíram do MDB. Então, com toda a musculatura que o partido tem, seu sistema de enraizamento em todo território nacional, tem condições de liderar a reforma política. Isso não significa ser o exclusivo produtor, mas, sim, liderar o processo.
JC – O ex-deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB) acredita que, se o partido conseguir se unificar em torno da reforma política, talvez consiga afinar suas diferenças regionais para ter a candidatura própria em 2018. O senhor concorda?
Padilha – Esse é o primeiro passo. Quando concebemos convocar o conselho político (do PMDB) para que tomássemos uma decisão sobre esse assunto, o vice-presidente Michel Temer foi claro: esse é o primeiro tema, dentre tantos que vamos trazer para o debate interno do partido e depois para o debate com a sociedade, buscando a unidade do partido. O Ibsen traduziu 100%, é um político muito experimentado, qualificado e naturalmente compreendeu isso. Posso antecipar, inclusive, outro tema que será objeto de discussão dentro do partido: o novo pacto federativo. Os brasileiros não vão resistir com as administrações municipais e estaduais tão carentes de recursos, com as verbas centralizadas em Brasília. Para descentralizar os recursos, existe uma burocracia grande e um custo político alto.
JC – Quais os pontos que o senhor acredita que são indispensáveis na discussão da reforma política?
Padilha – Três pontos são essenciais. Número um: financiamento de campanha. Algumas pessoas comentam que todos os grandes escândalos das últimas quatro décadas tiveram como biombo o financiamento de empresas às campanhas. Não é bem verdade. Se considerarmos o que ouvimos desde sexta-feira passada (quando foi deflagrada a sétima fase da Operação Lava Jato), tomamos conhecimento de valores que dariam para financiar 30 ou 40 campanhas. Portanto, não é só o financiamento de campanha a causa dos escândalos. Penso que hoje há um sentimento no País para acabar com o financiamento de empresas, pois, em alguns casos, elas são quase titulares dos mandatos. Temos que colocar um limite. Para disputar cargo de vereador em Porto Alegre, o Tribunal Regional Eleitoral tem que dizer qual o máximo que pode ganhar e gastar na campanha. O mesmo para governador no Rio Grande do Sul e para presidente, em que o Tribunal Superior Eleitoral determinaria o teto dos gastos. Então, o financiamento seria um financiamento misto – público e privado – com um teto para os gastos e contribuição das empresas. O segundo ponto diz respeito ao acesso dos partidos ao fundo partidário e ao horário eleitoral gratuito: tem que ter cláusula de desempenho em todo território nacional. Afinal, temos visto que se vendem segundos de rádio e televisão por verdadeiras fortunas. E o terceiro item é que temos que acabar com as coligações nas eleições proporcionais: cada partido vai com sua cara e cláusula de desempenho. De qualquer forma, estamos pesquisando o que a sociedade está pensando a respeito da reforma política, através da Fundação Ulysses Guimarães. Temos feito uma pesquisa pelo mailing com praticamente dois milhões de cidadãos brasileiros, que representam trabalhadores, empresários, políticos. Além disso, vamos ouvir empresários, entidades como OAB, CNBB, movimento negro e outras forças vivas da sociedade.
JC – A oposição parece ter saído fortalecida das eleições de 2014. O senhor acredita que a governabilidade pode estar ameaçada?
Padilha – Não, não vejo nenhum risco para governabilidade, nem há, de parte do governo, blindagem a possíveis ações da oposição. Nunca tivemos no Brasil uma situação política-democrática com instituições tão firmes quanto as de hoje. Eu, que estou há tantos anos nesse meio, aprendi que em política não se pode brigar com fatos. Qual é o fato? Temos uma vitória inconteste, a presidente e o vice-presidente estão legitimados, foram eleitos pela maioria dos votos válidos. Também é fato que não foi uma eleição em que houve uma maioria avassaladora em favor de quem venceu a eleição. O que tivemos foi uma eleição bastante disputada e, por óbvio, as forças eleitorais que atuaram nessa eleição terão voz dentro do Parlamento. Teremos projetos de lei que passarão por unanimidade. Mas, quando se tratar do governo, vamos ter disputas acirradas, porque a eleição foi assim.
JC – O governo tem buscado uma candidatura alternativa a do deputado Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara dos Deputados. Cunha tem dito que a única bandeira que defende é a independência do Congresso, o que causa um certo estranhamento, visto que  é de um partido que faz parte do governo. O que mudaria com a presidência dele?
Padilha – Ainda é cedo para fazer uma avaliação. A eleição para presidência da Câmara acontece em fevereiro. Então, temos que ter muita calma. Conheço muito bem o Eduardo Cunha. É um dos parlamentares mais qualificados que conheci em todo esse tempo no Congresso Nacional, é muito obstinado naquilo que busca e é um sério candidato. Por outro lado, pela experiência que adquiri, sei que, quando o governo tem uma base de sustentação considerável, dificilmente alguém se elege presidente da Câmara ou do Senado com uma posição contra o governo. O fato de o Eduardo Cunha estar trabalhando intensamente agora não significa que ele seja um candidato de oposição. É um peemedebista, logo, um candidato da base do governo. Se, por ventura, ele se declarar um candidato de oposição – e quero repetir que nunca ouvi ele dizer isso – corre o risco de encontrar como oposição o seu próprio partido, o PMDB.
JC – Como acha que será a relação do governo federal com o do governador eleito José Ivo Sartori – que, durante as eleições, não apoiou a chapa Dilma e Temer?
Padilha – A relação entre o governo federal e o do Estado acontece em dois planos: uma institucional, outra política. A relação institucional está pautada pela Constituição, pelo espírito republicano. Quanto à relação política, o vice-presidente Michel Temer já disse que pretende ser o interlocutor entre o governo Sartori e o governo federal, levando as demandas do Estado até a União. O Sartori é um grande quadro do partido, acredito que fará um grande governo, por isso, apostamos nele. E o vice-presidente estará à disposição para mediar o diálogo entre o governo estadual e federal.

Perfil

Eliseu Lemos Padilha, 68 anos, é natural de Canela (RS). Começou sua vida pública na política estudantil. Em 1966, Padilha foi indicado para ser secretário-geral da comissão do MDB em Canela. Atuou como contador e advogado, mas destacou-se como empresário do ramo imobiliário em Tramandaí, cidade para a qual se mudou antes de iniciar o curso de Direito na Unisinos. Em 1988, disputou sua primeira eleição e conquistou a prefeitura de Tramandaí pelo PMDB. Em 1994, elegeu-se deputado federal. Foi secretário de Trabalho, Cidadania e Assistência Social no governo de Antonio Britto (PMDB) e ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Se reelegeu à Câmara dos Deputados em 2002 e 2006. Em 2010, ficou como suplente. Foi vice-presidente nacional da legenda (2003-2006) e, desde 2007, comanda a Fundação Ulysses Guimarães (FUG), do PMDB. Como não se candidatou a cargo eletivo em 2014, a partir de 31 de janeiro de 2015, encerra o mandato e se dedicará exclusivamente a FUG.