Lava Jato mudará Brasil para sempre, diz Dilma

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A presidente Dilma Rousseff disse ontem que as investigações sobre o escândalo envolvendo a Petrobras mudarão, de forma definitiva, as relações entre sociedade, Estado e empresas no Brasil. Segundo ela, este não é o primeiro escândalo do tipo no País, mas o primeiro a ser investigado, o que mudará “para sempre” o Brasil no que se refere ao combate à impunidade, até porque, ressaltou, há possibilidades de que a origem do atual escândalo seja justamente os escândalos anteriores que não foram investigados. 

As declarações foram feitas na Austrália, após a presidente ter participado do encerramento da cúpula do G-20. “A grande diferença dessa questão é o fato dela estar colocada à luz do sol, porque esse não é, de fato, e eu tenho certeza disso, o primeiro escândalo. Agora, ele é o primeiro escândalo investigado, o que é diferente. Isso eu acho que mudará para sempre as relações entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas”, disse.

A operação Lava Jato é considerada pela Polícia Federal histórica por ser a primeira vez que há uma ação envolvendo as maiores empreiteiras do País num só escândalo. As empresas investigadas – Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, Iesa, Mendes Júnior, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC -  possuem contratos com a Petrobras que somam R$ 59 bilhões. 

A Lava Jato investiga uma quadrilha que teria desviado recursos dos cofres da Petrobras, tendo como destino abastecer o caixa de três partidos políticos: PT, PP e PMDB. As empreiteiras conseguiam obras na Petrobras mediante pagamento de propina.

“Há aí uma diferença substantiva, e eu acho que isso pode de fato mudar o País para sempre, no sentido que vai se acabar com a impunidade. Esta é, para mim, a característica principal dessa investigação. É mostrar que ela não é algo engavetável”, ressaltou Dilma Rousseff.

Perguntada sobre se o caso não pode prejudicar internacionalmente a Petrobras, uma vez que a empresa atua em diversas bolsas de valores, a presidente disse que, também no âmbito internacional, não é a primeira vez que uma empresa petrolífera se vê envolvida em denúncias de corrupção, e que, portanto, não acredita que ela venha a ser condenada pelo fato de, dentro do quadro, haver uma absoluta minoria de funcionários corruptos.

A presidente da República afirmou ainda que a Petrobras “não tem o monopólio da corrupção”. Dilma lembrou especificamente de um dos maiores casos de corrupção da história corporativa mundial: o da norte-americana Enron - empresa que apresentou receitas infladas no balanço e que chegou a ser a sétima maior companhia dos Estados Unidos.

Para a presidente, o caso representa uma “questão simbólica” para o Brasil. “Acho que é a primeira investigação efetiva sobre corrupção no Brasil que envolve segmentos privados e públicos. A primeira que vai a fundo. Agora, nós podemos listar uma quantidade imensa de escândalos no Brasil que não foram levados a efeito. E, talvez, sejam esses escândalos que não foram investigados que são responsáveis pelo que aconteceu na Petrobras”, completou.

TRF nega os habeas corpus que recebeu de envolvidos no esquema

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, negou todos os habeas corpus que recebeu até ontem referentes aos executivos de empreiteiras que são alvo da sétima fase da operação Lava Jato.

A desembargadora Maria de Fátima Freitas Labarrère já analisou e rejeitou seis pedidos de liminar apresentados em nome de 11 acusados. No fim da tarde de sábado, a assessoria de imprensa do TRF-4 confirmou o indeferimento do habeas corpus de José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS; Mateus Coutinho de Sá Oliveira, funcionário da OAS; Alexandre Portela Barbosa, advogado da OAS; Carlos Eduardo Strauch Albero, diretor técnico da Engevix; Newton Prado Júnior, diretor técnico da Engevix; e Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix.

Mais cedo, também no sábado, já haviam sido anunciados os indeferimentos relativos aos pedidos de liminar de Eduardo Hermelino Leite, diretor-vice-presidente da Camargo Correa; Dalton dos Santos Avancini, presidente da Camargo Correa; João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da Camargo Correa; Agenor Medeiros, diretor-presidente da área internacional da OAS; e José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da OAS.

Todos tiveram a prisão preventiva ou temporária decretada, e começaram a prestar depoimento neste sábado na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba. Os processos foram analisados no plantão judiciário do TRF-4. Conforme a assessoria de imprensa, ainda não há liminares esperando avaliação.

Após envolvimento no caso, Iesa segue com futuro incerto

Inoperante desde o final de outubro, a Iesa Óleo e Gás passa por mais um capítulo sombrio da sua história. A Polícia Federal prendeu, na manhã de sexta-feira, dia 14, o diretor da Iesa Óleo e Gás Otto Garrido Sparenberg, e cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do presidente da empresa, Valdir Carrero, nas sedes da Iesa e da controladora do grupo, Iapi. 

Os trabalhadores da unidade de Charqueadas, que deveriam voltar ao trabalho hoje, foram dispensados por mais sete dias, até 24 de novembro, aumentando o clima de instabilidade. Pela primeira vez, os funcionários do setor administrativo também entraram para o grupo de inoperantes. Ao todo, mil colaboradores vivem o temor do fechamento da empresa. 

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Charqueadas, Jorge Luiz de Carvalho, defende que “se jogue limpo com os trabalhadores”. “Desde quando o polo se instalou, nós ouvimos que ele é uma realidade, mas não vemos isso. Até hoje, não se produziu um módulo. Nós queremos que parem de nos mentir”, determina. A Iesa, por outro lado, segue afirmando, através da sua assessoria de imprensa, que a negociação com um parceiro para viabilizar a operação continua, independentemente dos últimos acontecimentos.

Os trabalhadores estão, desde o final de outubro, dispensados do trabalho. No dia 13, uma manifestação interrompeu o trânsito da rodovia RS-401 em frente à Iesa, durante toda a manhã, cobrando soluções.

Uma audiência marcada pela prefeitura de Charqueadas para amanhã com o vice-presidente da República, Michel Temer, em Brasília, será mais uma tentativa para manter a operação da Iesa. O prefeito de Charqueadas, Davi Gilmar de Abreu Souza, diz que o objetivo é sensibilizar Temer sobre a questão social envolvida no caso. “A região já é empobrecida pela falta de políticas públicas. O polo naval é a única esperança para muitos”, adiantou. Para Souza, o envolvimento da empresa na Operação Lava Jato não deve prejudicar as negociações com o governo e demais empresas. 

Apesar de ser um escândalo de grandes proporções, o líder sindical Jorge Luiz de Carvalho também afirma que não se surpreende nem acredita que as investigações possam piorar uma situação já tão crítica. A assessoria de imprensa da Iesa Óleo e Gás afirmou que não está se posicionando sobre a operação por recomendação dos advogados, que ainda estudam o caso.

A Iesa Óleo e Gás tem contratos com a Petrobras e repassou R$ 400 mil para a Costa Global Consultoria e Participações, de propriedade do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, que aceitou delatar o esquema de corrupção em troca de redução de pena.

Investidor da Petrobras deve manter sangue-frio

O pequeno investidor com ações da Petrobras que vê o valor de seu investimento derreter precisa de sangue-frio neste momento: o preço está baixo e não é hora de vender. Se decidir se desfazer do papel, iria contra a tradicional máxima para ganhar dinheiro com ações: comprar na baixa e vender na alta.

Em 17 de março deste ano, por exemplo, a cotação das ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas, atingiu o menor nível desde 8 de junho de 2005, ao fechar em R$ 12,57. Quase seis meses depois, em 9 de setembro, a mesma ação preferencial estava cotada a R$ 24,56, alta de 95,4% no período.

Com as ordinárias, aquelas que dão direito a voto, aconteceu o mesmo. Em 17 de março, atingiram o menor patamar desde 16 de setembro de 2004, após encerrarem o pregão cotadas a R$ 12,02. No mesmo dia 2 de setembro, fecharam a R$ 23,29, salto de 93,8% nesse intervalo.

Por isso, especialistas advertem que o investidor mantenha os papéis em seu poder até as ações se recuperarem. Isso porque a bolsa é um investimento de longo prazo, que deve ser feito com conhecimento e planejamento.

Além disso, manter o sangue-frio evita que o investidor seja mais um a cair no chamado “efeito manada”, que é quando muitos acionistas tomam a mesma decisão, no caso, a de vender o papel e ao mesmo tempo. Antes de comprar uma ação, é importante se informar sobre a perspectiva envolvendo a empresa no curto e médio prazo.

Para a consultora financeira Aline Rabelo, o pequeno investidor é quem mais sai perdendo ao seguir o “efeito manada”. “Quando ele começa a aplicar no mercado de ações, a gente nota um certo desespero. Se a ação cai 2%, ele vende. E aí acontece a perda. O contrário também ocorre. Quando ele compra, o movimento todo de alta já pode ter acontecido e ele acaba perdendo dinheiro”, afirma.

Segundo o economista Samy Dana, da FGV (Fundação Getulio Vargas), diante desse cenário turbulento, o investidor deve aproveitar as oportunidades que surgem em outras áreas. “Há alguns instrumentos, como o Tesouro Direto, nos quais o investidor pode garantir pelo menos a reposição da inflação e mais juros”, diz.

No longo prazo, a tendência é o dólar se valorizar com o fortalecimento da economia dos EUA, que eleva as perspectivas para alta de juros daquele país e, consequentemente, atrai capital para lá.