PTB quer compor aliança com PT e PCdoB também para deputados

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Convidado para indicar o candidato a vice na chapa do governador Tarso Genro (PT), na disputa à reeleição, o PTB entende que ainda não é o momento de discutir nomes para a vaga, apostando que o mais importante é investir na formação de uma boa nominata para deputado estadual e federal. 

Mais do que isso, o vice-presidente da sigla, Luís Augusto Lara, argumenta que é preciso reproduzir a aliança majoritária na disputa proporcional, como forma de fortalecer a coalizão que hoje governa o Estado, vislumbrando a possibilidade de um segundo mandato. A proposta já foi entregue, na semana passada, à coordenação de governo, composta pelos principais secretários do núcleo de gestão do Palácio Piratini.

Lara deixa o cargo de secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do governo gaúcho no próximo dia 20, quando retoma o mandato na Assembleia Legislativa. Não está descartada, porém, a possibilidade de ser indicado para vice na chapa de Tarso. O PTB já entregou ao governador os nomes indicados para a substituição de Lara e dos secretários Luiz Carlos Busato (Secretaria de Obras Públicas) e Maurício Dziedricki (Secretaria de Economia Solidária e Apoio a Micro e pequena Empresa). Busato reassume o mandato de deputado federal, e Dziedricki permanece na primeira suplência da Câmara dos Deputados.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o vice-presidente do PTB reafirma a decisão do ex-senador Sérgio Zambiasi de não concorrer a qualquer cargo eletivo, e compara o petebista ao ex-governador Leonel Brizola (PDT). “O Zambiasi está para o PTB como o Brizola estava para o PDT antigamente”, avalia. “Ele é nosso líder maior”, observa, dizendo que ele continua atuando internamente na sigla.

O secretário do Trabalho fala ainda sobre as políticas sociais do governo Tarso, destacando o investimento em qualificação profissional e defende a política salarial para o funcionalismo público. Também analisa os possíveis impactos das investigações na Procempa e da Operação Kilowatt para o PTB neste pleito.

Jornal do Comércio - O PTB está satisfeito com os espaços no governo ou pretende ampliá-los?

Luís Augusto Lara - Na verdade, com a saída do PDT e do PSB, abriram-se outros espaços de governo e não reivindicamos nenhum.  Temos um entendimento que o que tinha para ser feito em termos de governo foi feito nestes três primeiros anos. Agora é só manter aquilo que já está em andamento. Então, não é questão de mais espaço que vai fazer diferença. A nossa preocupação agora é compor, manter e ampliar as chapas proporcionais para deputado estadual e deputado federal. Isso para nós é, digamos assim, a sobrevivência do partido, fazer uma boa eleição proporcional.

JC - Com quais legendas o PTB está negociando a aliança proporcional?

Lara - Apresentamos uma proposta para que a gente possa fazer uma aliança proporcional entre todos os partidos da coalizão de governo, tanto para deputado estadual quanto para deputado federal. Isso daria não só uma coesão muito grande na base do governo, isso faria com que nós marchássemos de forma mais unida, coesa e dá um sentido, e uma coerência maior naquilo que é a nossa composição de governo. 

JC - A quem foi apresentada a proposta?

Lara - Apresentei à coordenação de governo. Estão lá representantes dos partidos, alguns secretários de Estado...

JC - Qual a resposta?

Lara - Temos até junho para decidir isso, mas foi colocada uma vontade do PTB. 

JC - O nome mais citado do PTB para compor a chapa majoritária com Tarso é o do ex-senador Sérgio Zambiasi. Esse nome já está descartado?

Lara - Zambiasi não deve disputar nem a vice, nem a deputado, nem ao Senado. Ele fez uma retomada da sua vida de comunicação. É comunicador, radialista, e a gente sabe que a intenção dele, nos próximos anos, é dar continuidade a esse projeto.

JC - Qual é a função que o Zambiasi executa hoje dentro do partido? Ele ainda atua?

Lara - Atua. Tem uma função política importante. Ele se consolidou como a grande liderança do PTB ao longo desses anos. Os mandatos que ele teve... Sempre emprestou seus votos à legenda do partido, nunca precisou do partido para se eleger, mas os votos dele ajudavam a eleger outros do partido. Eu diria que o Zambiasi está para o PTB como o Brizola estava para o PDT antigamente. Não precisa ter mandato para ele ser o grande líder do partido. Ele é o nosso líder maior, sem dúvida.

JC - Como está a discussão interna no PTB - e com o governo - para a indicação de um nome para a chapa majoritária?

Lara - Já fomos convidados para integrar a chapa majoritária pelo governo e entendemos que, nesse momento, não devemos discutir ainda quem é o nome. Nesse momento, temos que concentrar forças na chapa proporcional, porque nós fazendo uma chapa proporcional consistente, teremos inclusive como atuar de forma mais incisiva na próxima gestão, no próximo governo, no próximo mandato. Nós teremos mais força política. 

JC - Por quê?

Lara - A nossa força política vem das bancadas, principalmente a estadual e, de certa forma, da federal, mas da federal uma força política que, no Rio Grande do Sul, ajuda, mas não é decisiva na governabilidade. Decisiva na governabilidade é a bancada estadual, então, estamos concentrando forças nisso. Se o governo assegura para nós uma participação, muito nos honra, sinal que o nosso trabalho está tendo resultado. Porém, temos até junho para decidir o nome, pois é a data das convenções. Até lá vamos amadurecer esse assunto. 

JC - Tarso fez ressalvas a respeito de sua candidatura à reeleição, estabelecendo condições, como a renegociação da dívida e o palanque único para a presidente Dilma Rousseff (PT). Como vê estas manifestações?

Lara - Isso faz parte do jogo político. A gente sabe que isso é uma questão importante. A questão do palanque, a gente sabe que está superada. Isso não é uma ressalva, acho que ele mesmo retrocedeu a respeito disso. Na questão da dívida, uma cartada forte, incisiva dele, e que a gente sabe que é estruturante para o Estado. Essa não é uma questão que diz respeito somente ao atual governo. Diz respeito a todos os gaúchos e partidos, a quem não tem partido e a quem quiser governar o Rio Grande com chance de fazer um governo, no mínimo, razoável, quanto mais um governo bom. É necessária a renegociação da dívida.

JC - Os partidos de oposição têm criticado o governo, dizendo haver descontrole nas finanças. Como vê essas críticas?

Lara - O endividamento do Estado vem acontecendo, no mínimo, nos últimos 30 anos. A própria dívida que temos hoje, pagando 13% da receita líquida do Estado, se consolidou de 20 anos para cá. Foi no governo (Antônio) Britto (1995-1998, na época no PMDB) que ela praticamente inviabilizou o Estado. O que o governo vem fazendo e que talvez muitos partidos critiquem, principalmente aqueles partidos mais radicais de direita, é o aumento para o funcionalismo, o número de concursos públicos, o número de planos de carreira. Porém, sem o concurso público, sem o plano de carreira, sem a contratação de funcionários públicos de quadro, não os CCs (cargos de confiança), mas de quadro, a máquina do Estado para, como estava parando.

JC - Como avalia os três primeiros anos do governo?

Lara - Acho que há uma coerência nesse discurso de centro-esquerda que foi feito desde o início. É um governo de centro-esquerda. Não é um governo nem de esquerda radical, porque dialoga com todos os setores da sociedade, e não é um governo de direita, que prega o Estado mínimo. Há uma coerência entre o discurso de centro-esquerda e o que vem sendo feito. Há um ganho significativo e histórico nos programas sociais do governo. 

JC - Quais?

Lara - Estamos fazendo aqui a maior qualificação do País. Fizemos a maior inclusão do País em programas sociais, e um resultado disso é o menor desemprego do País. É o Estado que mais acolhe nos programas sociais, que mais qualifica e que tem o maior numero de empregos. Tem o menor desemprego do País. Certamente uma coisa tem a ver com a outra. Nós qualificamos aqui 113 mil pessoas, mais do que foi qualificado em 15 anos no Rio Grande do Sul. Nós tínhamos 600 mil pessoas nos programas sociais em 2010 e hoje nós temos 1 milhão e 100 mil pessoas no cadastro único. Há um trabalho forte de consolidação dos programas sociais. 

JC - O PTB participa do governo no Executivo e faz parte da base na Assembleia Legislativa. Incomoda o fato de o deputado Marcelo Moraes (PTB) votar sempre com a oposição?

Lara - É uma postura particular dele. A gente entende. O sistema eleitoral dá margem para isso. A questão partidária virou uma salada de frutas. Quem é oposição no governo federal é situação no Estado e é oposição no município. Vejo partidos de direita que estão junto com a Dilma e são oposição aqui no Estado, e em alguns municípios fazem parte da chapa majoritária junto com o PT. Então, esse tipo de formação no sistema político nacional faz com que não haja uma disciplina partidária adequada. Nesse sentido, acaba havendo condutas particulares e individuais que se sobrepõem ao interesse coletivo partidário. Quer dizer, se o partido não consegue ter uma linha de cima a baixo, ou seja, no governo federal, estadual e municípios, quanto mais uma bancada vai conseguir ter uma linha só. 

JC - Qual a solução?

Lara - A solução passaria, no mínimo, por um código de conduta dos partidos. Tem o código de ética, mas o próprio código de ética fica desmoralizado quando a própria legislação eleitoral não prevê um alinhamento. Se tu fechas (uma coligação) no governo federal, tu tinhas que fazer nos estados e municípios a mesma coligação.

JC - O PTB tem uma linha programática claramente definida?

Lara - Não, como a grande maioria dos partidos brasileiros, que se afastaram da sua linha programática e se aproximaram de uma linha pragmática. E o pragmatismo na política tem feito muito mal à democracia brasileira. Acho que as negociações fazem parte, a pluralidade faz parte, mas tu não teres uma linha programática definida, ou seja, no governo federal tem uma, no estadual tem outra, nos municípios tem outra... Isso, para mim, é uma das chagas do sistema político brasileiro. 

JC - O PTB, em 2010, chegou a fechar uma aliança com o DEM, já prevendo que estariam juntos em 2014, lançando candidato ao governo do Estado. Por que a aliança não prosperou?

Lara - Não prosperou, na verdade, pelo seguinte: nós lançamos uma candidatura própria (ao governo do Estado, em 2010), tivemos até o último momento, penúltimo, o apoio do DEM, e, quando chegou na hora da definição, o DEM decidiu priorizar a eleição proporcional e não colocar nome para a majoritária. Isso, digamos assim, descompôs a nossa pretendida composição.

JC - Integrantes do PTB estão sendo investigados por irregularidades na Procempa e na Operação Kilowatt. A exposição de problemas com quadros do partido pode trazer algum tipo de prejuízo eleitoral?

Lara - Só vai trazer prejuízo eleitoral se as investigações não chegarem a uma conclusão antes do período eleitoral, porque se chegarem a alguma conclusão, para nós é claro: se alguém cometeu algum tipo de irregularidade tem que ser punido. Tenho 22 anos de vida pública e, graças a Deus, não tem um arranhão na minha história. Passei por algumas secretarias e não tenho um arranhão. Infelizmente, todos os partidos têm sofrido desse problema. Eu não estou aqui pra julgar ninguém ou condenar. Muitas pessoas que estão sendo lançadas na mídia, certamente vão provar inclusive sua inocência, outras talvez não. 

Perfil

Luís Augusto Lara tem 45 anos e é natural de Bagé. É publicitário e deve concluir a graduação em Direito neste ano. Aos 17 anos se tornou empresário, comandando um restaurante. Depois, passou a trabalhar com eventos, primeiro na cidade natal e depois em municípios da região e até em Punta del Este (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina). Aos 20 anos, já empregava algumas dezenas de pessoas em seus negócios e era bastante conhecido, o que lhe rendeu convites para ingressar na vida política. Como seus amigos eram do PDS, filiou-se à sigla em 1990. Concorreu a vereador em 1992 e obteve vaga na Câmara Municipal. Em 1997, o PDS já tinha virado PPR (hoje é PP), e Lara, reeleito vereador, decidiu sair do partido e fundar o PTB em Bagé - está na sigla até hoje. Em 1998, elegeu-se deputado estadual e foi reeleito em 2002, 2006 e 2010. O deputado estadual se licenciou do Parlamento para assumir a Secretaria de Estado do Turismo, Esporte e Lazer, no governo do peemedebista Germano Rigotto (2003-2006) e no início da gestão de Yeda Crusius, em 2007. Foi presidente estadual do PTB entre 2009 e 2012. No ano passado, assumiu a vice-presidência da sigla.