Se Sartori pretender a dissidência, vamos contra, ameaça Eliseu Padilha

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Não são os 68 anos de idade que fazem de Eliseu Padilha, natural de Canela, ser chamado de “cacique” do PMDB. Desde 1995, o ex-prefeito de Tramandaí é deputado federal. Sendo que, em 1997, assumiu como ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ao longo da vida política, iniciada em 1966, no antigo MDB, Padilha acumula uma série de ações que o colocam como uma das principais lideranças do PMDB gaúcho ao lado do senador Pedro Simon. No entanto, ao contrário de Simon, Padilha tem mais trânsito no PMDB nacional por estar próximo a peemedebistas questionados no Rio Grande do Sul, como José Sarney.

Nesta entrevista concedida ao Jornal do Comércio, Eliseu Padilha chama de “incoerente” qualquer movimento interno do PMDB que se afaste do projeto nacional, que é o de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) e do vice Michel Temer (PMDB). O título da reportagem diz tudo, ou seja, Padilha vai trabalhar intensamente para que o candidato ao Palácio Piratini tenha disposição de apoiar o projeto nacional. Para o deputado federal, o candidato natural do PMDB ao governo gaúcho seria Germano Rigotto, ex-governador que pleiteia ser o escolhido para disputar o Senado Federal com a provável aposentadoria de Pedro Simon. Padilha frisou que, se José Ivo Sartori, defendido por alas internas para ser o candidato ao Piratini, não apoiar o projeto nacional, vai trabalhar contra a sua aclamação na convenção interna.

Jornal do Comércio – Como o senhor vê a possibilidade de dissidência no PMDB gaúcho sobre o apoio ao projeto nacional Dilma-Temer?

Eliseu Padilha - Algum estado pode querer abrir uma dissidência quanto à posição do PMDB nacional. Esta distinção tem de ser feita, pois admitirmos que qualquer estado possa votar em quem quiser, sem fidelidade e coerência política ao projeto nacional, é um absurdo. Esta hipótese não existe. Eu e quem seguir a minha posição no Rio Grande do Sul vamos votar e fazer campanha para Michel Temer (vice-presidente da República), e, circunstancialmente, para o PT, com quem estamos aliados. O PMDB tem posição, sim. As dissidências passarão por convenção. Aqui no Estado, as associações de prefeitos e vereadores acreditam que temos que manter a coerência com o projeto nacional. 

JC – O PMDB já não deveria estar trabalhando com o nome de um candidato ao governo gaúcho? 

Padilha - A candidatura a governador já deveria, sim, ser trabalhada. Outros partidos já têm candidaturas postas, o PMDB ainda não tem. Se alguém (no Estado) pretender colocar uma candidatura dissidente da nacional, terá do outro lado outros pretendentes que vão sustentar a coerência com o projeto nacional. Acho equivocado lançar candidatura que tenha como ponto de partida a dissidência. É muito importante que o PMDB no Estado tenha unidade partidária. Nós queremos uma candidatura que seja do PMDB como um todo. 

JC – Quem é o seu candidato para concorrer ao Piratini?

Padilha - Temos muitos nomes. Acho que o melhor nome para a candidatura ao governo do Estado seria Germano Rigotto. Mas ele prefere disputar o Senado. Ele seria, indiscutivelmente, o melhor candidato do PMDB nesta eleição. Mas tem outros nomes. Contanto que se mantenha a coerência de a candidatura estadual ser aliada da nacional, o nome que sair a gente vai trabalhar por ele.

JC – O grupo que sustenta a candidatura de José Ivo Sartori não vai apoiar o projeto nacional com o PT...

Padilha – Sartori pode ser candidato, pode ser governador, inclusive com o apoio de toda a nossa turma, mas à medida em que ele não coloque como pressuposto a dissidência. Se pretender a dissidência, é óbvio que a gente vai trabalhar contra.

JC – Além de Rigotto, qual seria o segundo nome do seu grupo que poderia concorrer ao Piratini?

Padilha – O nome que está lançado pela associação de prefeitos e que vejo com muito bons olhos é o de Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Ele acaba sendo um grande nome por causa da sua luta política. Ele foi presidente da Juventude do PMDB e prefeito pelo PMDB e defende, nacionalmente, contra tudo e contra todos, a municipalização das atividades e dos recursos públicos. Porque as atividades têm vindo para os municípios, e os recursos ficam concentrados em Brasília. Ele é um belo candidato, tem uma causa muito nobre e poderá levar com ele todos os prefeitos e vereadores. 

JC – Nacionalmente, PT e PMDB vivem de forma harmônica. Aqui no Rio Grande do Sul, no entanto, o adversário mais agressivo contra o governo petista de Tarso Genro é, justamente, o PMDB. Como o senhor vê isto?

Padilha – A gente sempre tem que fazer uma análise histórica. O PMDB e o PT disputam a hegemonia no Rio Grande do Sul há muito tempo. A gente quer ganhar, e eles também querem. Tem um fato que explica essa reação da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa. Lá no início do governo Tarso, ele ainda não tinha tomado posse, ele fez uma declaração de que faria aliança com todo mundo menos com o PMDB, que o PMDB ficaria reservado à oposição. Os deputados corresponderam a essa assertiva do governador. Mas a quem está no governo é natural que haja oposição. Na democracia, o pressuposto é que haja governo e oposição. As armas que são usadas são as disponíveis no momento. Quem faz oposição critica o governo. Se o governo tem uma gestão tão boa que não possa ser criticado, não pode se preocupar com o que diz a oposição. De outra parte, se o governo não é tão bom e pode ser criticado com dados objetivos, o governo é que tem que se preocupar em melhorar.

JC – Uma futura aproximação entre PMDB e PT no Estado seria possível?

Padilha – Nunca tive a ilusão de que nesta eleição tivesse uma aliança ou aproximação. Acho até que isso não será impossível no futuro, nas próximas eleições. Mas, nesta, seguramente, é impossível. Digo que não vejo isto com tanta distância com relação ao futuro porque analiso os municípios. Sei que hoje o maior número de alianças que o PMDB tem no Rio Grande do Sul é com o PT, entre prefeitos e vices. Portanto, isto é uma coisa que está caminhando. Em política, nada é definitivo historicamente. Um partido que era um grande partido ontem, amanhã pode não ser tão grande. As diferenças ideológicas que, porventura, existissem no passado, depois que se passa pelo governo seguramente diminuem muito. É só ver o discurso que tinha o PT antes de chegar ao governo nacional e ver o que tem hoje. O Brasil tem uma dependência internacional muito grande, o que acaba levando os governos a ter ações muito parecidas. Se analisarmos os governos do PT e os que os antecederam, vamos ver que, na essência, tem muito pouca diferença. Muito se falou, agora nos governos do PT, dos programas sociais, mas eles foram criados lá atrás. Sarney, por exemplo, foi quem criou o programa do leite, o programa do vale-transporte para o trabalhador, foi um grande avanço.

PMDB prepara candidatura para 2018

O vice-presidente Michel Temer tentou descartar recentemente que uma eventual rebelião do PMDB com vistas a pressionar a presidente Dilma Rousseff (PT) nas costuras regionais dos palanques do ano que vem vá influenciar o apoio da sigla à sua reeleição.

Naturalmente cotado para compor novamente a chapa presidencial como vice da petista, ele tem agido para que as ameaças para antecipar a convenção nacional da sigla - que partem de alas do PMDB nos estados onde há impasse nas alianças com o PT - não desaguem na aliança nacional.

A ideia é que o partido formalize apoio à presidente na convenção do partido em junho, mas setores peemedebistas defendem a oficialização dos apoios regionais e federais para as eleições do ano que vem em abril.

Em conversa com jornalistas, Temer tem evitado delinear um cenário cada vez mais improvável de candidatura própria em 2014. Rebate, em vez disso, especulações de que ceder novamente a cabeça de chapa para o PT configure perda de poder político. “Me incomoda quando dizem que o PMDB não tem poder político”, disse. “O PMDB tem a presidência do Senado, tem a presidência da Câmara, tem a vice-presidência...”

Mas, nesse sentido, Temer tem especulado também que o PMDB trabalha para lançar candidato próprio à presidência em 2018. Não comentou qual seria seu nome preferido, mas, questionado se o prefeito do Rio, Eduardo Paes, estaria cotado, ele afirma que se trata de um “bom nome”.

Sobre a costura de palanques em São Paulo, Temer disse que o PMDB está fechado com a candidatura de Paulo Skaf para o Bandeirantes, mas que aposta no deputado federal Gabriel Chalita para puxar votos. Temer evitou ainda afirmar qual dos dois pré-candidatos à presidência, Eduardo Campos (PSB-PE) e Aécio Neves (PSDB-MG), é mais competitivo.