Pelotas consagra Eduardo Leite

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Após uma campanha que teve como mote a renovação, Pelotas elegeu, ontem, Eduardo Leite (PSDB) para comandar a cidade pelos próximos quatro anos, com 57,15% da preferência dos eleitores - 110.823 votos - contra 42,85% de Fernando Marroni (PT) - 83.079 votos. Entre a renovação de partidos na administração municipal, que hoje é liderada por Adolfo Fetter Júnior (PP) e terá sequência com o tucano, a cidade optou pela renovação na idade.
Com apenas 27 anos, Leite terá como vice-prefeita a professora universitária Paula Mascarenhas (PPS). “Vou trabalhar com muita dedicação, incansavelmente, para provar que podemos fazer política diferente, e que político tem que estar junto com a população para resolver os problemas”, afirmou Leite, logo após sua vitória estar consolidada, por volta das 19h10min.
Com uma ampla coligação, de nove partidos (PSDB, PPS, PP, PSD, PTB, PR, PSC, PDT e PRB), o tucano apostou, durante toda a campanha, na tática de se apresentar como uma alternativa ao candidato mais experiente, Fernando Marroni, que já governou a cidade. Prometendo melhorar os serviços, em especial de saúde, ele garantiu a vitória no primeiro turno com 77.026 votos (39,89%), contra 55.111 (28,54%) votos do petista. “Durante essa eleição, nos propusemos a falar do futuro e não do passado. Não buscamos apontar culpados, mas buscar soluções para os problemas que temos que resolver.”
Leite celebrou a vitória homenageando um de seus coordenadores de campanha, que faleceu após sofrer um infarto fulminante. Carlos Roberto Martins, o Bebete, morreu na madrugada de ontem, aos 68 anos. O prefeito eleito lamentou a morte do tesoureiro de sua campanha, que, além de amigo, foi um dos principais incentivadores da campanha vitoriosa do tucano. “Ele foi a primeira pessoa a me dar força e dizer que eu tinha condições de ganhar as eleições”, disse.
Ontem, durante a manifestação de vitória, Leite ressaltou a importância do apoio do atual prefeito, Fetter Júnior, do qual também integrou a gestão.  Ao relatar que recebeu uma ligação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que esteve na reta final em Pelotas para reforçar a campanha tucana, Leite disse que uma das primeiras atividades como prefeito eleito será discutir com o mineiro diretrizes estratégicas para a gestão que terá início em 2013. “Isso demonstra a importância que ele dá para o nosso município, o que nos deixa inteiramente honrados.”
O tucano ainda agradeceu ao ex-prefeito Bernardo de Souza (PPS), considerado mentor político de Leite e de Paula, porque foi por meio dele que tiveram a primeira participação na gestão municipal. “Após andar muitos anos para trás, hoje Pelotas reensaia condição de nova cidade, para alçar novos voos. Tenho plena consciência de que podemos buscar a unidade para enfrentar os desafios”, afirmou. “Passadas as eleições, vamos unir a cidade.”

Marroni lamenta quarta derrota na disputa pelo comando da prefeitura

Após a consolidação da vitória de Eduardo Leite, o clima de confiança manifestado pelo candidato do PT, Fernando Marroni, pela manhã, deu lugar à desolação. Abatido, o petista apenas se pronunciou a jornalistas na própria casa, sem permitir que fossem feitas perguntas.
Na sua quarta tentativa sem sucesso de chegar ao comando de Pelotas, Marroni apostava no alinhamento com os governos federal e estadual. Deputado federal suplente, ele deve retornar à Câmara dos Deputados. Além de agradecer os votos que recebeu nos dois turnos, ele garantiu que irá fiscalizar o cumprimento “das promessas do novo prefeito eleito”. “E contribuir”, disse. Finalizou afirmando que “não há desonra em ganhar ou perder eleições”.
Pela manhã, o candidato organizou uma confraternização com apoiadores que permaneciam na cidade após o comício de quinta-feira, em que contou com grande número de lideranças do PT e demais partidos da coligação - PMDB, PSDC e PPL -, além de aliados. Entre eles, estavam o governador Tarso Genro, o senador Paulo Paim, o prefeito eleito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer, e o deputado estadual Catarina Paladini, candidato a prefeito de Pelotas pelo PSB, que apoiou Marroni no segundo turno.
Mesmo sem apostar na derrota do petista, o governador adiantou que dará “tratamento republicano” ao novo prefeito, ou seja, sem distinção por não ser de um partido aliado ao do governo estadual. Já Lindenmeyer, apesar de considerar que o PT cresceu neste pleito, diz que as derrotas em Porto Alegre e Pelotas, primeiro e terceiro maiores colégios eleitorais do Estado, exigem que a sigla faça uma “reflexão”, em função da posição estratégica destas cidades para o Rio Grande do Sul.

Presidente do tribunal avalia que pelotenses deram ‘exemplo de civismo’

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Gaspar Marques Batista, avaliou, ontem à tarde, após o encerramento do pleito em Pelotas, que as eleições transcorreram sem sobressaltos em Pelotas, sem prisões. “Vimos aqui um exemplo de civismo”, afirmou Batista, na sede improvisada do TRE no município que possui 250.790 eleitores.
Durante todo o domingo, o presidente do TRE percorreu seções eleitorais orientando mesários e a Brigada Militar para inibir irregularidades. Nos pontos de votação, Batista identificou falha na orientação dos mesários sobre o uso de celular na cabine da urna. Em alguns locais, orientavam o eleitor a desligar o aparelho, quando o correto seria deixá-lo sobre a mesa antes de votar. Outro problema foi a boca de urna feita por militantes nas proximidades dos locais de votação. “Constatamos casos comuns, de cabos eleitorais exaltados e concentração de pessoas com bandeiras.” Nesses casos, o TRE atuou em parceria com a Brigada Militar, que foi orientada a abordá-los, explicando as razões para que se dispersassem. Batista comemorou por apenas uma urna ter sido substituída ao longo do dia.
“Comemorávamos quando não precisávamos substituir nenhuma urna eletrônica por uma de lona. Hoje, estamos comemorando por precisar substituir apenas uma urna eletrônica por outra”, relata. O presidente do TRE ainda destaca que outro aspecto positivo da disputa em Pelotas foi a ocorrência, em apenas um local de votação, de sujeira de material de propaganda de campanha no chão, prática muito comum no dia do pleito. “Isso demonstra a educação e a consciência do povo pelotense”, elogiou Batista.

Movimentação se intensificou no turno da tarde

A parte da manhã foi marcada pela calma e pela escassez de militantes nas ruas no único município que teve segundo turno no Estado. A partir do meio-dia até o meio da tarde, o movimento de carros e de militantes se acentuou. O número equilibrado de pelotenses com bandeiras de ambos os candidatos, nas esquinas e nos arredores das seções eleitorais, mostrava a dificuldade de fazer projeções do resultado.
No Colégio Municipal Pelotense, a movimentação era intensa à tarde, com muitos eleitores portando adesivos e bandeiras dos candidatos.  Fugindo da movimentação em função do pleito, Luiz Henrique Guimarães, engenheiro de 52 anos, conta que aproveitou o dia de folga para realizar atividades em família, deixando para exercer a cidadania pouco antes do fim do prazo, às 17h. “Dormi até tarde e acabei vindo depois do descanso do almoço”, relata. O eleitor analisou que a movimentação na cidade estava regular e afirmou que não havia presenciado casos de boca de urna ou outras irregularidades. “Está tranquilo”, resumiu Guimarães.
Também à parte das manifestações em prol de candidatos, Emilene Tessmer, servidora pública de 35 anos, resolveu votar no final da tarde acreditando na diminuição do fluxo de pessoas na cidade. Junto com a filha Alana, ela deixou a escola por volta das 16h50min. “Tinha um aniversário, por isso deixei para mais tarde”, justifica. Ela ainda se disse surpresa com a falta de propaganda nas ruas - especialmente os tradicionais santinhos. “E isso que a eleição estava bem disputada”, avalia.

Sem segundo turno, porto-alegrense ficou mais atento a São Paulo do que a Pelotas

Fernanda Nascimento e Bárbara Gallo, especial para o JC
O clima de expectativa em relação ao segundo turno das eleições municipais não integrou o domingo dos porto-alegrenses. Com o pleito já encerrado na Capital, a maioria dos frequentadores do Parque da Redenção e da Usina do Gasômetro demonstrou pouco conhecimento sobre a disputa que movimentou eleitores em 50 cidades do Brasil. O embate mais lembrado não foi Pelotas, mas o que ocorreu na cidade de São Paulo.
“Eu sei que são em várias cidades, mas agora só lembro de São Paulo”, afirmou a universitária Shallon Teobaldo. O estudante Eduardo Nascimento também argumentou que “o resultado na capital paulista é o que mais interessa, no fim das contas”. A cabeleireira Paula Melo e o mecânico Álvaro Nunes, entretanto, mostraram-se mais atentos aos confrontos no restante do País. “Pelotas é a única cidade do Rio Grande do Sul. Em São Paulo, é (José) Serra contra (Fernando) Haddad. Em Salvador, a definição vai ser no detalhe”, citaram sem titubear.
A indefinição do resultado das eleições em algumas cidades onde os vencedores estão sendo julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em decorrência de condenações com base na lei da ficha limpa, confundiu algumas pessoas. “Aqui no Rio Grande do Sul sei de Pelotas e acho que há outras cidades que estavam com aqueles problemas na Justiça, né?”, questionava o síndico Emilio Vieira.
Para algumas pessoas, a única informação sobre a disputa do segundo turno era a própria realização das eleições ontem. “Sei que tem eleição, mas não sei onde é”, confirmou o motorista Carlos Cavalheiro.