Vice de Robaina, Goretti defende educação e esporte

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Uma coligação pequena, mas motivada por afinidades ideológicas. Este é o aspecto que Goretti Grossi (PCB), candidata a vice-prefeita com Roberto Robaina (P-Sol) faz questão de salientar, assim como a origem do Partido Comunista Brasileiro. “Somos o único partido com 90 anos de história e do qual participaram Luís Carlos Prestes e Olga Benário”, arremata a candidata.
Ela considera que a legenda tem bons quadros para administrar a cidade, mas ressalta que o partido pretende cortar os cargos em comissão. A intenção é ter menos contratos emergenciais, valorizar o funcionalismo municipal e aproveitar mais os servidores na execução de algumas obras para reduzir custos e agilizar os serviços. A coligação propõe ainda ter conselhos populares que discutam projetos para a cidade.
Além das questões econômicas, a educação e o esporte foram temas que se sobressaíram durante a entrevista, já que a candidata foi professora da rede pública e é atleta. Para ela, Porto Alegre poderia adotar o modelo de centros esportivos dos países socialistas e descobrir novos talentos.
Jornal do Comércio - A prefeitura pode apoiar o desenvolvimento do esporte?
Goretti Grossi - É um direito do ser humano ter acesso ao saber universal, à saúde, ao esporte, ao lazer, e o Estado é responsável por isso. O Brasil é um dos países mais ricos do mundo e é enorme, então espaço e dinheiro a gente tem, mas falta prioridade. O governo federal, com todos esses partidos do campo do capital, deu este ano R$ 25 bilhões para a Copa, que é um empreendimento empresarial, e tirou R$ 6 bilhões da saúde e da educação. O mais triste é que é barato organizar centros esportivos para que todos tenham acesso ao esporte. Os centros podem atender a grupos de escolas, podem funcionar por bairros. Uma província de Cuba, chamada Camagüey, tem mais centros esportivos do que todo o Brasil. É uma coisa barata. Em Porto Alegre, se acabou com a proposta de (Leonel) Brizola de escola em turno integral e se aplica o depósito de criança no turno inverso com oficinas, ministradas, na maioria das vezes, por pessoas que tem boa vontade, mas sem formação e qualificação. Poderia haver iniciação ao esporte se a prefeitura garantisse a educação física desde a escola infantil.
JC - Não existe esse estímulo nos centros comunitários?
Goretti – Fala-se em colocar os jovens no esporte para afastá-los das drogas, mas não é uma política efetiva de iniciação esportiva, de acesso às modalidades. Existem projetos muito pontuais, normalmente não orientados por um profissional da área e de caráter temporário, tipo esportes da moda.
JC – Qual seria o custo destes centros esportivos?
Goretti - Com certeza, muito menos do que a prefeitura e o Estado gastam com a Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) e com presídio. É muito mais barato do que depois ter de lidar com as consequências da marginalidade.
JC – Há outras propostas para a juventude?
Goretti - Para desenvolver a criatividade dos jovens, é muito importante eles terem acesso à arte e à cultura. Nossa juventude também deve pensar o mundo do trabalho, tem que ter na escola condições de conhecer e de se desenvolver nas diversas áreas, de forma que, em torno dos 14 anos, possa definir para que área vai se encaminhar. Não que ele vá definir a sua profissão, mas vai saber no que tem mais competência e interesse. Esse projeto da Secretaria da Educação, baseado nos ditames do Banco Mundial, estimula os jovens a trabalhar cada vez mais cedo. Isso está errado. Precisamos ter dentro das escolas uma política que auxilie na escolha do seu caminho profissional, e isso não temos. Nossos jovens cada vez mais estão fora do Ensino Médio porque começam como estagiários cada vez mais cedo, vão para o ensino noturno para trabalhar de dia e ajudar no sustento da família. Dos alunos que entram pela política de cotas nas universidades federais, em torno de 80% abandonam o curso porque têm que continuar trabalhando. Eles deveriam ganhar uma bolsa de estudo para poder se dedicar e recuperar o que faltou na escola pública.
JC - Qual seria a política quanto ao ensino por ciclos?
Goretti - Chega um momento em que os professores voltam ao ensino tradicional para alfabetizar as crianças. Os filhos dos trabalhadores mudam bastante de escola, um ano estão na escola municipal, noutro na estadual, com sistema de ensino bem diferente. E quem responde pela formação da criança? O construtivismo da escola por ciclo é maravilhoso para o conteúdo de Artes, mas para as ciências exatas não funciona. Há desqualificação do ensino no Estado, tanto nas escolas municipais como estaduais, visível por avaliações externas. Não será possível trabalhar uma metodologia única de uma só vez, vamos ter que construir nosso projeto pedagógico com a comunidade, mas a base dele tem que ser a educação dos filhos da classe trabalhadora. Queremos uma escola de qualidade, crítica e criadora, é esse cidadão que a gente quer formar.
JC – Qual é a estratégia para geração de empregos?
Goretti - É questão de vontade política. Vemos essa desenfreada quantidade de obras, mera especulação imobiliária, com prédios vazios, para os capitalistas investirem e ganharem mais. Porto Alegre virou um canteiro de obras, agora, com a Copa, pior ainda. A cidade cada vez mais quente, o ar é muito ruim no ano todo. Esse projeto da orla do Guaíba é um escárnio, é o projeto do esgoto. Em vez de megaempreendimentos financiados com dinheiro público, podemos abrir frentes de trabalho. É obrigação do Estado garantir emprego para o cidadão porque na sociedade capitalista, só existe quem tem salário, e, para ter salário, tem que estar empregado. Podemos começar com frentes de trabalho para a construção, voltadas para as necessidades concretas dos trabalhadores que continuam sem saneamento básico. A cesta básica normalmente é a mais cara do País, e podemos garantir alimento de baixo preço e alta qualidade, vendendo direto do produtor para o consumidor, como acontece nas feiras no Bom Fim. Tudo sempre é um projeto integrado, de justiça social, meio ambiente... Por isso, trabalhamos com a ideia do poder popular e da organização da população em conselhos.

Perfil

Goretti Grossi nasceu em Porto Alegre em 1958. Neta de fazendeiros e filha de coronel do Exército, atribui à família o gosto pela cultura e pelos livros, mas foi fora de casa que encontrou a ideologia com a qual mais se identifica. Aos 18 anos, recebeu das mãos do historiador Luiz Roberto Lopes, seu professor no curso pré-vestibular, já falecido, um exemplar do Manifesto Comunista. Formou-se em Artes Cênicas e Educação Física na Ufrgs no final dos anos 1970 e começou a carreira no magistério em 1979, mesmo ano em que ingressou no Cpers/Sindicato. Trabalhou na rede pública como professora até se aposentar recentemente e também atuou em diversas produções teatrais na Capital, razão pela qual fala com frequência em apoio à formação de atletas e incentivo à cultura. Entre as atividades a que mais dedica atenção, além da política, estão o cuidado com os filhos - um de 8 anos e outro adolescente, em preparação para o vestibular - e a prática de esportes. A candidata a vice-prefeita é atleta master e, por isso, um dos lugares em que mais gosta de estar na cidade são as pistas de atletismo. Também destaca como um dos locais preferidos a orla do Guaíba.