Instituto Ronaldinho prestava serviços precários

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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar os fatos relacionados aos convênios estabelecidos entre a prefeitura da Capital e o Instituto Ronaldinho Gaúcho (IRG), na quinta-feira, ouviu mais três depoimentos no plenário Otávio Rocha. Almerinda Clediney Rosa de Lima, mãe de um dos jovens atendidos pelo IRG, Márcio Luis Timotheo, servidor do Executivo municipal e integrante do grupo de trabalho para a prestação de contas do projeto Jogos de Verão, e Túlio Castro de Castro Filho, representante da empresa Plansul de consultorias, compareceram para fornecer esclarecimentos. A próxima reunião, marcada para o dia 21 de junho, contará com a presença do empresário e irmão do jogador, Roberto de Assis Moreira.
Almerinda Clediney Rosa de Lima foi a primeira a expor o seu relato. De forma voluntária, a líder comunitária apresentou a experiência do filho, Matheus Lima dos Santos, que entrou na entidade com então 14 anos e participou da primeira e da segunda fases dos projetos Letras e Gols e Jogos de Verão. Almerinda lamentou o atendimento da instituição destinado às crianças, classificando como “decepção total” a suposta ausência de acompanhamento e reforço escolar e a esporadicidade das atividades que estavam previstas para serem desenvolvidas. “Vim hoje aqui para cooperar com o trabalho da CPI. A nossa expectativa, como mãe e como aluno, era de que Matheus teria algum tipo de curso, alguma melhoria, mas ele não aprendeu nada lá e ganhou só duas das três camisetas que eles tinham prometido como uniforme.”
Moradora da Restinga, ela deixava o filho aos cuidados do IRG durante as tardes para trabalhar. Destacando as precárias condições do serviço, Almerinda comentou a respeito da alimentação de baixa qualidade recebida pelos jovens, a ausência de planejamento e a falta de contato dos pais com os responsáveis pelo instituto, que não oferecia nenhum tipo de retorno ou orientação ao longo da evolução dos programas. “Não havia monitores, e até hoje eu não conheço os professores encarregados do trabalho. Acho que tivemos duas ou três reuniões com os coordenadores e diretores, e nunca mais”.
Ela conta que um dos episódios mais marcantes vivenciados durante o período em que Matheus estava matriculado no IRG foi quando o menino se machucou na instituição e foi deixado em casa sozinho, com um bilhete informando uma lesão, que deveria ser tratada com gelo. “Cheguei em casa à noite, e ele estava lá, com o pé inchado.” 
Ao final do depoimento, o petista Carlos Todeschini (PT) repudiou a atitude do vereador DJ Cassiá (PTB), que, de acordo com ele, teria constrangido e intimidado a convidada com algumas perguntas inoportunas. Rebatendo a crítica, Cassiá afirmou que os seus questionamentos estariam incomodando a oposição, não a testemunha, e acrescentou que a comissão deveria ser mais objetiva na condução dos trabalhos e na análise dos propósitos da investigação. Antes de deixar o plenário, Almerinda manifestou seu descontentamento com a postura do petebista.

Trabalho dos instrutores também foi questionado na CPI

O segundo depoente, Túlio Castro de Castro Filho, representante da Plansul Consultoria, fez uma breve descrição da empresa e ressaltou a prestação de serviços da companhia em áreas distintas, mantendo contratos com todas as esferas de governo. Castro Filho confirmou a existência de três convênios com órgãos da prefeitura de Porto Alegre desde 2007, os quais envolviam serviços de limpeza e inclusão digital. Conforme informações dos parlamentares, o acordo firmado com a Procempa foi oficializado somente em 2009, apesar de já estar vigorando por dois anos. Dos 62 monitores disponibilizados para inclusão digital, três eram destinados à ONG com uma jornada laboral de oito horas diárias. Após o relator do colegiado, vereador Waldir Canal (PRB), inquirir o representante sobre a fiscalização da qualidade dos trabalhos prestados aos jovens, foi solicitado que a Plansul encaminhe à CPI os contratos e as folhas com o ponto de presença dos instrutores que atuavam no instituto.
O servidor municipal, integrante do grupo de trabalho para a prestação de contas do projeto Jogos de Verão, Márcio Luis Timotheo, concluiu a rodada de perguntas ao explicar que a equipe, formada por cinco pessoas e coordenada por uma funcionária da Secretaria de Governança Local, constatou inconsistências em documentos contábeis e encaminhou as dúvidas à Secretaria da Fazenda. Algumas pendências chegaram a provocar a retenção de valores até a regularização. Conforme Timotheo, um dos problemas verificados na auditoria foi a falta do mês de competência nas notas fiscais. Entretanto, ele afirmou que existia a preocupação de que pequenos detalhes não prejudicassem ou interferissem o andamento dos programas.