Edição de 2013 do Fórum Social não será em Porto Alegre

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Um dos idealizadores do Fórum Social Mundial (FSM) e presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew esteve nesta quinta-feira no Rio Grande do Sul para participar, em Canoas, do 1º Seminário Estadual de Transparência e Controle Social. Ao meio-dia, ele foi recebido em audiência pelo governador Tarso Genro (PT), no Palácio Piratini, em Porto Alegre. Grajew apresentou o programa Cidades Sustentáveis, de iniciativa da sociedade civil, que sugere uma agenda de desenvolvimento sustentável, relacionando aspectos econômicos, sociais, ambientais, políticos e culturais. Tarso disse a Grajew que a gestão do Estado vai nessa direção e que o eixo do Conselho de Desenvolvimento Econômico (Conselhão) é a sustentabilidade das ações de governo. O programa Cidades Sustentáveis - que em São Paulo, onde vive Grajew, foi batizado de Nossa São Paulo - será apresentado também aos candidatos das próximas eleições, para que seja implementado em cidades brasileiras. Ao deixar o gabinete de Tarso, Grajew conversou com a reportagem do Jornal do Comércio. Ele defendeu a decisão do Conselho Internacional do FSM de não realizar a edição centralizada de 2013 em Porto Alegre e falou sobre os preparativos do evento.
Jornal do Comércio - Em 2001, Porto Alegre recebeu a primeira edição do FSM. Agora, houve uma mobilização do governo do Estado, da prefeitura e de movimentos sociais para que em 2013 a Capital voltasse a ser a sede da edição centralizada do evento, mas a proposta não prosperou.
Oded Grajew - A decisão que foi tomada por nós, pelo Conselho Internacional, é muito melhor. O que foi decidido é que a cada dois anos - 2012, 2014, 2016, 2018, 2020, 2022, 2024, 2026, 2028, 2030 e 2032... Estou repetindo até para cair a ficha. O FSM vai voltar para Porto Alegre. A marca do FSM, que já está relacionada com Porto Alegre desde o seu começo, vai ser ainda mais reforçada. Vai ser criado o espaço (do fórum no Memorial do Rio Grande do Sul). Então, é muito melhor do que ter um FSM em 2013 e outro não sei quando depois. A cada ano par o fórum renova-se e vem a Porto Alegre.
JC - E a edição centralizada de 2013 será onde?
Grajew - Talvez no Egito ou no Norte da África. Essa é uma decisão que não foi tomada ainda.
JC - E por que estão sendo cogitados esses países?
Grajew - Várias organizações que participam da Primavera Árabe têm sua origem no Fórum Social Mundial. Como é uma mudança que está sendo implementada, mas ainda é frágil, gostaria que fosse lá para consolidar o processo de democratização desses países.
JC - E essa definição sai quando?
Grajew - Agora em novembro haverá uma reunião em Bangladesh, não sei se será decidido lá. Talvez no começo do ano que vem tenha uma decisão nesse sentido.
JC - O FSM temático de 2012 em Porto Alegre será a base para os debates da Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente.
Grajew - Em junho do ano que vem, vamos ter um evento mundial no Rio de Janeiro, sobre o modelo de desenvolvimento sustentável. A crise econômico-financeira ainda dá mais importância a essa discussão. E o FSM de Porto Alegre será um encontro preparatório para a Rio+20 (nome em referência aos 20 anos da ECO-92).
JC - O senhor veio ao Estado para palestrar em um seminário sobre controle social e transparência. Qual a importância da participação do cidadão na gestão pública?
Grajew - Quando se tem a participação da sociedade, ela exige maior transparência da gestão pública, o que significa melhor utilização dos recursos públicos. É menos corrupção e melhor gestão, porque você tem ideia de como a gestão pública está impactando na sociedade.
JC - Pode-se visualizar o fluxo dos recursos...
Grajew - Exatamente, se está diminuindo a mortalidade infantil, se a mobilidade urbana está melhorando, se o déficit habitacional está decaindo... O gestor público sabe que a população está olhando e vai procurar melhorar os indicadores. Você tem condições de avaliar melhor a gestão pública, o que torna o processo eleitoral mais objetivo, mais responsável. São benefícios para a sociedade e apoios importantes para o gestor que quer realmente fazer uma gestão eficiente e transparente.
JC - Isso já acontece em São Paulo?
Grajew - A Nossa São Paulo é uma iniciativa da sociedade. Estamos mostrando como ela tem acompanhado esse processo. Para o gestor público que queira fazer uma gestão aberta e com participação não falta nenhum conhecimento de como fazer. Depende basicamente de ter vontade política e competência.
JC - Como tem observado essas mobilizações que têm acontecido pelo País, com protestos contra a corrupção e por mais moralidade na gestão pública?
Grajew - É uma mensagem que a sociedade está mandando, especialmente para os políticos. Acho que os políticos mais comprometidos com a ética e que queiram seguir uma carreira política têm que captar essa mensagem. Isso exige ações concretas. (As pessoas que estão protestando) são as mesmas que participaram do movimento pela (lei da) ficha limpa e que vão acompanhar a classe política para saber qual o seu grau de comprometimento contra a corrupção. É uma mensagem forte. Na origem dos nossos grandes problemas, como saúde e educação, tem certamente a questão da corrupção. Ela tem consequência concreta na vida das pessoas, ela mata. Impede que se diminua a mortalidade infantil e materna, entra menos recurso para a saúde, educação, habitação.