Pestana diz que pacote não racha base de apoio do governador

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A uma semana da votação dos projetos do plano de sustentabilidade do governo estadual, o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana (PT), descarta qualquer possibilidade de racha entre os 32 deputados da base aliada. E projeta que, devido à pressão dos servidores públicos, as medidas só deverão ser apreciadas no dia 5 de julho, apesar de entrarem na pauta amanhã. Hoje à noite, o governador Tarso Genro (PT) realiza um jantar com os parlamentares governistas. Pestana informa que o encontro servirá para analisar as emendas protocoladas e "a conjuntura política na Assembleia Legislativa".
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o secretário comenta a disputa no PTB que acabou se tornando pública quando o deputado federal Sérgio Moraes teria agredido o deputado estadual Ronaldo Santini durante uma discussão sobre o método de indicação de cargos em comissão (CCs) no Executivo gaúcho. O episódio motivou uma reunião da bancada petebista na segunda-feira passada com o governador, na qual o partido colocou seus cargos à disposição, proposta que não foi aceita por Tarso.
Pestana distancia o caso do Piratini e considera que foi um desentendimento interno dos petebistas. "Se o PTB faz as indicações através dos deputados, é uma questão particular do partido. Como é que o governo vai exigir para si a indicação dos militantes dos partidos?"
Jornal do Comércio - Como está a articulação do governo com a base para a votação dos projetos do pacote?
Carlos Pestana - Estamos muito tranquilos. Conversamos com a base desde março. Não tenho conhecimento de projetos que tenham sido tão discutidos como esses. Acredito que as medidas serão aprovadas pela base.
JC - Os projetos passam a trancar a pauta de votações da Assembleia a partir de amanhã. Acredita que serão apreciados nessa sessão?
Pestana - Normalmente, os projetos são votados na terça-feira, mas acredito que a votação ocorra somente na próxima semana, no dia 5.
JC - Por quê?
Pestana - Há um processo de mobilização (por parte dos servidores públicos), provavelmente teremos o plenário cheio. Por isso, é mais provável que sejam votados na terça-feira da próxima semana.
JC - A reforma da Previdência é uma das propostas mais criticadas. A oposição e os sindicatos questionam a constitucionalidade da medida, que propõe aumento de alíquota para os servidores que recebem mais de R$ 3.689,88.
Pestana - Nos baseamos em experiências já existentes. Estamos convencidos da constitucionalidade do projeto. Se houvesse uma alternativa que enfrentasse o problema da Previdência e que ampliasse o apoio à medida, estaríamos abertos a discutir. Infelizmente isso ainda não apareceu. As sugestões que surgiram normalmente remetiam à União o pagamento do passivo previdenciário.
JC - A oposição e um grupo de procuradores reivindicam uma manifestação da Procuradoria-Geral do Estado sobre a constitucionalidade do texto da Previdência. Isso ocorrerá?
Pestana - Esse projeto foi construído por um grupo de trabalho do governo do qual o procurador-geral (Carlos Henrique Kaipper, do PT) participou e estava sempre sendo informado. Poderíamos ter proposto um simples aumento da alíquota para todos, teria menos risco do ponto de vista jurídico, mas avaliamos que não seria justo. Fizemos a opção de que aqueles que ganham mais paguem um pouco mais. Foi uma decisão política do governo. O procurador vem acompanhando essa discussão. Não há motivo para outras manifestações além daquelas que já aconteceram.
JC - Os servidores estão bastante organizados contra o pacote. Espalharam outdoors e prometem mais manifestações. Isso preocupa o governo?
Pestana - Encaramos com naturalidade; já era esperado. Nosso projeto, no que diz respeito à Previdência, não atinge 87% dos servidores do Executivo. A ampla maioria não sofrerá nenhum tipo de alteração na sua contribuição; não tem por que se preocupar. Se somarmos os três Poderes, 18% dos servidores serão atingidos. Essa minoria representa 53% da folha de pagamento do Estado. Os 82% restantes representam 47%.
JC - O Sindicato dos Professores (Cpers) vem liderando os protestos contra os projetos, com ataques contundentes.
Pestana - As críticas são equivocadas. Os professores praticamente não serão atingidos. Eles tiveram o maior reajuste dos últimos 12 anos. Existe, por parte do governo, compromisso na questão do piso. De uma pauta de 18 reivindicações, atendemos 17. Há muito tempo que a categoria não conquista tantos direitos num período tão curto de governo. Nos quatro anos do governo Yeda (Crusius, do PSDB), os professores tiveram 6% de aumento. Acredito que é um movimento político do Cpers em solidariedade às demais categorias.
JC - As alterações na forma de pagamento das Requisições de Pequeno Valor (RPVs) também são criticadas. O governo está convicto da constitucionalidade dessa medida?
Pestana - Sim. A solução que está sendo encontrada é similar à dos precatórios. Chegou um momento em que o Estado não tinha mais condições de pagar. Se estabeleceu um percentual e a partir daí foi feito o pagamento. Com as RPVs é a mesma coisa. Sem previsão financeira, não há possibilidade de o Estado arcar com esse passivo, que hoje é de R$ 3 bilhões. Neste ano, são mais de R$ 800 milhões. A ideia é estabelecer uma previsão orçamentária (de 1,5% da Receita Corrente Líquida) para que o pagamento seja garantido. A intenção do governo não é dar calote, é pagar e aumentar o valor em relação à média dos últimos quatro anos. Para uma parcela, estamos antecipando para 30 dias o pagamento; para outra ampliamos. Hoje, os pagamentos estão demorando de oito meses a dois anos. Estamos estabelecendo a correção da inflação para aqueles valores que eventualmente atrasarem.
JC - Em encontro estadual do PTB, o deputado federal Sérgio Moraes teria agredido o deputado estadual Ronaldo Santini durante uma discussão sobre a forma como o partido indica os cargos em comissão (CCs) que ocupa no governo. Como esse episódio impactou o Piratini?
Pestana - Encaramos essa situação como um problema pontual. Nossa relação com o PTB é muito positiva. É um episódio de consumo interno do partido e não tem relação com o governo.
JC - O deputado Cassiá Carpes (PTB) tem feito manifestações fortes, enfatizando a importância de o partido deixar o governo para garantir a autonomia e acabar com a pecha de fisiologista.
Pestana - Recebemos, na segunda-feira à noite (dia 20), a bancada do PTB (com exceção dos deputados Marcelo Moraes e Sérgio Moraes) e os secretários estaduais. Eles trouxeram uma posição unânime da executiva estadual de colocar os cargos à disposição para evitar o constrangimento do governador. E assumiram o compromisso de votar os projetos. O governador entendeu por bem não aceitar a entrega dos cargos. É um problema entre os deputados do PTB.
JC - O que será discutido na reunião de hoje à noite entre o governador e a base aliada?
Pestana - Ocorrerá uma reunião com os líderes às 18h e, em seguida, às 19h, o jantar com a base. Faremos uma discussão sobre as emendas e uma avaliação da conjuntura na Assembleia. Não imagino surpresas. A base reafirmará o apoio ao plano de sustentabilidade financeira.
JC - A briga do PTB colocou em pauta a questão dos CCs. No Executivo, são 1.832. Quais são os critérios estabelecidos para as indicações?
Pestana - É importante afirmar que em todos os governos os CCs são compostos por militantes dos partidos. Não há novidade nisso. A forma de composição é cada partido que define.
JC - Qual é o número de CCs que cada partido possui?
Pestana - Como chefe da Casa Civil, tenho conhecimento dos principais cargos do governo e quais partidos os ocupam. Mas não tivemos a preocupação de saber quantos cargos do quarto, quinto e sexto escalões estão com cada partido. A preocupação é com a qualificação profissional e técnica e com a conduta ética do servidor. A partir desses critérios, negociamos alguns espaços partidários no governo. Depois disso não se fez um controle.
JC - A oposição acusa o governo de distribuir os CCs conforme o valor dos salários.
Pestana - Isso não é verdade. Como o partido vai promover a indicação dos cargos é um critério dele. Se houver alguém que não tenha a capacidade técnica para ocupar determinada função, o governo vai analisar e pode sugerir ao partido que faça uma troca. Se o PTB faz as indicações através dos deputados, é uma questão particular do partido. Como é que o governo vai exigir para si a indicação dos militantes dos partidos?
JC - Dentro do PT, como está a posição das correntes em relação ao pacote? A Democracia Socialista (DS), a qual o senhor pertence, tem integrantes que criticam as medidas.
Pestana - A decisão do diretório estadual foi praticamente unânime. Todos compreenderam a importância desses projetos. Fizemos muitos debates internos e com os parlamentares. O que há é uma resistência de militantes ligados ao movimento sindical. Mas é muito pontual. Esse tema está bastante pacificado no PT.
JC - Como está a análise das emendas? São mais de 40.
Pestana - A maior parte é da oposição. A grande maioria, infelizmente, procura desconstituir os projetos. É uma tentativa de descaracterizá-los. Então, não resta muito a não ser orientar a bancada governista a votar contra. E houve algumas emendas da base aliada que vamos discutir. O governo tem posição favorável em relação a quase todas.
JC - O décimo terceiro salário do funcionalismo corre risco de atraso?
Pestana - Acreditamos que as medidas do governo serão aprovadas pela Assembleia, mas, caso não sejam, isso não vai inviabilizar a administração. Vai nos criar dificuldades, vamos ter menos recursos para investir. O governo fez uma opção, quer investir mais, honrar o piso do magistério, ter mais recursos para infraestrutura e políticas sociais. Por isso, enviamos o plano de sustentabilidade financeira.
JC - E não há nenhuma possibilidade de o governo retirar o regime de urgência?
Pestana - Colocamos a possibilidade de retirada de urgência, desde que houvesse uma alternativa que enfrentasse o problema de sustentabilidade financeira do Estado, mas isso não aconteceu. Se observarmos as emendas, nenhuma delas apresenta alternativas consistentes de aporte de recursos. Não vamos retirar a urgência se não for construída uma proposta melhor do que a apresentada pelo governo.
JC - Haverá reunião do secretariado para tratar do contingenciamento de gastos?
Pestana - Deverá ocorrer na próxima segunda-feira uma apresentação detalhada da situação financeira do Estado, feita pela Secretaria Estadual da Fazenda.
JC - Essa radiografia orientará os cortes?
Pestana - Já estamos tomando medidas. Nos primeiros projetos apresentados em março, já havia ações como a cobrança eletrônica. Formamos uma força-tarefa para a cobrança da dívida ativa. A projeção das despesas está muito vinculada ao que vai acontecer na Assembleia (em relação ao pacote). Isso também informará o tamanho do déficit com que vamos trabalhar no final do ano e, por consequência, a capacidade de investimento que vamos ter. A partir destas avaliações, vamos montar um quadro e apresentar para o conjunto do secretariado.

Perfil

Carlos Pestana Neto tem 48 anos e é natural de Porto Alegre. Formado em Direito pela Pucrs, começou a sua militância no movimento estudantil universitário. É filiado ao PT desde 1983 e servidor concursado da prefeitura da Capital. Se elegeu vereador em 2001, quando foi líder de governo e líder da bancada petista na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Já havia disputado a vaga na eleição de 1996, quando ficou como suplente, e em 2004 não conseguiu se reeleger. Foi diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação de Porto Alegre (Demhab) nas administrações dos petistas Raul Pont e Tarso Genro. Nas eleições de 2010, como secretário-geral do PT gaúcho, Pestana foi o coordenador-geral da campanha que elegeu Tarso Genro e do processo de transição do governo estadual.