Supremo acaba com exigência do título eleitoral para votar

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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira, por 8 votos a 2, que o eleitor só precisa levar um documento oficial com foto na hora da votação. A maioria dos ministros acatou ação do PT contrária à obrigatoriedade de dois documentos - um deles seria o título de eleitor. O partido temia o aumento da abstenção com a exigência. Nos últimos meses, a Justiça Eleitoral fez uma campanha para que a população buscasse a segunda via do título se o tivesse extraviado. A procura se intensificou em setembro.
Mas na quarta-feira, a votação no STF indicava que a necessidade iria cair. Quando o placar já estava 7 a 0, um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes adiou a oficialização da medida. Com isso, milhares de pessoas foram à Central do Atendimento ao Eleitor, em Porto Alegre, buscar um novo título nesta quinta-feira, último dia para a solicitação.
Por volta das 17h, os cartórios receberam a orientação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado para que o aviso fosse dado aos eleitores que esperavam nas filas. Às 18h, a fila se desfez, diminuindo em mais de 500 o número de novos documentos impressos em relação ao dia anterior, que havia sido de aproximadamente 3,3 mil. "Muitas pessoas acabam ficando porque já vieram até aqui", comentou a chefe da Zona Eleitoral 161, Liane Zambrozuski. Junto ao aviso, ela lembrava aos eleitores da importância de ter o documento, ainda que sem obrigatoriedade.
Os que ficaram, como a empregada doméstica Adriana Silva da Costa, enfrentaram uma espera bem menor. Ela telefonou antes de sair de casa, no bairro Rubem Berta, para o TRE para confirmar a obrigatoriedade do documento. Na chegada, após o trajeto de uma hora de ônibus, ficou sabendo da decisão e decidiu encarar os 20 minutos com o marido.
Diferentemente de grande parte dos que chegavam, a pedagoga Gislane Moreira estava acompanhando o noticiário. Quando a decisão do STF saiu, estava na fila há 20 minutos. Em protesto, insistiu na busca pela segunda via do título.

Eleitores reclamam da demora para fazer documento que não será exigido

Michele Rolim
Pessoas desavisadas ou mesmo despreocupadas enfrentaram a espera na Central de Atendimento do Eleitor, em Porto Alegre, para fazer a segunda via do título. Na quarta-feira, penúltimo dia do prazo, em meio ao julgamento do STF, havia um sol de rachar e uma fila quilométrica. Foi preciso muita paciência, roupas confortáveis e água - para alegria dos ambulantes - para aguardar o atendimento.
A primeira tarefa era encontrar o final da fila. Em meio às reclamações, houve quem fizesse o cálculo e pensasse em voltar para casa. "A multa para quem não vota é R$ 3,00. Duas passagens de ônibus custam quase R$ 5,00. Deveria ter ficado em casa", raciocinou em voz alta um jovem.
Nem todos pensavam assim. Alguns inclusive falavam de política, fazendo questão de abrir o voto, quem sabe para buscar adeptos aos seus candidatos. Um senhor grisalho de camisa vermelha provocou debates ao defender a candidata do PT à presidência. "Vamos empossar a Dilma (Rousseff) nem que seja como foi com o Dr. Getúlio (Vargas)".
Em outra rodinha, a defesa era da escolha por gênero. "Eu voto em mulher, é mais confiável. Na outra eleição para presidente, votei em mulher de cabelo comprido (Heloísa Helena, do P-Sol), não lembro o nome". - Só por que ela é mulher? "Achei ela simpática também".
Nas proximidades do acesso à central, outros dois senhores mantinham o seguinte diálogo: "Nas próximas eleições eu vou me candidatar. Posso não ganhar, mas vou fazer aquele discurso inflamado, como (Leonel) Brizola fazia". - Como o Brizola nunca mais terá igual, respondeu um adepto do trabalhismo.
Até o palhaço Tiririca, candidato a deputado em São Paulo, foi alvo de conversa. Alguns se ofenderam quando falaram mal do novo político. "O que é que tem ele ser analfabeto? Não precisa escrever é só ter um secretário", argumentou um defensor. Outra pessoa se intrometeu na conversa com autoridade: "Todos os cidadãos tem o direito de votar e ser votado. Está na Constituição", ensinou, encerrando a polêmica.
Um senhor que se destacava como um dos mais falantes, ao receber a senha, confessou: "Na verdade não perdi meu título. Só quero refazer, o que tenho já está muito velho". O vizinho desaprovou: "Não acredito nisso. O que ele queria mesmo era fazer boca de urna".