Laís Machado Lucas
Diz o ditado popular que o difícil não é chegar ao topo, mas, sim, se manter por lá. Na lógica corporativa, é possível adaptar esse ditado à realidade vivida pelos herdeiros das empresas familiares. Assumir o comando de um negócio não é tarefa fácil, ainda mais em um contexto que envolve, para além da atuação profissional, a manutenção de laços familiares, a preservação do legado de gerações passadas, a gestão de eventuais conflitos e, principalmente, o atendimento de expectativas que costumam ser bem altas.
Para muitos, é um fardo. Primeiro, porque, não raro, existe um senso comum de que a única possibilidade profissional de atuação dos herdeiros é no contexto da empresa familiar. Falta, muitas vezes, o entendimento de que nem sempre os membros da família empresária são os profissionais mais preparados para cargos que envolvem a tomada de decisões estratégicas sobre o negócio, por exemplo. Muitas vezes, os herdeiros não têm aptidão ou interesse em atuar na empresa da família e gostariam de seguir outros caminhos. Mas, em alguns contextos familiares, essa atitude é percebida até mesmo como uma afronta.
O fardo dos herdeiros também se manifesta na pressão por corresponder às expectativas neles depositadas. Ao assumir o comando do negócio da família, além de gerar resultados positivos na empresa, o herdeiro precisa "provar" que está lá por méritos próprios. Em outras palavras: até que o seu lugar esteja consolidado, ele precisa mostrar que chegou à direção da companhia porque está preparado para o cargo, e não por ser membro da família empresária. E essa "prova" precisa ser dada não apenas à família, mas também aos acionistas, aos funcionários, aos clientes e aos demais públicos de relacionamento da empresa.
Mas chegar ao topo do negócio familiar não precisa ser sempre um fardo, já que existem inúmeras ferramentas que podem ser utilizadas pela família empresária. Um planejamento sucessório que considere a característica pessoal e profissional dos herdeiros pode prevenir conflitos, assim como a criação de um Conselho de Administração. O mais importante, contudo, é respeitar a individualidade de cada pessoa a fim de evitar que a responsabilidade de tocar o negócio familiar seja sentida como um fardo pelos herdeiros.
Advogada no Laís Lucas Advogados Associados e professora de Direito Empresarial na Pucrs