Alemanha põe o pé no freio nos negócios e Brasil surge como rota estratégica de mercado

A Alemanha está investindo R$ 1,5 bilhões em projetos de combate ao desmatamento da Mata Atlântica e da Caatinga

Por JC

Andreas Hoffrichter é diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil - Alemanha (AHK Paraná)
Andreas HoffrichterAs relações comerciais entre Brasil e Alemanha estão mais intensas desde o início de 2023 e esta reaproximação promete render alianças fortalecidas para o ano de 2024. Especialmente diante de um cenário econômico desfavorável para o país europeu, que faz com que o empresariado alemão coloque o pé no freio. Para os mais pessimistas, o país corre o risco de cair em recessão este ano e o Brasil surge como aposta alternativa de negócio.Os políticos estão se entendendo bem. Além disso, o Brasil é um dos poucos países do mundo com os quais a Alemanha tem parceria estratégica – firmada em contrato, desde 2008 – e se trabalha para que as relações bilaterais se intensifiquem cada vez mais.Em dezembro último, uma visita do presidente brasileiro e comitiva à Alemanha rendeu a assinatura de 19 acordos de cooperação em diversas áreas: meio ambiente, bioeconomia, política agrícola e combate a fake news, bem como contratos de colaboração ambiental. Meses antes, a Alemanha tinha se comprometido a investir 200 milhões de euros.Parte já foi investida no Fundo Amazônia. Com a visita, o país se comprometeu a investir mais 103,5 milhões de euros. Convertendo para nossa moeda, significa que a Alemanha está investindo R$ 1,5 bilhões em projetos de combate ao desmatamento da Mata Atlântica, da Caatinga, por exemplo. Isso é muito interessante.As incertezas econômicas na Alemanha também podem impactar na vinda de empresas para o Brasil. Assim como o presidente do país e o governador do Paraná estiveram por lá, a tendência é de que nosso país receba muitas visitas em 2024. Elas já se iniciaram, com a vinda de uma comitiva de três médias empresas da Saxônia, do ramo da tecnologia, que participaram de encontros e rodadas de negócios com empresários da região de Curitiba, em dezembro, associados à AHK Paraná.Somos privilegiados. O Brasil é um país afortunado por um clima extremamente benéfico, temos riquezas naturais, uma população jovem, flexível e que gosta de aprender, um mercado interno emergente, um mercado de serviços crescendo muito e uma atração que nos é exclusiva: o agronegócio. O Brasil é um dos maiores exportadores de porcos, frangos, grãos, com forte contribuição do Paraná no segmento. O cooperativismo do nosso estado é um exemplo de país que dá certo.Não é de hoje que o Brasil é um mercado atraente para as empresas alemãs, principalmente no campo da energia renovável, e está muito receptivo a esse tipo de investimento em 2024. Poderíamos ter resultados melhores há bastante tempo. O que nos atrapalha muito é o Custo Brasil. Os impostos são absurdos e ainda temos uma infraestrutura totalmente incompatível com o que precisamos – 90% do transporte acontece via caminhão, há deficiência nos portos e aeroportos do país, assim como na rede de distribuição elétrica.Outro tema que ainda surge como entrave para os investidores alemães é a insegurança jurídica. Nosso Supremo Tribunal Federal (STF) tem um protagonismo exagerado e a sensação é de que o que se assina no governo pode ser revertido a qualquer momento. Isso espanta os investidores alemães e estrangeiros, em geral, que desembarcam aqui com projetos de longo prazo, de pelo menos 5, 10, 15 anos.Sabemos ainda que, em nossa atual gestão econômica, o déficit público está estourado e, quando isso acontece, é certo que teremos problemas futuros relacionados ao controle da inflação. Combinado a isso, temos um governo que se movimenta novamente ao aparelhamento de estatais com políticos aliados, através do BNDES.Exemplo disso foi o fato absurdo ocorrido há cerca de três meses, quando vimos uma das principais empresas brasileiras receber como novos conselheiros indicados pelo BNDES, que nunca tiveram contato ou entenderam de indústria.Isso é um péssimo sinal! Nos mostra que a governança nas companhias estatais está voltando a ser o que era em governos do início dos anos 2000 e que permaneceu por um período de cerca de 15 anos.Contudo, dentro de um panorama global, 2024 deverá ser um ano bom especialmente para as empresas alemãs que escolherem o Brasil para negociar. Estamos em um momento em que novamente Alemanha e Brasil estão namorando e devemos aproveitar as oportunidades para não deixar esta relação esfriar.Diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil - Alemanha (AHK Paraná)

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