Pré-original de Erico Verissimo é um tesouro

Biblioteca Pública do Estado recebeu doação do pré-original que integra obra Solo de Clarineta

Por JC

Cláudia Dornelles Antunes
A Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, uma das instituições da Secretaria da Cultura, recebeu a doação do pré-original que integra a obra Solo de clarineta, do escritor Erico Verissimo (1905 -1975). O datiloscrito foi adquirido em abril pelo presidente da Associação dos Amigos, Gilberto Schwartsmann, e passa a integrar o setor de Obras Raras da BPE.
O exemplar possui 90 páginas e revela o método de trabalho do escritor. Nas páginas, podem ser observadas anotações com tinta vermelha, verde e preta, emendas e até desenhos, ao lado de textos datilografados e manuscritos. O documento, chamado de "pré-original", foi presenteado pelo autor a Carmem Costa, com dedicatória, no Natal de 1973.
Solo de clarineta é um livro de memórias construído em dois volumes. O primeiro foi publicado em 1973. O volume dois, ficou inacabado e foi concluído, postumamente, em 1976, pelo professor e amigo de Erico, Flávio Loureiro Chaves.
A professora e pesquisadora Maria da Glória Bordini especialista na obra de Erico explica que quando ele escreveu Solo de clarineta, atendia a pedidos insistentes de seus editores e amigos. "Na sua costumeira modéstia, não julgava que sua vida merecesse o interesse de seus leitores. Mas, acabado o Incidente em Antares, e com planos de iniciar uma novela sobre Atenas, submeteu-se ao apelo e começou suas memórias".
A pesquisadora conta que Erico tinha lembranças nítidas de sua família e de seus anos de infância e juventude, bem como da trajetória de sua carreira como escritor de ficção. "Quando passou a recordar suas viagens, ele recorreu a cadernetas em que registrara eventos e pessoas, empolgando-se com suas andanças. Essa parte, porém, foi-se alongando cada vez mais, de modo que ele não conseguiu terminá-la. Um enfarte o levou, deixando manuscritos ainda inacabados. Flávio Loureiro Chaves encarregou-se de editar o que ele não deixara em forma final, constituindo várias páginas do segundo volume", relembra.
Erico produzia várias versões de seus textos, antes de alcançar o manuscrito definitivo. Revisava, reescrevia, rasurava, corrigia e tinha o hábito de presentear os amigos com esses prototextos.
A última versão escrita em vida foi sendo datilografada à medida que entregava seu manuscrito, e foi revista pelo próprio Erico. Atualmente, esse original encontra-se no Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro.
Doutora em Letras e jornalista, trabalha na Biblioteca Pública do Estado