Hipócrates, Demócrito e a loucura

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"De que ris, Demócrito? Das coisas boas ou más?". Essa foi a pergunta de Hipócrates (460-377 a.C.) ao encontrar o sábio grego debaixo de um plátano, após ser chamado pelos cidadãos de Abdera para curá-lo. O diálogo completo está no conjunto de epístolas intitulado Sobre o riso e a loucura. A resposta surpreenderia Hipocrátes de Cós, o pai da medicina grega.
O sábio responde que a causa de seu riso "é a falta de razão que preenche o homem ou, em outras palavras, a vacuidade que há nas suas ações corretas". A ganância, os desejos exageradamente buscados, as emboscadas e traições praticadas pelos homens, as inimizades que cultuam, as invejas recíprocas, tudo isso é pauta para a mente de Demócrito se deleitar em risos. Em tempos em que se clama por atitudes sem razão específica, o discurso de Demócrito nos mostra o quanto estamos anestesiados. Pensa-se em impeachment, em golpe, em manifestações contra ou a favor da presidente, no desgaste da corrupção revelada pelo caso Petrobras, enquanto a formulação de soluções é delegada a governantes que parecem estar num campo de batalha.
Não estão entrincheirados em valas, mas, sim, em problemas. Mesmo conhecendo a conturbada situação financeira-política-institucional, alguns ainda buscam desordenar o que já está bagunçado. Acabam fazendo oposição à própria reestruturação estatal. A quem interessa isso? Se Demócrito estivesse vivo, certamente estaria rindo.
Estudante de Direito