Sobre a despoluição do Guaíba

Por

Desfrutei de uma infância feliz. Foi em Porto Alegre, no Alto da Bronze. Lá, entre brincadeiras, despertei o amor pelo Guaíba, rio onde aprendi a nadar e remar. Os porto-alegrenses dos anos de 1960 conviviam envolvidos por ele. Foi doloroso vê-lo desaparecer da vida cotidiana. Mas nunca o esquecemos. Ninguém vive às margens de rio tão maravilhoso sem ser tocado por sua energia.
Assim, permanece nas almas de quem mora na Capital a vontade de despoluí-lo. Por isso, o projeto Socioambiental, visando a tratar o esgoto doméstico da cidade, é saudado com muita expectativa. Lá se vão 14 anos neste empreendimento. É tempo para ser aproveitado no sentido de levar ao conhecimento da população o grave desafio que representa a poluição hídrica. Antes de tudo, ao enfrentar a poluição das águas internas, é preciso entender, como unidade de análise, a bacia hidrográfica. A do Guaíba é constituída (em volume d'água) pelos afluentes Jacuí, Sinos, Gravataí e Caí, desaguadores das respectivas bacias.
O segundo passo é distinguir as formas de poluição, que podem ser: física (corpos estranhos), química (efluentes industriais), bioquímica (insumos agrícolas), biológica (esgoto sanitário) e radioativa. O trabalho para despoluir cursos d'água exige conjunto entre o público e privado, fundamenta-se em tratar efluentes industriais, domésticos e exercer práticas agrícolas sustentáveis.
Fixando a questão no estuário Guaíba, fica patente o gigantesco volume d'água e grande área superficial de escoamento, indicando capacidade para assimilar volumosa carga de poluição orgânica. Porém, lenta escoa a água e, dentro dos limites da sua bacia, localiza-se a maior parte do parque industrial do Estado, 2/3 da população estadual e importante atividade agrícola. Despoluí-lo é tarefa hercúlea, missão para gerações. Serão necessárias ciência e vontade no esforço de estabelecer o Guaíba como manancial capaz de garantir o abastecimento público (doméstico, industrial, agrícola), aliado à disponibilidade para o lazer, esporte, indústria da pesca, com fauna e flora natural. Eu espero.
Engenheiro, ex-coordenador técnico do programa Guaíba-Vive