Sobre altruísmo, solidariedade e egoísmo

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Nas palestras em que aprofundo sobre a complexibilidade do universo feminino, reflito com o público sobre o altruísmo que envolve muitas profissionais, amigas, mães e esposas nas suas atividades diárias. Alerto que cuidar do próximo, mesmo que seja da família, antes de si mesmo, tem consequências que comprometem o projeto de vida pessoal e as relações sociais sadias.
Altruísmo é sinônimo de desinteresse e abnegação, o fim da conduta humana ao posicionar o amor pelo outro e o viver para os outros acima de si mesmo. Em dado momento, a prática altruísta expande da teoria e pede restituições. O chamado altruísmo feminino parece ser uma construção histórica que nos coloca como manipulados fantoches que devem demonstrar sempre bondade, amor, ternura, solicitude, maternidade complacente e ainda aceitar relações unilaterais. Forçar o organismo a ingerir física ou psicologicamente aquilo que a ele causa danos, às vezes irreparáveis, podem ser atitudes assim chamadas "altruístas" que, porém, somatizam em estresse, depressão e doenças diversas. Verdadeiros suicídios conscientes ou inconscientes.
Entendemos que, em qualquer tratativa, deve haver solidariedade, reciprocidade, jamais altruísmo. Solidariedade é bom, reforça as relações de responsabilidade e é diferente de altruísmo. A prática do altruísmo é um dos erros cometidos pelas mulheres em suas rotinas, e costuma estar relacionada com a condenação do egoísmo. Quando comento o assunto ao público, narro uma experiência própria que vivenciei no sítio serrano em que resido. Nele, há mata nativa, lagos, pássaros, ninhos na janela, paraíso. Decidi, há alguns anos, adquirir alguns animais para desfrutar comigo deste oasis: gansos, um cavalo e uma vaquinha Jersey. Olhando no entorno percebi plantas consideradas tóxicas no jardim e me preocupei com a possibilidade de causarem danos aos meus novos amigos. Passei então a observá-los. Pasmem! A natureza é de fato sábia. Eles não tocaram naquelas plantas que lhes causaria dano, ao invés devoraram hibiscos, rosas, dracenas, folhas tenras de palmeiras ornamentais, pêssegos e bananeiras (folhas e frutos). Fiquei encantada com esta lição de vida. A comparação deixa a mensagem de que os animais sabem discernir o que é bom daquilo que é veneno para a sua saúde. Nós, humanos, nem sempre. Amar o próprio projeto e amar a si mesmo.
Palestrante e escritora