Crise hídrica é eufemismo para racionamento

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Ninguém pode prever a forte instabilidade climática que atingiu não apenas o Brasil, mas outros países ao redor do mundo. Tivemos cheias, nevadas, calor e, no nosso caso, uma falta de chuvas que secou os reservatórios. Mas isso é incomum? É a primeira vez que acontece? Não haveria como planejar mais reservatórios suplementares ou algum outro esquema de fornecimento de água? As prefeituras e os estados não têm qualificados corpos técnicos? Agora, o termo eufemístico para o problema chama-se crise hídrica. Para a maioria dos pobres habitantes das cidades atingidas, é simplesmente falta d’água, racionamento certo. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que, com o ritmo atual de chuvas e sem tendência de melhora, São Paulo corre um risco fortíssimo de ver o sistema hídrico secar. Para Skaf, o governo estadual não fez as obras necessárias para evitar o problema, nem teve a atitude transparente para alertar a população sobre a gravidade do problema, que “passou da irresponsabilidade deixar essa crise chegar onde chegou”.
Sabemos que, para o governante previdente, tudo tem uma ordem de preferência na administração pública. Para os néscios, há desordem em tudo. Por isso, não é sofrer as agruras da falta de água que incomoda, mas viver padecendo sem ter uma previsão de planejamento sério para décadas à frente, uma redundância para prever. A transposição das águas do rio São Francisco, algo previsto desde o imperador D. Pedro II, até hoje não foi concluída. Está certo, é uma obra que popularmente chamamos de faraônica, mas como as pedras das pirâmides e sua ainda desconhecida remoção e colocação nas pirâmides de Queops, Quefren e Miquerinos, em Gizé, não sabemos como remover os obstáculos que atrasam o projeto.
Na recente primeira reunião com o seu grupo de 39 ministros – um exagero burocrático –, a presidente Dilma Rousseff (PT) pediu que a gestão e a transparência sejam o apanágio do seu segundo mandato, o qual, para alegria do povo e felicidade geral da nação, espera-se seja bem mais fecundo, começando por superar a letargia econômica do País. Não é crítica nem má vontade, apenas constatação do que está ocorrendo. Enfim, a crise hídrica não pode ser escondida debaixo de um termo técnico para explicar a falta d’água recorrente em São Paulo. Mesmo que se dê o desconto de que a maior cidade da América Latina é cortada por um Tietê considerado infecto e que não tem condições de abastecer nem um vilarejo no entorno da pauliceia, hoje considerada desvairada pelo que a sua população vem sofrendo.
Água potável encanada, eletricidade e banheiros, totalmente incorporados em nossas vidas há mais de 70 anos, são conquistas que trouxeram mais saúde e qualidade para o cotidiano de milhões de brasileiros. Ainda não é um modelo universalizado neste Brasil continental, mas precisamos planejar, executar e esquecer programas de governo para transformá-los em modelos estatais de planejamento e infraestrutura. Enfim, os governantes devem pensar em nome da população para beneficiar a todos. É o que falta, além da água, nos poderosos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.