O desprezo pela língua portuguesa é de assustar

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Certamente que os adeptos do modernismo sendo adotado a qualquer preço rebaterão as críticas ao péssimo ensino de português como algo anacrônico, até mesmo reacionário. Afinal, o mundo anda apenas para frente. Porém, há controvérsias e é de assustar quando se sabe que 529.373 candidatos tiraram nota zero em redação na edição de 2014 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na outra ponta, 250 obtiveram a nota máxima. O tema da redação foi “Publicidade infantil em questão no Brasil”. Na edição de 2013, com menos inscritos, 481 tiveram nota mil e 106.742 redações receberam nota zero.
Em 2014, dentre os que zeraram a redação, 13.039 copiaram textos motivadores da prova; 7.824 escreveram menos de sete linhas; 4.444 não atenderam ao tipo textual solicitado; 3.362 zeraram por parte desconectada e 955 por ferirem os direitos humanos, segundo dados oficiais. Outras 1.508, por motivos diversos. Para quem ainda estudou nos ciclos completos com cinco anos de Primário, quatro anos de Ginásio e três anos com Clássico, Científico, Magistério, Técnico em Contabilidade ou mesmo Secretariado e Economia Doméstica para as meninas de então, é de espantar. Afinal, havia muitas aulas de português, com ditado, redação e leitura. E os erros de português eram descontados nas provas das outras matérias, como matemática, física ou química, além, é claro, de história e geografia.
Tudo indica, está chegando no mercado dos exames classificatórios a geração que se comunica pelas redes sociais e nas quais, tudo está provando, o que menos interessa é usar a língua portuguesa de acordo com as regras gramaticais vigentes. Isso explica o gargalo pela mão de obra desqualificada, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o baixo nível da educação nacional. Hoje, parece que alguns fingem que ensinam e a maioria finge mais ainda, dizendo que está aprendendo. Para a CNI, o País não consegue educar essa população jovem para ela ser mais produtiva.
A desculpa para o fraco desempenho em redação seria a diferença dos temas usados. No entanto, o que têm a ver os erros grosseiros, motivo até de deboches pelas mesmas redes sociais, com isso? Em que lugar cabe não saber escrever corretamente ou não ter uma ideia básica para discorrer sobre o tema pedido? Lei Seca ou publicidade infantil, os temas de 2013 e 2014, são de abordagem normal, desde que os alunos tenham o hábito da escrita e da leitura, o que não está acontecendo há anos. Segundo o Ministério da Educação (MEC), foram corrigidos 5.934.034 textos, dos quais 2.695.949 foram encaminhados a um terceiro corretor e outros 283.746 foram avaliados por banca de especialistas.
A correção da prova de redação avalia cinco competências: domínio da norma padrão da língua escrita; compreensão da proposta de redação; capacidade de selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista; conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação; elaboração de proposta de intervenção para o problema abordado, respeitados os direitos humanos. Então, aí está explicada a razão de tantos zeros na redação: falta aos alunos de hoje lerem e escreverem mais. Bem simples assim.