Mea-culpa varejista

Por

Nos últimos meses, recorrentes casos de contaminação em alimentos têm redundado na retirada de lotes de produtos das gôndolas, o que coloca em alerta os consumidores brasileiros. Ao contrário do que possa parecer em uma primeira análise, a classe supermercadista saúda estas medidas preventivas, que evidenciam a eficiência crescente dos órgãos de fiscalização e a preocupação dos órgãos públicos com a segurança alimentar dos consumidores – que também é prioridade para os supermercadistas. Nenhum supermercado tem interesse em comercializar produtos adulterados ou impróprios para consumo, por isso estamos todos do mesmo lado nesta batalha. Ainda que a excelência da vigilância sanitária deva ser saudada, precisamos fazer o nosso mea-culpa e avaliar o contexto, sob o prisma do varejo, em que estas situações estão sendo desencadeadas.
Recentemente, por exemplo, uma rede supermercadista gaúcha anunciava a venda de um pé de alface por R$ 0,09, o que evidentemente atraiu os consumidores. Entretanto, mais que competir preços com seus concorrentes, o setor deve avaliar a disputa de mercado com olhos no futuro: se uma hortaliça é vendida a este preço na ponta, é sinal de que o produtor rural não está agregando valor ao seu negócio. E, quando o homem do campo não tem poder de investimento, sua subsistência está em risco; o futuro da cadeia do abastecimento está em risco; e a segurança alimentar dos itens que este produtor fornece também está em risco. Assim surgem escândalos em setores como o do leite, cuja bacia gaúcha sempre foi referência mundial, e outras problemáticas que só serão sentidas a médio e longo prazos, como o êxodo rural e a partida dos produtores dos campos para as cidades.
Por isso, para evitar que aniquilemos o homem do campo, está na hora de o varejo fazer a sua parte, valorizando o setor primário. É preciso que o segmento supermercadista seja fiscalista e exija qualidade de seus fornecedores, mas que também esteja disposto a pagar o preço por isso: o velho adágio não erra, e muitas vezes o barato pode acabar custando caro. As relações de confiança e olho no olho ainda são, afinal, mais eficientes do que qualquer rastreabilidade: são garantidoras da segurança alimentar dos produtos que vão para as casas dos gaúchos.
Presidente da Associação Gaúcha dos Supermercados