O futuro energético e a maldição do petróleo

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Em discurso na 44ª Conferência sobre as Américas, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, destacou um fato relevante, qual seja, a transferência do centro do mapa energético mundial do Oriente Médio para o continente americano, que responderá por dois terços do aumento da produção mundial de petróleo nos próximos 20 anos. Nesse contexto, deve ser considerada a implacável maldição do petróleo, que já afeta, na América Latina, os maiores países produtores dessa commodity mineral, ou se aprofundará ainda mais em alguns desses países. Afinal, a riqueza mineral não assegura a estabilidade nem a prosperidade, como bem demonstrado pelo cientista político Michael Ross em sua obra The Oil Curse (A Maldição do Petróleo), chegando, em alguns casos, a patrocinar até guerra civil (Nigéria, Argélia etc).

Com efeito, nos países sob comento, os quais auferem expressivas divisas com o petróleo, e/ou tem um futuro promissor na extração de riquezas minerais, todos eles caracterizados por administrações corruptas, com a indústria petrolífera controlada pelo Estado, de forma direta ou indireta, a gestão é ineficiente e atrelada a interesses escusos. São velhacos incrustados no Estado e em empresas estatais, para a felicidade de seus parceiros na iniciativa privada. Nesse caso, a geologia favorável patrocina políticas públicas contrárias aos interesses da sociedade, sendo exemplo dessa assertiva a Venezuela, onde as exportações petrolíferas equivalem à metade da receita do país. A produção da estatal PDVSA caiu 25% desde 1999, tudo em meio ao crescente populismo e a proliferação da miséria, realidade oposta à da Noruega, que escapou da imprecação em tela, em razão de possuir um povo esclarecido e governos honestos e eficientes. Nesse país nórdico, a receita advinda do petróleo é poupada, o que impede a distorção dos fundamentos econômicos e a pressão inflacionária sobre a demanda.

Advogado