Será que só faltam médicos?

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Os defensores do programa Mais Médicos acreditam que médicos estrangeiros trabalhando no Brasil resolveriam o atendimento em algumas regiões do País. Isso, porém, não se sustenta, já que no Brasil temos quase 1.8 médicos por mil habitantes, enquanto a OMS considera suficiente um médico para cada mil. O que está faltando, portanto, é apenas uma melhor distribuição dos médicos deste país, o que ainda não foi feito por falta de vontade política; nos governos Lula, em que se dizia estar a saúde beirando a perfeição, nada se fez de maneira eficiente, e, em dez anos, ainda se baixou de 56% para 45% o total investido na saúde pública.
Por tal motivo, acredita-se que o Mais Médicos poderá não passar de um remendo, já que antes de ser lançado ninguém providenciou a construção de mais hospitais, o aumento de leitos e emergências, mais UPAs, a liberação de mais recursos e a criação de um plano de cargos e salários.
Críticas da World Medical Association e da Confederação Médica Latino-americana lembram que o governo brasileiro deveria ter, antes de tudo, aumentado o baixo investimento que faz na saúde, pois gasta U$ 466,00/per capita, enquanto a média das Américas é de U$ 1.682,00; contratar médicos estrangeiros sem revalidar diplomas, utilizando, assim, profissionais de “competência questionável”, parece visar mais a interesses político/eleitoreiros que ao nosso atendimento universal à saúde.
A alegação de que no Brasil temos poucos médicos estrangeiros em relação a outros países é apenas um mau argumento para justificar o que se pretende fazer; nesses outros países, ninguém trabalha sem revalidar diploma! Espera-se agora que o Ministério da Saúde, que nos últimos 12 anos subfinanciou o SUS deixando de aplicar R$ 94 bilhões, segundo o CFM, não venha depois, por conta de seus descuidos, responsabilizar a categoria médica pela provável falência desse açodado programa de atendimento.
Médico e ex-superintendente do Grupo Hospitalar Conceição