Ser diferente nem sempre é normal

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Novela em exibição na tevê mostra casal gay que quer ter um filho. Desejo natural em qualquer pessoa. Só que o ente a ser concebido/manipulado o será a oito mãos. Primeiro se junta o sêmen dos dois parceiros, coloca-se a mistura num óvulo de uma clínica de fertilização, põe-se o produto numa barriga de aluguel por nove meses em temperatura ambiente. Ao fim se terá um ser humano. Será que esse  ser quer sua história assim? Sou adepta do viver e deixar viver, do cada um determine o seu destino, não temo mudanças, mas não abro mão do bom-senso nem concordo com o uso de terceiros para satisfações pessoais. Manifestações artísticas que pretendem o cruzamento da fantasia com a realidade precisam cuidar dos efeitos colaterais de tais elucubrações. Os parceiros da ficção, como muitos da vida real, querem que na certidão de nascimento da pessoa fabricada conste o nome dos dois pais gays como genitores. Nomes que designam pessoas do sexo masculino. Será estranho, para não dizer constrangedor, a pessoa  em situações de identificação ter que responder: nome da mãe? Teobaldo, Bráulio, Henrique. Ou no RG constar: filiação - Hermenegildo Silva e Wenceslau Santos, por exemplo. É preciso proteger e respeitar os sentimentos alheios.
Se os parceiros têm tão boas condições financeiras para empreitada tão dispendiosa e tanto amor para distribuir, adotem alguém já pronto e acabado. Que conste na certidão de nascimento o nome de um dos parceiros e o outro seja o padrinho, o tio. Deem-lhe educação e afeto. A saúde mental do adotado agradece.                      
Advogada e professora de Psicologia