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O sistema monetário de Mefistófeles
Fausto é uma obra única no seu gênero, escrita por Goethe (1749/1832). O personagem que dá nome à trama é assediado por um demônio, Mefistófeles. Em um dos enredos, o persuasivo Mefistófeles aparece com a proposta de transformar papel em dinheiro. Neste poema trágico, o imperador endividado, “cheio do eterno como e quando”, e com falta de dinheiro, assina notas que fazem o consumo disparar e, assim: “metade das gentes só querem comer bem/a outra metade só quer ostentar novos trajes”. E somente depois de Mefistófeles e o seu parceiro Fausto desaparecerem é que alguém repara que o valor das notas não corresponde a qualquer equivalente real, ou seja, não existe um lastro em ouro num cofre, e, sim, a promessa de ouro que ainda é preciso extrair da mina.
Fausto é leitura obrigatória no Ensino Fundamental em todas as escolas alemãs, não é então, à toa, que Angela Merkel e os alemães se preocupam com a atual crise. Para os comtemporâneos que leem Goethe, os paralelos não passam despercebidos, a história de Fausto traz à tona o capital necessário para impulsionar a revolução industrial, e hoje, passados quase dois séculos, as suas advertências voltam a ser relevantes para as inúmeras figuras públicas teutônicas que se aproveitam de Fausto na formulação de suas preocupações relativas à crise na União Europeia. Assim como o tesoureiro do imperador no poema de Goethe, o alerta parece já ter sido dado. Se um banco central tiver o poder de cunhar dinheiro sem limites, a partir do nada, como poderá esse banco garantir que o dinheiro é suficientemente reduzido para manter o seu valor? Inevitalvelmete a tentação existe, sem dúvida, e boa parte da história monetária cedeu a ela. O papel-moeda sem dúvida trouxe-nos impulsos positivos enormes, pois a escolha entre o benéfico e o maléfico está indubitavelmente a cargo da humanidade, e aos alemães, leitores de Fausto, nos parece que não querem carregar a palavra Schuld, que na terra de Goethe significa tanto dívida monetária como culpa moral.
Economista