Um sinal para o “start” da dolarização?

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Na década de 1990 tivemos nas Américas um processo disseminado de dolarização. Na Argentina com Menen, no Brasil com FHC com a instituição do Plano Real através de medida provisória reeditada reiteradamente. Com o artigo intitulado Guerra das Moedas e os demais que se seguiram, de 1997 em diante, combati ardentemente este sistema em virtude que o dólar era uma das moedas com câmbio mais alto na ocasião. Supus, no corpo do próprio artigo, que o sistema só daria certo se os americanos fizessem uma maxidesvalorização do dólar. Em 2004, através do artigo Câmbio, juros e política econômica, previ o início do estabelecimento da tentativa de implantar um “currency board” em baixa. O dólar iniciou o seu mergulho como previsto. Em 2007, através do título publicado “Dólar: o portal para o mercado” previ, com perfeita exatidão, a crise na Europa sob o assédio da queda do dólar. Abri o artigo com a expressão: “A aparente fraqueza do dólar é sua real força.” De lá para cá continuo afirmando e não arredo um centímetro no que tenho dito. O dólar pode ter oscilações endógenas (no seio das nações) para cima ou para baixo, mas de forma exógena continuará a cair até sua disseminação total num regime de currency board em baixa. Foram os anglo-saxões que inventaram o jogo de pocker em que são testadas as capacidades de argúcia dos contendores. O blefe é a quinta-essência da dissimulação com maestria. Assim é que o recente affair do Congresso e sua maioria republicana que não autorizavam ao democrata presidente Obama o aumento do nível de endividamento, na realidade, tem como substrato de verdadeira leitura e tradução, o início do processo de implantação da dolarização por um sistema em baixa. A ameaça de default faria com que os dólares perdessem seu efeito bumerang de voltarem para serem reinvestidos em títulos americanos agravando ainda mais a dívida americana. A partir da ameaça eles passariam a refluir para o sistema internacional voltando a alimentar o sistema de parking ou start para um currency em baixa.
Quando os dirigentes das demais nações totalmente cativas do sistema do dólar tiverem a percepção de que a sobrevalorização de suas moedas ultrapassa os limites suportáveis possíveis às suas vantagens comparativas (câmbio, carga tributária, regulação, gargalos de infraestrutura etc) embretados pelo processo de desindustrialização, desemprego e importações passarão gradativamente a voltar ao regime vigente na década de 1990, nas Américas e demais plagas do planeta, agora não em alta, mas na baixa, que gradativamente levará a uma estabilização dos mercados. A Argentina e seu povo já cultuam este sistema. Eis o furo da bala e da coreografia econômica que ninguém entende. Tenho dito.
Professor de Relações Internacionais e Direito Constitucional/Pucrs