Bons tempos

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Em encontro com amigos da adolescência, recordei velhos tempos de ginásio no Colégio Rosário de Porto Alegre. Década de 1960. Era uma época de sabores, hábitos e comportamentos diferentes. De “antigamente”. Chegamos a importantes conclusões: uma delas é que somos do tempo em que chocolate era “chocolate”. Que caráter tinham aquelas barras, que aroma! Os chocolates das matinês de domingo no Cine Ypiranga da Cristóvão Colombo eram maravilhosos. Além dos dois filmes, o programa da tarde incluía um curta do Gordo e Magro. Era covardia. E as várias marcas e tipos de chocolates? Todos com cheiro e gosto de chocolate. Hoje, o “produto” carrega na gordura hidrogenada e no açúcar. Do original, talvez só a cor. Mas também lembramos da economia da época: eram comuns açougues embrulharem carne em jornal. 
A manteiga era saborosa mas escassa. Precisava-se enfrentar longas filas na madrugada, diante do Mercado Público, para se adquirir um tablete. Hoje a manteiga é farta mas muitas não têm o perfume característico, penetrante, que se espalhava pela casa. O leite em garrafa tinha muita consistência e, inclusive, cor de leite. Dava até para se fazer alguma nata, de tanto leite “real”. O atual é pobre e praticamente sem valor nutritivo. E muita gente nem isso tem: um copo de leite, mesmo o similar. Em nossa infância de garotos urbanos adorávamos andar de bonde e passear no Centro de Porto Alegre. Hoje, ficamos apreensivos quando nossos filhos têm que passar pelas ruas centrais da cidade. Depois de cursado o Primário, mesmo em um pequeno grupo escolar, como o antigo Marechal Floriano Peixoto, todos os estudantes daquele tempo sabiam ler e entender o que estava escrito no livro, no jornal. Com novos métodos de ensino em várias escolas de Porto Alegre, mesmo depois de alguns anos, muitos alunos não sabem ler. Naquele tempo, quando se questionava algo dito por um amigo ou colega de escola, a gente perguntava: “É a sua palavra de honra?” Em caso afirmativo, a dúvida era desfeita e o assunto encerrado. Havia confiança. Também existia a palavra empenhada apenas pelo “fio de bigode”. Existia a mentira, mas os mentirosos ficavam corados. Existia muita vergonha na cara.
Assessor de Comunicação da Polo/RS, Agência de Desenvolvimento