Razões pacifistas

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Está em andamento intenso debate acerca do método adequado para a regulação das substâncias entorpecentes. Dartiu Xavier, professor de psiquiatria na Unifesp, publicou, ao longo de sua carreira acadêmica, artigos nos quais analisa a possibilidade de que a maconha sirva como substância apta a reduzir os danos causados pelo uso compulsivo de crack. No Estado, Marcos Rolim reverberou tais pesquisas, afirmando que a maconha pode servir de “porta de saída” para o uso problemático de crack, em franco questionamento às teorias que sugerem que a canabis sativa seria a “porta de entrada” da toxicomania. Ronaldo Laranjeira, professor de psiquiatria da USP e pesquisador vinculado ao ideal de abstinência que é fundamento da chamada “guerra às drogas”, prontamente questionou tais pesquisas, de modo que a polêmica foi instaurada.Crê-se que não é esse o foco da questão. Pouco importa se as “drogas” fazem “mal” à saúde. Por um lado, porque, mesmo as proibidas circulam por nossa sociedade; por outro, porque da constatação de que certa substância é nociva à saúde não deriva a necessidade de sua proibição. Do contrário, teríamos que defender a proibição do álcool, do cigarro, dos alimentos gordurosos etc.
A análise sobre a maneira pela qual o mundo deve controlar a circulação das “drogas” deve levar em consideração os efeitos colaterais da atual política, que é a responsável pela violência letal com a qual convivemos diariamente. A busca por uma nova política de drogas é uma das principais questões do século XXI por razões pacifistas, pois significa, ao cabo, um decreto de paz. Trata-se de, ao buscar soluções de controle inteligentes, que abdiquem das fardas e dos fuzis, interromper o ciclo de violência que está a assassinar e a encarcerar os “meros serviçais do narcotráfico” das periferias do mundo.
Advogado criminalista