Hospital da Restinga é exemplo de parceria público-privada

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O ministro José Gomes Temporão esteve na Restinga para o lançamento da pedra fundamental do hospital daquele populoso bairro. Atenderá a 120 mil pessoas. É daquelas chamadas antigas reivindicações. A Restinga veio no rastro da Vila Mapa, sigla do extinto Movimento Assistencial de Porto Alegre, sob a liderança da primeira-dama da Capital, após as enchentes de 1967. Era, então, a velha Restinga. Nomeado prefeito em 1969, o engenheiro Telmo Thompson Flores visitou a área em uma manhã ensolarada e disse aos seus auxiliares que ali seria erguido o maior conjunto habitacional popular de Porto Alegre, com água, luz e equipamentos básicos. E assim foi, sendo o núcleo dividido em blocos, com arruamento, praças, espaço para escolas e um ginásio comunitário. O local, com as dificuldades de transporte coletivo da época, era distante dos serviços públicos e privados. Tanto que os dirigentes do Departamento Municipal da Habitação (Demhab) abriram inscrições para os interessados nas pequenas casas de alvenaria, mas constataram menor interesse. Muitos foram para lá e, pouco tempo depois, desistiam e deixavam as habitações. Mesmo assim, gradativamente, a Restinga, a popular “Tinga”, foi se tornando um bairro onde os serviços públicos e particulares iam sendo implementados. No entanto, não apenas na Restinga, mas em toda a zona Sul, havia a lacuna de um hospital mais próximo do que o sempre procurado Pronto Socorro (HPS), erigido pelo visionário Loureiro da Silva em 1944. Nos últimos 20 anos quase todos os prefeitos que passaram pelo Paço dos Açorianos prometeram um hospital para a zona Sul. Somente um hospital de média complexidade solucionaria a doença crônica da ausência de um nosocômio na Restinga e adjacências. Pois agora, com os problemas levantados com instituições de filantropia nas áreas da saúde e educação, uma nova legislação foi feita, com exigência de parceria e o retorno do valor da renúncia fiscal em obras sociais. Daí que, através do renomado Hospital Moinhos de Vento (HMV), que surgiu nas primeiras décadas do século XX com o apoio da comunidade alemã porto-alegrense, a Restinga terá o seu hospital. Localizado a 30 km do Centro da Capital, com 90 leitos, exigirá investimento de R$ 50 milhões. No País são apenas seis hospitais considerados de excelência e o Moinhos de Vento é o único fora de São Paulo, incrivelmente.
O atendimento será nos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS), inteiramente grátis e com todos os modernos exames para diagnóstico disponíveis. Então, quando tanto se maldiz os serviços públicos e os políticos, faz bem saber dessa iniciativa. Uma escola de saúde com 60 vagas está formando os primeiros alunos e haverá 250 empregos. Pela imprensa, soube-se que o prefeito Fogaça disse que as pessoas foram levadas para uma Restinga sem as mínimas condições. É injusto porque se esqueceu de que a Restinga de hoje nada tem a ver com a Restinga do início da década de 1970. Ou queriam que se fizesse um conjunto popular no prolongamento da Borges, talvez no fim da Rua da Praia? A chamada Vila do IAPI agora é quase central e, quando foi erigida, era longe do Centro e não tinha o Conceição nem o Cristo Redentor. Não se poderia, há 36 anos, construir um conjunto habitacional pronto e acabado em todos os sentidos. Tanto que o Distrito Industrial ainda está sendo montado e lotes são oferecidos para novos empreendedores. Mas, enfim, o que interessa é que a Restinga e a zona Sul terão o seu sonhado hospital. Mesmo com 30 anos de espera. Antes tarde do que nunca.